Capítulo III

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Não seja como aqueles que com um aperto de mãos, empenham-se com outros e se tornam fiadores de dívidas; se você não tem como pagá-las, por que correr o risco de perder até a cama em que dorme?

Provérbios 22:26-27.

Tarde demais, Frank já não tinha mais nada e devia mais do que três salários mínimos juntos. Era óbvio que ele nunca pagaria os marmanjos que devia, por isso tinha as pernas boas pra correr o suficiente deles. Agora era tarde, os homens estavam entrando na cafeteira e tudo que Frank fez foi se levantar e puxar Gerard. O acólito sem saber o que estava acontecendo, apenas segurou a mão de Frank que correu para a cozinha do local, todos gritavam desesperados enquanto Frank passava correndo pela cozinha até chegar aos fundos, isso arrastando Gerard consigo. Chegou nos fundos e olhou em volta:

— Frank! — Gerard quase gritou ofegante. — O que está acontecendo?

O menor olhou para o outro e sorriu, Way estava com o nariz e bochechas rosadas, correu feito um desesperado por culpa do baixinho.

— Desculpa, precisava esticar as pernas. — Disse e caminhou rápido para rua.

— Frank, por favor... só seja sincero comigo. — Gerard disse quase numa súplica.

Gerard passou a infância inteira sendo enganado pelos pais, a última coisa que gostava era de ser enganado. Cruzou os braços quase formando um biquinho nos lábios, Iero revirou os olhos mas suspirou, tinha que manter o acólito calado para o clero então se aproximou novamente do mais jovem:

— Olha, eu precisava fugir daqueles caras. — Disse colocando as mãos nos bolsos.

— Mas por quê? — O religioso insistia.

— Porque eu devo eles, dinheiro... sabe? — Abaixou o olhar e mordeu o lábio.

— Dinheiro? Comprou uma roupa? Alimento? Nós podemos resolver.

— Não, Gerard! É algo maior que isso, simbolicamente, claro. — Respirou fundo. — Eu usei o carro deles e junto uma grana que tinha dentro.

Mentira. Frank poderia ter sido a pessoa à ensinar o diabo a mentir, com Gerard a coisa se tornava fichinha, fácil demais. Sentia que estava mentindo para um anjo, Gerard poderia ser considerado um anjo aos seus olhos.

— Usou? — Franziu o cenho descruzando os braços.

— É, precisava levar meu irmãozinho doente pro hospital e não tinha um carro. Roubei o deles, depois devolvi. — Disse sentindo seus olhos marejarem, a vontade era de rir de sua mentira cabeluda, mas manteve.

— Oh, Frank. Sinto muito. — O acólito abraçou ele, seu coração se apertou ao escutar aquelas palavras que deveriam ser difíceis ser ditas pelo outro. — Como ele está? — Perguntou mantendo o abraço.

— Está bem, mas... Não vamos falar disso. — Desfez o abraço e secou os olhos. — Não conta pro padre, tudo bem?

— Certo, não contarei. — Disse e sorriu fraco.

Frank arregaçou as mangas em um ato de nervosismo, mas se arrependeu logo em seguida ao notar os olhos curiosos do religioso sobre sua cicatriz gigante no pulso, agora teria que contar mais uma mentira?

Caminhou de volta à igreja com Gerard, dessa vez sem diálogos ou questionamentos. Gerard queria perguntar sobre o pulso mas não queria se intrometer na vida do outro, afinal tinha seus segredos também e se alguém os perguntasse sobre, não iria querer responder.

Finalmente chegaram na igreja novamente, eram por volta de pelo menos dez e meia da noite, Gerard nunca tinha chegado tão tarde em casa, isso enquanto Frank nunca tinha chegado tão cedo.

Sanctificetur || FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora