Capítulo 5

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Loris me deixou em casa com o guarda-chuva em mãos, e depositou um beijo na minha bochecha e saiu correndo pela chuva, ela olha para trás rapidamente e eu aceno entrando dentro de casa.

Ao abrir a porta percebo que meu pai estava a minha espera.

– Sua amiga deve gostar de tomar chuva – ele diz e eu noto que o mesmo estava observando através da janela.

– É talvez – eu deixo um beijo em sua bochecha e vou para o meu quarto.

Eu olho através da janela e sorrio. Eu tive um dia muito bom e nem passei vergonha, muito pelo contrário quem passou foi Loris cantando alto pelas ruas longas de Londres.

Tiro a jaqueta que ela me emprestou do corpo, e depois a coloco novamente e me encaro no espelho.

Depois de tomar um banho eu deito na minha cama, um pouco pensativa devo admitir, mas quando o sono vem eu cedo com a imagem dela na minha cabeça.

•••

Eu acordo e dessa vez sei muito bem onde estou. Ainda de pijama eu caminho até a cozinha, e de longe consigo enxergar meu pai cochichando no ouvido de Lourdes.

Me pergunto que tipo de romance é esse que eles vivem. Será que ela o conquistou primeiro com sua beleza e depois com o seu jeito de ser e ele percebeu que não poderia ficar longe dela?

Ou meu pai a conquistou com seu olhar triste, com seu modo educado e calmo de dizer as coisas, com o seu semblante sempre cabisbaixo e um sorriso apenas para fingir, será que Lourdes se deu conta de tudo isso e percebeu que queria fazer parte também?

Ele tem os braços em volta da cintura dela, e ela passa uma das mãos no rosto dele e ele fecha os olhos sentindo seu toque, em seguida eles se abraçam e ficam ali um no cangote do outro.

Não sei que tipo de amor é esse, mas sei que é bom e mútuo de reciprocidade. Sei que é algo que eu gostaria de viver.

Eu como um pão de sal e tomo café, em seguida faço um barulho proposital para chamar atenção dos dois, derrubo uma panela. – Eita – eu digo a pegando.

Meu pai caminha junto de Lourdes.

– Bom dia filha linda – ele beija minha testa.

– Bom dia Liv – e ela beija minha bochecha.

– Bom dia gente – eu sorrio para os dois, e meu pai arqueia as sobrancelhas e depois começa a rir.

– Alguém está de bom humor, graças a Deus  – ele levanta as mãos para o alto, e eu acabo por rir também. – Filha daqui a pouco vamos passear ok?

– Ok – eu levanto – Vou me arrumar então.

Tomo um banho rápido e decido deixar o cabelo de lado, abro meu guarda-roupa e parece que nenhuma roupa que eu coloco fica boa, solto um suspiro e pego a jaqueta de Loris em cima da minha cama.

– Um dia não irá fazer mal – eu a coloco, pensando comigo mesmo que preciso renovar meu guarda-roupa urgentemente.

Nunca fui muito de comprar roupa, e geralmente quando compro é para o Natal e Ano Novo, e são roupas que nunca acabo por usar por achar festivas demais.

Passo um pouco de rímel e um batom rosinha, amasso a toalha contra meus cabelos os deixando mais enrolados mesmo a raiz sendo lisa.

Me olho no espelho dessa vez me sentindo diferente, e talvez até mais confiante com a minha beleza, mesmo tendo tantos problemas de acne e as vezes me achando feia por conta disso.

Dirigo-me para a garagem e entro dentro do carro do meu pai, onde Lourdes está sentada no banco da frente se maquiando também, ela olha para mim e sorri.

– Ficou bonito seu cabelo assim – ela diz.

– Obrigada.

Meu pai entra no carro e colocamos o cinto.  O caminho todo vamos cantando músicas antigas e rindo. Eu tinha sentindo falta de ver meu pai assim, feliz. Sempre que Lourdes abre a boca pra falar alguma coisa ele da risada.

Ele para o carro num restaurante e eu agradeço por não ser chique, entramos e eu sento de frente para ambos, no fundo me sentindo constrangida por parecer mais uma vela ali, do que alguém.

Peço comida típica, arroz, feijão, carne e algum outro acompanhamento. E quando minha comida chega eu a como tão rápido que nem percebo apenas quando a fome bate de novo.

Eu arroto.

– Foi mal – eu digo e olho para janela.

– Liv – meu pai chama a minha atenção, viro para encara-lo. Consigo ver que está nervoso e que provavelmente de baixo da mesa estão de mãos dadas um com outro, olho para Lourdes e ela parece estar com medo?

– Estou grávida – ela diz e consigo ver a preocupação em seu olhar, meus olhos se arregalam e eu levanto de emoção para abraça-los.

Lourdes fica surpresa com a minha reação e chora.

– Obrigada por fazer ele feliz de novo – eu sussurro no ouvido dela, enquanto a mesma me abraça apertado.

– Ele me fez feliz primeiro – ela admite e quando me solta pisca.

Abraço meu pai com toda força do mundo, e o beijo na bochecha.

– Isso é demais pai – eu cochicho em seu ouvido.

– Achei que você não fosse gostar filha – ele passa a mão no meu cabelo.

– Como eu não ia gostar? Vou ter um irmão e você está extremamente feliz.– digo e ele me beija na testa.

– Eu te amo Liv.

– E eu te amo pai.

Quando nos acalmamos a maioria das pessoas nos olhavam com curiosidade. O caminho inteiro de volta para casa fui pensativa, eu ia ter um irmão ou irmã e eu seria a mais velha.

Quando chegamos em casa eu decido contar para minha mãe através do telefone mesmo, ela surta e grita e em seguida conversa com Lourdes para dar os parabéns, e eu acho uma graça.

Quando entro no meu quarto percebo que a janela está aberta, e dessa vez vou fecha-la com o pretexto de ver Loris. E eu a vejo, ela está encostada no muro com os cabelos mais escurecidos e braços cruzados.

E mais uma vez ela me chama, e eu vou ao seu encontro.

Tudo o que o meu coração queria ter dito a você ( Lésbico ) Onde histórias criam vida. Descubra agora