Recuemos 32 anos... Naquela noite, os Vasconcelos estavam todos reunidos perante a notícia da gravidez de Helen, pouco depois daquela que Margarette deu: Também estava grávida! Dona Carolina nem queria acreditar que iam nascer os seus dois primeiros netos. No entanto, a sua primeira intenção foi dirigir-se às duas filhas:
- Fico tão feliz pelos meus primogénitos e pelas minhas noras! Não demores muito Raúl a emprenhares a tua mulher também! A Letícia ainda é nova, mas por este andar, a continuar com essa cara, não vai casar nem ter filhos! Quanto à Urraca, com este feitio, vai ficar encalhada! - Retorquiu a matriarca dos Vasconcelos.
As duas filhas do casal Vasconcelos ficaram incomodadas com aquilo que acabaram de ouvir. No entanto, a expressão de Urraca era de luta, já de Letícia, não era mais do que resignação. Era nítida a diferença de personalidades das duas irmãs. Se Urraca era determinada e inconformada, Letícia era conformada, uma pessoa demasiado fraca. Mas, o sentimento de Francisco pelas filhas era igual, pelo que não hesitou em defendê-las perante a mulher, mas, como sempre, em vão.
- Carolina, não fale assim com as nossas filhas! Até parece que lhes deseja mal! Eu cá quero que sejam as duas muito felizes, ao lado daqueles que as amarem...
Urraca agradeceu a atitude do pai:
- Obrigado pai! Pessoas sem sentimentos como a mãe, não pensam antes de falar! - Posteriormente, olhou para a irmã que numa tentativa de agradar a mãe, olhou para a progenitora, de forma que a irmã, com as suas respostas, ficasse mal na fotografia. - Sabe que ao contrário de muita gente, sei que a Dona Carolina é uma pessoa cruel, uma revoltada, a eterna incompreendida... - Pausou por breves momentos. - Uma pessoa que não gosta de ninguém... Se calhar, nem de si nem dela própria! O pai merecia ter sido muito mais feliz!
Francisco não quis comentar mais nada. A filha mais velha e a mãe nunca se deram, pelo que sabia que qualquer tentativa de conciliá-las era em vão!
Fátima ouviu atentamente a conversa. Por isso, fez um apelo a Urraca:
- Isso mesmo cunhadinha! Cala-me essa velha cuja única coisa que sabe fazer é mandar perdigotos para o ar!
Nesse momento, Carolina ficou escandalizada, como mulher tradicional que era:
- Você a mim não me levanta a voz sua língua porca! Se há alguém aqui que não admito que me fale assim é você entendeu?
Fernanda riu-se da atitude da sua recente sogra:
- Você levanta a voz a toda a gente, fala como lhe apetece e não admite que os outros façam o mesmo consigo? Por amor de Deus mulher, trate-se! Não sei como é que o seu marido lhe aguenta!
Carolina prosseguiu:
- Vê-se mesmo que não é uma mulher nobre como as suas cunhadas não é? Que não pertence ao nosso ramo social!
As suas duas outras noras, tal como os seus dois filhos, estavam à frente uns dos outros. Os dois irmãos mal se olhavam, mas um enorme ressentimento era visível. Mas, pior estavam as cunhadas Margarette e Helen, constantemente a olhar uma para a outra com um ódio tremendo. Se uma delas pegava no seu copo de água ou nalgo que estava em cima da mesa, a outra não tardava a praticar o mesmo gesto. Por diversos motivos, o ambiente àquela mesa era bem nítido e horrível. A única diferente, que transparecia felicidade, muito diferente das pessoas que servia, era Constança. Era impressionante como ao longo dos anos foi mudando tanto. Apesar dos problemas de saúde que tinha, que lhe impediam de dar um filho, era feliz! À medida que os anos foram passando, tornou-se a mulher amarga e fria que todos passaram a conhecer.
Voltando à discussão, o Doutor Francisco num instante se fartou da conversa entre a mulher e a nora, demonstrando-o através do seu tradicional tom formal e educado:
- Por favor minhas senhoras, vamos acalmar-nos! Carolina, a Fernanda é nossa nora, mulher do nosso filho Raúl. Vamos respeitá-la por favor?
Carolina olhou para a nora disposta a tomar uma atitude futuramente. Depois, dirigiu-se ao marido:
- Vou-lhe fazer a vontade Francisco! Mas não pense que as coisas vão ficar assim, vamos ter uma conversa muito séria!
De forma a desanuviar a situação, Raúl intrometeu-se:
- E que tal todos nós brindarmos as minhas cunhadas, os meus irmãos e os bebés que vão nascer? - Propôs. Todos os que estavam a jantar adoraram a ideia, levantando os seus copos de vinho. No entanto, Carolina destabilizou mais uma vez a situação. Olhando para Helen num tom provocador, retorquiu:
- O que Helen tem dentro do seu ventre não importa! Só espero que nasça completamente saudável! Mas, Margarette, como mulher pura que é, que não comete pecados... - Naquele momento Margarette olhou para o cunhado Filipe... - Espero bem que seja a portadora do filho homem que esta família tanto precisa. Sabe que é o filho do primogénito da família que deve gerir os negócios da mesma depois do pai. Quanto a si, a recompensa que levará é a chave da dispensa que está na minha mão neste momento. Nascendo o filho varão... - Aí, a matriarca volta a olhar para Helen, continuando a provocá-la.- Ela é sua, é você quem coordenará, com a minha ajuda claro, a vida na casa, desde as refeições ao resto!
Perante aquele olhar da sogra e tendo em conta a inveja e o ressentimento que sentia pela prima Margarette, que aumentaram nos últimos 2 meses, Helen fingiu tropeçar sobre a mesa, virando o copo de água sobre Margarette. Naquele momento, a outra bateu na prima. Helen gritou:
- Vagabunda! Está a ver Dona Carolina, a educação que tem a mulher de quem você espera o primeiro neto barão? Só porque tropecei e o copo virou, sujando o vestido dela, deu-me um estalo! É uma louca! - Retorquiu, gritando.
A outra não tardou a responder-lhe, mais calmamente e com mais classe. Carolina estava a adorar a confusão que acabara de instalar na sua casa:
- Cala-te Helen! Como primas sempre fomos tão amigas. Mas eu sei muito bem que desde que viemos para aqui sempre quiseste o meu homem, o Afonso! O Filipe para ti é apenas um aventureiro que te dá a vida que tu gostas! No entanto, não te consegue dar amor! Pois tal como tu querias que o Afonso fosse teu, o teu marido queria que eu fosse dele!
Helen pediu que Margarette se calasse, mas esta não fez o que a outra sugeriu, continuando:
- Mas há uma diferença! Sabes qual?! É que o Afonso gosta de mim e eu dele! Já o Filipe não te quer, mas sim a mim! Se eu quisesse, estes dois homens estavam ambos nas minhas mãos e tu ficavas sem nenhum! Mas ao contrário de ti, contento-me com só com um!
Helen ficou sem grandes respostas, mas Afonso afirmou:
- Esta conversa já foi longe de mais! O que era para ser um momento de celebração tornou-se um momento de desprazer! Filipe, por favor, chega aqui! Preciso de falar contigo! Vocês as duas... Arranjem-se e tenham vergonha!
Nesse momento, Afonso e Filipe conversavam num canto. Werner, que estava nos seus aposentos, no seu quarto dos fundos, e subiu quando ouviu discussões e muito barulho, estava a passar para lá regressar quando Filipe disse ao irmão:
- Não te preocupes. Vou chamar à atenção a minha mulher! Trata de chamar à tua também! - Retorquiu.
Afonso concordou:
- Muito bem! Já agora que ninguém saiba o que se passou no passado!
Filipe concordou com a cabeça. Werner ficou curioso, mas por mais de 30 anos que não esboçou o assunto... Posteriormente, Carolina chamou as duas noras à sala...
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O Chantagista
Mystery / ThrillerSara é uma inspetora recém formada de 31 anos que enfrenta agora a sua maior investigação, que não se revelará nada fácil. Na mansão da família Vasconcelos tem de descobrir a identidade de um chantagista lá infiltrado. No entanto, terá de enfrentar...