Sanctificetur || Frerard

Capítulo II

  A fé era algo no qual Frank não era muito chegado, desde criança ele não se arriscava a colocar um pé sequer na igreja, não gostava de regras. A vida bagunçada de Frank tomou um rumo bem drástico; as drogas, as bebidas, as diversas mulheres e homens com quem passou muitas noites, tudo isso o-levou à miséria. Frank passou a ser um viciado, havia dias em que ele preferia heroína do que o próprio alimento, não se orgulhava disso mas passou a aceitar essa vida de merda.

Caminhou então até o acólito, esse que acariciava as flores do jardim da igreja, Gerard era bom com flores e jardinagem. Ao perceber a aproximação de alguém, o religioso se levantou e tentou reconhecer o rosto do baixo homem que se aproximava, logo reconheceu Frank e sorriu.

Frank como o ótimo ator que era, por sua vez sorriu junto à Gerard. Quando Gerard estava prestes à estender a mão em cumprimento, Frank o braçou, isso que fez o acólito corar de leve:

— F-Frank, que bom te ver. — Disse logo sendo solto pelo mesmo.

— É ótimo te ver também, Gerard. — O mais velho disse fingindo animação. — O que faz aqui no jardim?

— Bom, eu estava apreciando o aroma das flores. — Respondeu levando os olhos ao jardim. — Quer entrar? Hoje não temos missa mas posso te mostrar o lugar, o Padre está ocupado por agora mas logo estará disponível também. — Trouxe o olhar novamente à Iero.

— Claro, nunca fui à uma igreja antes. — Frank disse acompanhando o acólito para a igreja.

— Uh, nunca? — O mais novo surpreendeu-se com tal confissão. — Seus pais nunca levarão-o à igreja antes?

— Não. — Respondeu analisando a arquitetura renascentista do local, ao adentrar a igreja pode ver o grande vitral colorido com imagens de Jesus e várias santas e santos juntos à ele.

Os olhos de Frank ficaram grudados naquela enorme cruz, ficou imaginando como deveria ser agoniante ficar ali com o corpo todo fodido, sorriu encarando a madeira. Gerard com a cabeça de uma criança, ficou feliz ao notar a expressão de Frank sobre a cruz e imaginou que ele estava maravilhado com a força de Cristo.

— Ele morreu por nós sem pensar duas vezes, para nos livrar dos nossos pecados. — Dizia sorrindo enquanto admirava a cruz à sua frente.

— É. — Frank disse entediado. — E onde você dorme? — Perguntou sem demoras.

— Meu quarto? — Estranhou a pergunta do outro.

— É que... eu sempre quis saber onde as pessoas da igreja dormiam. — Disse a primeira coisa que veio à mente e pra sua sorte, o acólito não desconfiou.

— Ah sim, posso te mostrar meu quarto se quiser. — Sorriu animado. — Me acompanhe. — Disse se dirigindo ao seu quarto e Frank o acompanhou.

Frank então se lembrou de sua infância, não tinha amigos de verdade e isso lhe-deixava triste em segredo. As coisas mudaram, Frank não queria saber de mais nada, só de seu próprio bem estar e felicidade. O egoísmo mudou Frank de dentro pra fora, mas seu egocentrismo se manteve intacto, era mais orgulhoso que tudo nesse mundo. Mesmo na lama, tirava tempo pra ser tirano.

— Quando nos conhecemos... — Gerard tirou Frank do transe. — Você não estava tão arrumado e cheiroso como hoje. — Ele disse quase soando ofensivo mas o menor riu.

— Coisas da vida. — Frank disse parando junto ao acólito em frente à uma porta.

A porta de madeira parecia um portal, isso aos olhos de Iero, era como se aquele lugar fosse uma espécie de... paraíso talvez? Nem ao menos tinha adentrado o cômodo mas já o marcou como favorito em sua cabeça, sorriu ansioso para entrar. Gerard finalmente abriu a porta e o quarto à vista era composto por poucos móveis, uma paleta de cores escuras, em tons de bege e marrom. Frank entrou no quarto e fitou a cama, simples mas visivelmente confortável, logo a cômoda no outro lado do quarto que era feita de madeira escura. Uma pequena prateleira de livros era o último móvel e o quarto não tinha tapete ou janelas, era como um porão ou algo do tipo. Voltou seu olhar ao acólito que olhava tímido pra baixo, sorriu instintivamente: