Ao longo dos anos, já recebi várias mensagens cujo autor se lamentava de sua escrita, não sentia que seu trabalho era digno de leitura ou até mesmo tudo que fazia não passava de um "lixo". São palavras duras para se auto avaliar, não é mesmo? Infelizmente, na maioria dos casos, tais queixas têm causas muito mais profundas, até mesmo psicológicas. O problema não está na escrita em si, mas na forma como a pessoa se enxerga na vida.
Esse texto não é para pessoas de casos clínicos. Para essas, aconselho que busque ajuda com um psicólogo; caso não tenha condições financeiras, procure os centros de atendimento social da sua cidade. Esse texto é para você, autor desanimado, cansado de receber críticas duras ou inseguro sobre as coisas que anda produzindo.
Não sei se você tem um Beta Reader (leitor beta) ou uma pessoa de confiança que leia todas suas histórias e dê palpites sinceros (no qual você respeita e confia). Se não tiver, o problema nº 1 está aí. Por mais que a gente ache que nossa história está perfeita do jeitinho que está, nem sempre é isso que acontece. Pode ser um livro do Stephen King, J.K Rowling, Neil Gaiman, Clarisse Lispector... todos, mas todos mesmo, passaram/passarão na mão do editor e o dito cujo irá querer riscar frases, mudar cenas e quem sabe até tirar personagens. Se isso não é um conceito que você consiga digerir e quer mesmo continuar no ramo, é algo que deveria trabalhar dentro de você.
A pessoa de confiança na qual me referi no parágrafo acima seria uma espécie de editor para você, ela saberia usar as palavras certas quando quiser te dar um toque sobre um trecho, ao invés de dizer: "isso está um lixo". E, na maioria das vezes, vai perceber que a pessoa estava mesmo certa, pois você estava tão mergulhado (a) no próprio roteiro que ficou "cego (a)" a certos detalhes. Esse leitor de confiança também é responsável por te lembrar que você não escreve "lixo", que tem potencial e que a maioria das críticas ruins gratuitas que te fazem na internet não passam mal-intencionadas. Crítica boa é crítica construtiva, no mais, é tão lixo quanto a forma que eles se "referem" ao seu trabalho. Se no fundo esses anônimos tiverem razão, seu leitor de confiança irá concordar e conversar a respeito da mensagem com você (de maneira saudável).
Quando postamos nosso trabalho na internet, todo mundo "vira autor" da obra. Você ouvirá muitos elogios, mas muitas críticas também, algumas delas sobre trechos que você amava muito, atitudes de personagens que deveriam ser daquela forma sim para a história fazer sentido, e talvez até reclamando do fato de fulano torcer para time X. Você vai entrar em desespero e querer mudar tudo para agradar a todos? Se você mudar, acredite, virá outros reclamando da mudança. Como deve ter notado, é um ciclo infinito.
Óbvio que no início ficará tentado (a) a mudar tudo mesmo, normal, mas com o tempo, você fica calejado para "as críticas" (que nesse caso, não passam de opiniões pessoais, sinceramente). Seu leitor confiável, que provavelmente também será um amigo, irá te consolar e te ajudar nesse processo. Escrever não precisa ser uma caminhada solitária, é bom ter pessoas que te inspiram e te apoiam no meio do percurso, principalmente nos momentos de frustração.
Sabe qual o problema? Podemos receber dez mensagens positivas; se a décima primeira for uma crítica, tratamos as anteriores como se nunca tivessem existido. Você não vai agradar todo mundo, sempre haverá alguém que não vai gostar dos seus livros e críticas negativas é uma realidade que não será calada.
Se você se sente mal em receber um comentário ruim de alguém que provavelmente é um desocupado que quase não lê, imagine se for de um crítico renomado, cheio de prêmios, mestrados etc.? É a realidade dos escritores profissionais, e não, eles não param de escrever por causa disso, eles podem até chorar em segredo, fazer a maior cena em casa, quebrar tudo, mas no final, concentram-se em outra obra e seguem em frente. Afinal, houve gente que gostou e o aplaudiu com louvor, uma única pessoa não vai derrubá-lo.
Escreva sem olhar para os lados. Se o que você produziu lhe agrada, vai encontrar semelhantes por aí. Uma boa coisa a se fazer é só postar algo na internet quando estiver finalizado, assim você escreve tudo do jeitinho que pensou, sem influência de terceiros, e os palpites alheios não fará diferença para você, já que a obra estará concluída. Melhor que escrever à medida em que posta, desmotivar-se em cada comentário negativo que receber e mudar tudo o que planejou anteriormente.
E nunca deprecie seu trabalho. Não diga que está "tosco", "horrível", "idiota"... nada disso. É seu eu exposto em palavras, produção de arte esculpida exclusivamente por você, e como tal, você tem o poder de mudar tudo sem mais nem menos. Também não se lamurie para ganhar ibope e pena dos futuros leitores (se conseguir algum assim); eles curtem autores determinados, no qual sintam firmeza de que não irá abandonar a história. Se você mesmo (a) concorda que seu livro não é digno de leitores, por que irão achar o contrário?
E se realmente sentir que seu texto não está bom, apague sem medo e reescreva sem dó. Descarte a ideia e invente outra. Mate um personagem, dois ou finja que ele nunca existiu. Raras são as exceções sobre a primeira versão de um livro ser maravilhoso. Eu mesma tenho um que reescrevi três vezes e estou indo para a quarta reescrita; isso não o faz ruim, e sim aperfeiçoado. Se não sentir firmeza nas palavras, apague até que se sinta bem com o próprio texto. Somente aí poderá expor o que produziu ao mundo, seguro e ciente do que está fazendo.
Se os autores de best-sellers vivessem desdenhando seus trabalhos, chegariam aonde estão? Você compraria livros com críticas negativas do próprio autor?
Pense nisso.
Ps.: caso queira conhecer meus serviços como Leitora Crítica, Betagem e Hangout, é só visitar meu site.
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Como Escrever um Livro
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