Antes de começar o Manual Amador da Descrição, quero deixar alguns pontos claros para vocês. Não sou formada em Letras nem nada relacionada à escrita; não fiz curso de escrita criativa nem publiquei livro profissionalmente. Tudo que sei sobre o assunto foi com base em leituras, consulta de materiais e vivência. Não sou a voz da razão e não deixem que outra pessoa o seja.
A escrita é a junção de experiências individuais, estilo próprio que provavelmente será retalhos do que você já leu na vida e a carga criativa de cada um. O que funciona para mim, pode não servir para você, mas talvez ajude outros. Ou vice-versa. Posso amar descrições leves, como nos livros de John Green, mas você prefere narrações bem detalhadas, no melhor estilo George R. R. Martin.
Na escrita, não há descrição melhor ou pior. São estilos diferentes. Como descubro o meu? Lendo as mais diversas obras, de gêneros e tamanhos distintos. Já sentiu que passou a escrever como certo autor depois de terminar a leitura do livro dele? É isso que compõe os retalhos da sua escrita. Agora imagine que, quanto mais livros você ler, mais técnicas e estilos seu cérebro absorverá. E é dessa forma que nós, meros mortais, avançamos na escrita. Não há uma fórmula. Tudo é construído na base de leitura.
Assim como você elege as "escritas inspiradoras", com certeza já deve ter se esbarrado com obras que queria passar longe. Não só aprendemos com os acertos dos autores, os erros e fraquezas são igualmente enriquecedores. Eu, por exemplo, aprecio a escrita leve e direta da escritora americana Meg Cabot. Porém, todas suas obras são marcadas por fortes divagações, e isso é algo que odeio profundamente. Como não gosto, é um estilo que não será acrescentado à minha forma de escrita. Mas há quem aprecie e adote a técnica para si.
Se inspirar não é feio, plagiar que é. Com o tempo, você moldará o próprio estilo e sua escrita terá sua cara. É normal você se deparar com a escrita de alguém e achar que nunca irá chegar naquele "nível". O engraçado é que ninguém se preocupa em saber como o escritor em questão alcançou aquele estilo. Não cobice resultados sem conhecer a luta da pessoa. A escrita, como qualquer coisa que queira aprender na vida, é um grande lance de escadas. Um degrau por vez, sem escada rolante, elevador ou algo que te eleve ao topo rapidamente.
Da próxima vez que encontrar um texto que o intimide, não diga que irá desistir de escrever porque sua escrita é um "lixo". Ao invés disso, liste o que aprecia na escrita da pessoa e tente ver como esses itens podem te ajudar a melhorar a sua própria. Todos nós nos sentimos lixo alguma vez na vida, o drama não é só seu. A diferença é que alguns procuram uma maneira de reciclar esse lixo, outros simplesmente jogam em um aterro sanitário e deixam lá para apodrecer a céu aberto.
O tempo de evolução varia de pessoa para pessoa. Escrevo desde os 13 anos e até hoje, aos 24, aprendo coisas novas. Minha escrita vive em constante mudança, sempre há algo para mudar ou acrescentar, é um aprendizado sem fim. Quem lê e experimenta mais tem melhores resultados na escrita se comparado aos que não fazem nada. Quer melhorar com mais velocidade suas habilidades literárias? Se vitimize menos, leia e produza mais. É como Stephen King disse no livro Sobre a Escrita: "Se você não tem tempo de ler, não tem tempo (nem ferramentas) para escrever. Simples assim". Quanto mais livros lidos, menos dificuldades enfrentará nas descrições, pois seu vocabulário será expandido, assim como o senso crítico em saber o que funciona ou não para você.
Pode apostar que aprendemos muito mais ao ler exemplos práticos a "fórmulas" de como fazer tal coisa. Não se pergunte como escrever cena X, e sim como os autores descrevem a cena X. Depois pense na melhor maneira para adaptar ao seu estilo. Na dúvida, procure livros cujo tema seja parecido com o seu, estude a forma como o autor desenvolveu as descrições dele.
Nem sempre temos problema em descrever algo por não possuir a habilidade ou técnica de descrição necessária. Às vezes, você não tem vocabulário ou domínio do assunto que quer descrever. Um exemplo comum é qualquer elemento arquitetônico. Aposto que a maioria não sabe descrever um castelo do século XIX. Neste caso, o problema não é a escrita em si, mas a falta de conhecimento do estilo arquitetônico dos castelos no século XIX.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como Escrever um Livro
Non-FictionEste livro foi feito especialmente para você: contista, ficwriter, aspirante ou escritor, obter dicas e discutir sobre o universo da escrita criativa. A troca de experiência é a palavra de ordem por aqui!