Capítulo 7

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Quando entro para dentro de casa, meu pai ainda está acordado e andando pra lá e pra cá com um xícara de café na mão, no exato momento em que me vê, seu semblante muda.

– Você viu que horas são? E as milhares de vezes que eu te liguei e você não atendeu? – ele perguntou preocupado, quase bravo.

– Desculpa pai – eu peço, após me dar conta que eu saí sem avisar para aonde iria, com quem iria e que horas voltaria.

– Ta de castigando, amanhã você não vai sair – ele fala e sai andando – Boa noite.

Eu fico boquiaberta com ele e comigo mesma, pois esse tipo de coisa nunca me ocorreu antes. Eu vou para o meu quarto e sento na cama, olho meu reflexo no espelho.

Em seguida deito-me na cama e é como se eu sentisse meu corpo sendo abraçado pela mesma. Embora eu precisasse tomar um banho decido que é melhor deixar para amanhã, visto que só ficarei em casa o dia todo.

Me pego pensando em Loris, e tentando entender o que é exatamente isso que está acontecendo entre nós, posso muito bem estar confundido as coisas pois tenho um total de zero experiências. Eu adormeço rapidamente.

Acordo com alguém me chamando, e sento-me na cama tentando ouvir algum outro tipo de ruído ou voz me chamando, deito-me de novo e vejo a hora, são sete horas.

– LIV – eu escuto novamente, e abro a janela. Loris está na minha calçada. Ela provavelmente vê a confusão no meu olhar e levanta as mãos mostrando dois copos de café.

Eu sorrio.

– Bom dia Liv – ela diz e eu aceno.

Desço lá para baixo sem fazer barulho, já que todos na casa estão dormindo.

– Loris você é doida – falei, e ela chegou mais perto de mim e eu dei um passo para trás – Levantei agora, não escovei nem os dentes.

Ela me entregou o copo de café, e eu sorri agradecida. Ela deixou um beijo na minha bochecha e disse:

– Vou pra faculdade agora, depois conversamos – ela disse rápido, estava usando uma toca preta e uma jaqueta jeans, tive vontade de elogia-la mas as palavras não saíram.

– Ta bom se cuida – falei e ela piscou pra mim e entrou num ônibus que acabará de passar, ela acenou e eu acenei de volta.

Entrei para dentro de casa e fui rapidamente para o meu quarto, acendi a luz e pude notar que tinha um papel rosa colado no copo de café.

" Vamos ser estranhas juntas então Liv, cheire seu café :) "

Tiro a tampa e encaro a bebida, o cheiro do álcool logo sobe e eu começo a gargalhar botando minha mão na boca para abafar o som. Coloco só a pontinha da língua para tentar identificar qual bebida é.

– Deve ser uísque – cheiro novamente e coloco em cima da minha mesinha admirada com o bilhete rosa.

Encosto na cama e lembro que esqueci de avisar que estava de castigo e que não poderia sair hoje. Me recordo das palavras de Loris, que faculdade ela cursa será?

Me distraio com os meus pensamentos. Já visitei uma faculdade no primeiro ano do ensino médio, e senti vontade de fazer também, e agora que eu tenho a vontade, eu não sei do que fazer.

Suspiro, de certa forma é uma das minhas maiores frustações. Eu me sinto atrasada em todos os quesitos, não sei nada do meu futuro, não tenho nenhum plano. Eu fico vendo as pessoas evoluindo enquanto eu apenas vejo a minha vida passar como um filme na minha frente.

Minha mãe diz que eu não preciso ser aflita ou ficar ansiosa, mas é impossível. Eu tenho medo do futuro, eu e meus amigos ficamos juntos por cinco anos consecutivos, e agora é tudo tão estranho entre nós.

Crescemos, amadurecemos juntos, compartilhamos nossos medos e segredos, passamos por crises difíceis e no final cada um foi para o seu lado.

E isso me dói, por ser tão apegada em memórias foi o que me restou. Eu vi o primeiro ir embora e o segundo também, vi novas pessoas entrarem e foi bom, foi um tempo de grandes mudanças, mas eu achei que quem ficasse ficaria pra sempre.

Eu vi meu pequeno grupo se desmontar, e não fiz nada porque chega uma hora que, você limpa tanto a bagunça dos outros que esquece da sua, e quando eu vi o caos que habitava em mim, era quase tarde.

Eu apenas acúmulo nossas lembranças e vejo fotos de um tempo que eu achava que tudo era imbatível para nós, como se a nossa amizade fosse algo único. Eu costumava dizer que estávamos predestinados uns aos outros, por sermos tão iguais.

Por sermos tão ideais e em conjunto ainda melhores, mas agora é como se o tempo mostrasse como as coisas são realmente, é como se aquele ditado se tornasse fato a cada amanhecer.

Depois do ensino médio todo mundo descobre que não tem amigos.

Suspiro já me sentindo mentalmente cansada, olho no relógio e vejo que são dez horas e eu fiquei todo esse tempo pensando. Levanto-me e vou até a cozinha para tomar um café rápido, me alimento e volto para o meu quarto.

Faço uma breve faxina nele e depois tomo um banho, olho-me no espelho e decido que está na hora de mudar, não sei como e nem por onde começar, mas talvez eu precise disso, uma mudança básica para tornar meus dias melhores comigo mesma.

Vou até a janela e dessa vez eu não a fecho muito pelo contrário eu abro mais, coloco minha música favorita para soar alto e sento nela enquanto escrevo.

– Ei – eu escuto ela me chamando e sorrio.

– Ei. – eu digo e jogo um papel enrolado em sua direção, onde escrevi um poema.

meus olhos
procuram o seu
você tem esse brilho
que me cativa
e me faz pensar em você.

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Tudo o que o meu coração queria ter dito a você ( Lésbico ) Onde histórias criam vida. Descubra agora