Capítulo 8

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Loris abriu um grande sorriso para mim. Daqueles que você até perde o ar, e eu apenas ri me sentindo estranhamente feliz por ela ter gostado.

– Eu não sabia que você escrevia bem assim – ela disse e colocou no bolso.

– E eu não escrevo.

– Não precisa esconder seus talentos de mim Liv – ela me olha de um jeito estranho, como se estivesse me analisando, seus olhos descem para as minhas roupas e depois sobem para os meus olhos.

– Meu talento agora é ficar de castigo.

- Você ta de castigo, por quê?

– Porque quando nós saímos, eu não avisei ninguém e não atendi o celular – falei.

– Não queria ter te prejudicado  – ela diz chateada e eu nego.

– Não, relaxa, eu faria de novo então – dou de ombros e ela começa a rir.

– Vamos sair? – ela pergunta de repente e eu balanço a cabeça.

– Não, eu to de castigo.

– Mas eu não disse hora – ela levanta umas das sobrancelhas e dá um sorrisinho – De madrugada, quando todos estiverem dormindo estaremos nós duas acordadas, pode ser?

– Pode sim – eu concordo.

– Então até mais tarde Liv – ela acena e se afasta.

Eu saio da janela e sento na cama, é como se eu tivesse saído de uma montanha russa, só pelo fato de saber que hoje a noite vou sair escondida, minhas mãos tremem, e eu me sinto uma ridícula por isso.

Abro meu guarda-roupa, e todas as roupas parecem sem graça demais e infantil, quando eu tinha catorze anos eu era emo, mas quem não era com essa idade né. Depois disso minhas roupas se basearam em calças jeans, camisetas e all star.

Nada muito fora do comum.

Minha mãe me ligou de tarde perguntando se estava tudo bem e eu respondi que sim, e que vou ficar mais de dez dias, ela surtou e perguntou se eu conheci alguém, eu falei que não, eu menti.

Um tempo depois meu pai entrou no meu quarto querendo conversar, diz estar se sentindo culpado.

– Pai não estou brava com você e nem nada, e você está no seu direito e o que eu fiz não foi legal também – digo pela milésima vez.

Ele suspira e concorda.

– Tá bom, mas então – ele para de falar e quando percebo, ele está lendo o papel que Loris me escreveu, e volta a me encarar – Você está gostando de alguém? – ele pergunta calmo.

Mas sei que tem medo da resposta,  sei o que ele queria perguntar exatmente. Você está gostando dela Liv?

– Não – eu respondo e não minto, é meio confuso isso. – Não to pai, por quê?

– Não sei, a gente nunca conversou sobre isso, e eu queria saber.

– Verdade – respondo e ele se levanta.

– Tenho que ir trabalhar agora, se cuida filha – ele me beija na bochecha e sai do meu quarto, fico apenas observando.

Sempre foi assim, eu venho para cá e no terceiro ou quarto dia nós saímos, e o resto dos dias ele só trabalha e eu o vejo no café ou na janta. Mas eu nunca achei ruim isso.

Acho que só pelo fato de eu estar aqui muda tudo, estamos longe um do outro e não se vemos durantes horas, mas sei que uma hora ele vai chegar e eu vou ve- lo por alguns minutos e iremos ter uma breve conversa, e vale a pena tudo isso.

Quando estou no Brasil, mal conversamos pois ele nem pega muito no celular, eu geralmente mando um email e espero a resposta alguns dias depois.

Até hoje eu nunca soube o porque do divórcio dos meus pais, e também não lembro por ser nova demais na época, mas eu tenho duas versões na minha cabeça feita por mim obviamente.

A primeira é que o meu pai a amou muito, mas isso não foi o suficiente, ela queria mais, sempre foi uma mulher com génio forte e muito pra frente, que gostava de se aventurar e viver na adrenalina, então ela decidiu dar um basta porquê o amor proposto por ele não estava dando conta de sua virtude intensa.

E a segunda versão é que meu pai sempre foi um homem muito nos trilhos, muito certinho e não aceitou o jeito da minha mãe,  preferiu se distanciar dela quando viu que o casamento não mudaria seu jeito de ser e viver.

Talvez seja uma mistura de ambas versões.

Quando a noite chegou ela trouxe-me uma geada de emoções, que por um momento eu achei que não conseguiria sair escondida, por estar aflita demais.

Eu fiquei olhando o relógio a cada minuto, e suspirando como se fosse um erro. 23: 45, 23:49: 23:54, 00:00. Quando deu a hora eu me apressei rapidamente para fora do meu quarto, tentando não bater às portas e nem fazer barulho de passos.

Quando cheguei na calçada de casa eu soltei o ar, o segurava sem perceber. Fiquei encostada no muro mexendo a perna um pouco inquieta.

E eu fiquei assim durante uns bons minutos. Um grupo de amigos passou por mim e eu não pude deixar de observar, sentindo falta dos meus e de quem éramos.

O trânsito na rua diminuiu e as luzes dos postes começaram a ligar. A caféteria é vinte quatro horas, o que eu sinceramente achei bem estranho, consigo ver algumas pessoas lá dentro tomando seus cafés quentes, a maioria sozinha.

Devo ser uma pessoa muito dependente da companhia dos outros, mesmo passando boa parte do meu tempo sozinha. Porque acho estranho as pessoas estarem lá sozinhas.

Olho o relógio e vejo que Loris está atrasada, coloco minhas mãos dentro do meu casaco e sento no chão, dessa vez realmente ficando nervosa.

E se ela não vir? E se não vier porque eu me importaria tanto?

Olho para o bar, e se ela estiver lá dentro? Não posso fazer nada se estiver. O bar está bem movimentado e consigo ouvir a música alta, é Bon Jovi. Tem muitas pessoas no estacionamento mas esses com certeza são mais jovens, que os cara de barba e cabelo comprido lá dentro.

Eu suspiro e fecho meus olhos por alguns segundos.

– Oii anjo – ela disse chamando minha atenção.

Eu segurei o sorriso.

Tudo o que o meu coração queria ter dito a você ( Lésbico ) Onde histórias criam vida. Descubra agora