Escolher o narrador da história é uma dúvida recorrente. Primeira ou terceira pessoa? Narrador onisciente ou observador? Passado ou presente? E a perguntinha chave de sempre: qual o melhor e o que escolho para minha história? A princípio, todos, para ambas as questões. A tendência é que a gente escolha a narração que preferimos ler, mas nem sempre ela combina com a linguagem do livro. E vamos ser realistas: às vezes, só percebemos isso depois de já ter escrito alguns capítulos da história. É a coisa de funcionar na teoria, só que na prática ser outros quinhentos.
Antes de tudo, devemos diferenciar cada um.
Tipos de Narrativa
Primeira Pessoa
Veja o exemplo abaixo do livro Mentirosos, de E. Lockhart:
"Eu não conseguia imaginar, na época, o que ele não suportava na ilha, mas concordei. Saímosde barco pelo mar usando jaquetas corta vento e roupa de banho. Depois de um tempo, Gat desligou o motor. Ficamos comendo pistache e respirando o ar salgado. A luz do sol brilhava sobre a água."
Se fosse na terceira pessoa, ficaria:
"Ela não conseguia imaginar, na época, o que ele não suportava na ilha, mas concordou.Saíram de barco pelo mar usando jaquetas corta vento e roupa de banho. Depois de um tempo, Gat desligou o motor. Ficaram comendo pistache e respirando o ar salgado. A luz do sol brilhava sobre a água."
É o mundo do "eu", e quando se trata de outro alguém, "somos nós". O narrador domina o texto e conta tudo pelo seu ponto de vista, um diário pessoal. É como nós mesmos presos dentro de nossa mente, sem ter acesso ao que os outros pensam. A não ser, claro, que o personagem tenha esse dom.
A primeira pessoa é indicada às histórias com poucos personagens ou quando você quer dar foco a alguém. O leitor se torna íntimo do narrador, consequentemente, você terá que trabalhar muito mais na construção da personalidade dele se comparado aos demais personagens.
O desafio do escritor na primeira pessoa é equilibrar o protagonismo do narrador e tomar cuidado para que os coadjuvantes não fiquem sem personalidade e excluídos na história. O equilíbrio vai depender do papel deles no enredo. Se você deseja mostrar a importância de um personagem secundário numa narrativa na primeira pessoa, faça com que a ajuda/interação dele para o protagonista seja essencial.
É interessante você imaginar a primeira pessoa como sua própria vida. Você é narrador e protagonista dela. Conhece suas lutas, sonhos, medos, qualidades, defeitos... e tem seu olhar sobre cada um deles. Há pessoas importantes na sua vida, você conhece alguns desses pontos nelas, mas nunca é tudo. E essas pessoas tampouco estão aqui na Terra só para lhe ajudar nesse caminho no sentido de, se não estão com você, não tem mais o que fazer na vida. Se elas têm vida própria, então por que muitos autores usam os conhecidos do protagonista apenas com esse objetivo, se na vida real somos todos protagonistas de nossa própria história?
O ponto chave aqui é a humanização do personagem.
Dentro da primeira pessoa, temos três subdivisões:
Narrador-Protagonista
O protagonista, como sabem, é o dono da história, e ele está aqui para contar a vida dele. É o que acontece no livro Jogos Vorazes, da Suzanne Collins, com a personagem Katniss, em que ela conta como foi participar dos jogos e sobreviveu a isso.
Narrador-Testemunha
Ele não é o protagonista, e pode ou não estar inserido na história como personagem. Esse narrador sabe de tudo e faz comentários ocasionais pessoais. É o caso da Morte, em A Menina que Roubava Livros, do Markus Susak. A Morte narra a vida de Liesel Meminger, e o "eu" da narrativa são as opiniões da própria Morte.
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Como Escrever um Livro
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