Capítulo VI

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Em plena loja de roupas, Isabel procurava os saldos. Sara ficou maravilhada com um belo vestido que tinha acabado de ver. No entanto, estava indecisa se o havia de comprar, uma vez que era bastante caro. Como para Isabel o dinheiro não era problema, esta ofereceu-se para lhe pagar o vestido. Sara, uma vez que não era cínica, aceitou de bom grado. 

Enquanto as compras estavam a ser pagas, Sara dirigiu-se ao exterior da loja, onde se encontrava uma cabine telefónica. Nesse momento, fez uma chamada: 

- Estou sim? Olha, preciso que me faças um favor. Quero que me pesquises os dados de uma mulher chamada Constança Ribeiro, governanta na morada que te vou dar a seguir...  

Quando ainda estava a acertar alguns pormenores, eis que aparece Isabel. 

- Pronto, eu vou-te ligando então. Vai lá. Beijinhos! 

Isabel estranhou aquela conversa, pelo que perguntou: 

- Não sabia que tinhas um namorado? - Perguntou. 

Sara nem queria acreditar naquilo que acabara de ouvir: 

- E realmente não tenho. E que tal irmos até àquela esplanada? Que me dizes? - Perguntou a inspetora. 

Na esplanada, sentadas numa mesa redonda, chamam o empregado que lhes pergunta o que vão querer. 

- São 2 cafés por favor!- Pediu Isabel. 

Sara foi direta ao assunto que a levou a convidar a amiga a tomarem um café: 

- Isabel, que relações mais estranhas achas que existem na mansão? - Questionou, pelo que a amiga não hesitou em responder: 

- Em primeiro lugar, a relação da Dona Carolina e do Doutor Francisco. Para mim, aquilo não é um casal, mas sim 2 estranhos que habitam a mesma casa há quase 60 anos, partilhando corpos! Fora isso, mete-me confusão como é que uma mulher com a idade da Letícia consegue andar sempre atrás das saias da mãe. Fora que já tentou muitas vezes forçar a Dona Carolina a despedir a Constança. 

Sara recebeu um "flash" naquele momento: 

- Desculpa?! Então achas que elas escondem alguma coisa? - Perguntou a inspetora. 

A mulher de Afonso foi sincera: 

- Não duvido nada! E olha que não sei até que ponto a Constança não chantageava as pessoas da casa para atingir a Letícia, sobretudo! - Afirmou. 

No entanto, a opinião de Sara era outra: 

- Não me acredito nisso. A Constança tem aquela forma de ser, mas dá para perceber que é muito ingénua nos atos e nas ações! Não sabe muito bem como lidar com as situações! 

Posteriormente, Isabel fez uma revelação que deixou a inspetora incrédula: 

- Eu acho que ela é uma pessoa muito fria porque sofreu muito para ser mãe. Só quando descobriu que era estéril é que decidiu recorrer à adoção. Até que adotou o Gaspar! 

Sara reagiu de imediato àquela novidade: 

- O Gaspar é adotado? E em que circunstâncias se realizou a adoção? 

- Isso não sabemos. Não temos nada a ver com a vida pessoal dos nossos empregados. Como podes adivinhar, eu não estava lá na altura para saber exactamente o que se passou. Mas segundo o que o Afonso me conta, a Dona Carolina ajudou-a e acompanhou de perto todo o processo! - Conta. 

Sara prosseguiu com as perguntas. Sentia que as peças estavam a encaixar-se: 

- E o Gaspar sabe que é adotado? E qual será o interesse da Letícia que a Constança seja despedida?  

Isabel não tem grandes informações: 

- O Gaspar penso que não sabe! Quanto à Letícia não sei! No entanto, não tem nada haver com essa história porque ela nem sequer estava presente quando a história da adoção começou! Estava em França num retiro de 7/8 meses! 

Sara estava a ficar curiosa: 

- Mas o Gaspar foi adotado com que idade? - Perguntou, curiosa... 

- Tinha apenas alguns dias de vida! - Respondeu a amiga. 

Posteriormente, Sara dirigiu-se à cabine para onde ligou anteriormente. Foi aí que marcou o mesmo número de telefone e começou a falar: 

- Estou? Olha... Preciso que, juntamente com as informações, peças uma autorização para que o departamento da PJ, mais especificamente eu, aceda a um processo de adoção datado de 1961/1962 e que tem a pessoa que te pedi informações como mãe adoptiva de um rapaz chamado Gaspar Ribeiro. Esse processo deve ter sido elaborado em Sintra. Fazes-me isso? Quando me vieres trazer o que te pedi, perguntas por mim. Se estiver em casa eu recebo, senão voltas noutra altura sim? - Pediu. 

Satisfeita pela saída, Sara voltou para a esplanada, conversando mais um bocado com a amiga, que se revelou naquele momento, mesmo sem saber, uma preciosa ajuda. 

Werner levava as duas mulheres para casa. Mais uma vez, Sara sabia muito bem aquilo que deveria fazer a seguir. Quando Isabel saíu do carro, a amiga pediu-lhe para ir para dentro, pois ficaria a conversar com Werner mais um bocado. O motorista achou estranho todo aquele interesse da inspetora nele. Mas, os seus ouvidos estavam preparados. 

- Não esteja com essa cara Werner! Pelo menos para já não o vou acusar de nada! Quero apenas fazer-lhe um interrogatório específico. Era para falar com a Isabel sobre este assunto. No entanto, considero-o mais apto para o fazer! - Afirmou Sara, enquanto Werner olhava seriamente para o vidro da frente do carro. 

- Responderei a todas as perguntas que a menina quiser! - Exclamou o motorista. 

Sara prosseguiu... 

- Desculpe se lhe estou a chatear. Que mania que nós, os inspectores da PJ, temos para vos encher a paciência não é? Não esteja com essa cara de preocupado, meu querido! Prometo que serei breve! 

Werner respondeu que não estava preocupado com nada. Era visível que estava a mentir. No entanto, pediu apenas que fosse direta ao assunto. 

- Se é essa a sua vontade, vou-lhe dar o tempo de antena que necessita! Fale-me um pouco dos anos em que o Doutor Afonso, a Dona Margarette, o Senhor Filipe e a Dona Helen não se falavam por favor? 

O motorista começou assim a contar aquilo que sabia sobre o que aconteceu. Respondeu que não sabia as razões, mas que foram muito sérias. 

- Lembro-me de um jantar em que ambas estavam grávidas dos seus bebés. A Margarette da Cleo e a Helen do Pedro. Toda a família estava reunida, incluindo a Dona Urraca, na altura solteira, e o Senhor Raúl que, apesar de mais novo, já estava casado! Os dois irmãos permaneceram calados, mas as duas mulheres tiveram uma discussão até que a coisa ficou preta. Se quer que eu lhe conte aquilo que eu sei, acho que esse episódio é o melhor exemplo que eu posso dar! - Disse o motorista. 

A inspetora levantou o seu bloco de notas, ouvindo tudo aquilo que o motorista tinha para lhe contar...

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