Capítulo 4

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Um dia depois eu estou sentada na cama lendo mais um livro, qualquer pessoa me acharia uma idiota por estar em Londres e fazendo isso, talvez eu até seja, mas a rotina dos dias e sentimentos não mudam nunca.

Ler um livro, chorar pelo casal principal, chorar pelo final triste ou feliz e depois chorar porque acabou e não sabe se vai encontrar algo tão bom para ler novamente.

A luz do sol vai abandonando minha janela aos poucos, levanto-me para fechar de vez e olho para fora, a rua está movimentada porque meu pai mora em frente a uma caféteria e do lado tem um bar, bem contraditório isso.

Sem que eu perceba estou a olhar a garota do metrô, ela está sentada na calçada e tem os cabelos presos, seus pés começam a batucar no chão um de cada vez, e suas mãos começam a se movimentar, ela está chamando alguém, olho para seu rosto e seus olhos estão na minha direção.

Será que....?

– LIV – ela grita meu nome, e eu faço espera com as mãos.

Viro-me para o espelho um pouco aflita, pego as chave de casa e acabo por derrubar meu copo de água no chão. – Droga – eu resmungo e passo uma camiseta em cima e saio do quarto.

Pelo silêncio que está em casa concluo que não tenha ninguém, pego meu celular caso alguém ligue e saio lá para fora, quando atravesso a rua a mesma já está em pé encostada no muro.

– Oi.

– Você fica naquele quarto o dia todo? – ela pergunta e eu estranho.

Eu olho para minha janela e dou de ombros.

– Sim, ta tão na cara assim?

– Não, mas é a impressão que passa.

– Ok, agora ficou estranho –eu disse e dei um passo pra trás, ela começou a rir.

– Eu fico aqui o dia todo também, e as vezes vejo você fechando a janela quase sempre no mesmo horário.

– Agora fez sentindo, achei que fosse uma maníaca já.

– Mas talvez eu seja, vem – ela acena com a cabeça e entra no bar, eu olho pra minha casa e depois para rua – Vem logo – ela diz e eu entro.

Ao entrar percebo a iluminação escura, tem alguns homens com coletes de couro e garçonetes andando pra lá e pra cá.

Ela senta no banco e fala com o barman e eu observo como sempre. Ela transmite um ar de aventureira, como se já tivesse vivido o suficiente e soubesse quase de tudo.

As roupas são escuras e a bota é a mesma desde a primeira vez que a vi, me lembra as botas dos cavaleiros medievais, sua orelha é cheia de piercing e tem algumas tatuagens pelo corpo, as unhas são pintadas com um vermelho escuro e os anéis de prata são como um charme.

Boca fina e bochechas arredondadas, quando sorri seus olhos se fecham e tem uma covinha do lado esquerdo, enquanto fala sempre gesticula com as mãos

– Agora quem parece uma maníaca é você – ela fala rindo e eu fecho a boca.

– E talvez eu seja – eu respondo e ela bebe um copinho com uísque, em seguida me oferecendo, eu recuso.

– O meu nome é Loris – ela estende a mão e eu aperto.

– E o meu é Lívia.

– Achei que fosse só Liv.

– É, eu imaginei.

– Eu também parei de falar com a Katy – ela vira o banco ficando de frente para mim. – Ela nunca foi uma boa amiga, e quando você disse tudo aquilo, eu pensei: eu to esperando o que para fazer o mesmo? Até porque eu nunca precisei de ninguém.

– Eu só disse aquilo porque estava nervosa, é raro eu falar com alguém assim mesmo se a pessoa estiver errada e eu certa – desabafo.

– Entendo – ela diz pensativa – Na verdade nem tanto mas posso compreender como deve ser ruim isso.

– É – suspiro, decido tomar um copinho de uísque também.

A bebida desce rasgando e no final acabo por tossir, Loris da batidinhas nas minhas costas.

– Você já é maior de idade né? – ela pergunta.

– Não, tenho dezessete e você?

– Tenho vinte.

– Não tem muita diferença não – eu dou de ombros e ela levanta.

– Me acompanha até a farmácia? – ela pergunta e eu assinto.

Vamos o caminho inteiro conversando uma com a outra, diferente de Katy ela me escuta quando falo, e dá atenção para os meus assuntos, fico feliz de ter encontrado uma nova amiga assim não fico sozinha a viagem toda, ou trancada no meu quarto.

Quando chegamos na farmácia Loris compra uma tinta de cabelo cor castanho, me perguntando mil vezes se vai ficar bom, e mil vezes eu repito que sim.

– Você vai pintar pra mim né? – ela passa os braços por volta dos meus ombros e andamos assim pela rua.

Se fosse outra pessoa eu normalmente acharia ruim, mas Loris se mostrou diferente de todas as pessoas que já conheci.

– Sim eu pinto – eu digo para a mesma, e vamos numa direção contrária da minha casa.

Depois de percorremos duas quadras chegamos em um prédio gigante pintado todo de grafite.

– Isso que é arte – eu digo para mim mesma e me recordo do Brasil.

Loris abre a porta e eu entro, é tudo muito simples e diferente do que eu imaginei, tem vários desenhos nas paredes, frases no teto e apenas dois cômodos, quarto e banheiro.

– Aqui é meu lar – ela abre os braços e roda.

– Eu adorei.

– Meus pais não moram comigo, então a casa é nossa  – ela abre a geladeira e tira uma latinha e eu não sei identificar o que é, ela toma e me dá uma latinha de coca-cola.

– Deu sorte é a última – ela diz e tira a camiseta ficando de sutiã, joga-a num sexto e coloca outra mais velha.

Ela senta na cama e solta os cabelos ficando de costas para mim.

– Mãos a obra Liv – ela diz e solta uma risadinha.

Tudo o que o meu coração queria ter dito a você ( Lésbico ) Onde histórias criam vida. Descubra agora