Capítulo 9

40 2 0
                                    


Abortar plano. Eu definitivamente não estava preparado para o que eu encontrei na minúscula sala de jantar. Tia Joana era a única que sorria e os outros lugares da mesa estavam ocupados pelos donos de quatro pares de olhos de diferentes tons de verde que pousavam furiosamente sobre mim. 

Caleb parecia estar sentado de frente para um espelho. Logo, deduzi que assim como o irmão, Caio também cresceu maravilhosamente bem desde que nós brincávamos de jogar bolas de lama um no outro.  

Do lado direito de tia Joana estava um lenhador daqueles filmes americanos. Barba ruiva, olhos verdes quase azuis e a boca não passava de uma linha fina acima de um queixo quadrado de dar inveja. Mas foi o irmão que estava na frente desse que me fez prender a respiração. Não que os outros três não fossem absurdamente lindos, mas esse parecia ter saído dos sonhos de qualquer pessoa que goste de homens.  

Ele tinha uma barba rala, o cabelo num corte quase militar e olhos verdes que de longe brilhavam com um interesse disfarçado. Eu não podia ver muito do corpo, mas a sua camiseta social quase rasgando nos biceps dava um sinal claro de que ele estava bem familiarizado com a academia. O queixo quadrado parecia ser de família, mas havia algo travesso nele e eu apostava que covinhas apareciam em suas bochechas quando ele sorria.

Devo ter demora mais do que seria normal, pois o bonitão deu um risinho de desdenho e voltou a sua atenção para a mãe. Tia joana pigarreou e me trouxe de voltar para a realidade.

- Tato querido. Eu imagino que você não reconheça os seus primos depois de tanto tempo. Mas vamos lá! O Caleb você já conheceu, então dá para imaginar que esse é o Caio - disse ela com um tom de voz divertido apontando para os gêmeos. 

- E ai Vossa Alteza - Me cumprimentou Caio com deboche.

- Deixa disso Caio. Bem , esse é o meu mais velho, Leo. Você não deve lembrar muito dele, pois quando vocês vinham para cá ele raramente estava em casa. Ele passou uma grande temporada estudando em uma escola militar e quase não o víamos por aqui. 

Leo não fez nenhum sinal de cumprimento. Seus olhos analisaram cada centímetro do meu corpo e de repente estar com aquele casaco neon me pareceu uma ideia muito, muito ruim. Quando finalmente ele chegou na minha cara, ele soltou sem nenhuma cerimônia:

- Podemos esperar a sua estadia até quando?  

Tia Joana quase engasgou e assumiu um tom vermelho muito forte antes de gritar:

- LEONARDO! Pare imediatamente com isso! Eu esperava mais, pelo menos de você. Não ligue para eles Tato, os meninos são um pouco territorialistas. Não tem nada a ver com você.

 - A tem sim. - Disse o mais lindo que ainda não havia sido apresentado. Seu olhar estava fixo no meu e seus olhos pareciam ver os meus segredos mais oculto. 

Não precisava ser um gênio para saber então que aquele era o Gabriel. Embora eu tivesse mais contato com os gêmeos nas minhas férias infantis, Gabriel era uma figura sempre presente nas minhas lembranças de Parnaí. Ele era mais velho do que eu por pouco mais de um ano, sempre nos acobertava quando fazíamos algo de errado, tinha um sorriso travesso e algo mais parecia querer vir à tona nas minhas lembranças, mas eu não sabia o que. 

Bancar o mimado faria a minha estadia ali ser pior do que já estava sendo. Eu tentei me concentrar em dar uma resposta educada, mas a raiva que eu vi nos olhos de Gabriel me fez perder o controle. Algo em ser encarado com desprezo por ele não parecia certo. 

- Então, por favor, me diga o que eu fiz de tão horrível para ser tratado assim. Vocês não podem me julgar, vocês nem me conhecem!  

Antes que eu pudesse processar, eu já tinha dito aquilo num tom de voz mais alto do que pretendia.  Talvez tenha sido uma tentativa de tomar algum controle diante daquela recepção nada calorosa, mas o fato é que o rosto de todos na mesa endureceram. Até Tia Joana pareceu magoada com a minha resposta. Droga

- Me desculpem. Lógico que vocês não me conhecem e é exatamente por isso que estão me tratando assim. - Disse olhando para as minhas mãos. A sala havia ficado ainda menor de repente.

- Tato querido ... Tia Joana suavizou a sua expressão e começou explicar  

- Está tudo bem tia, eu entendo. A verdade é que eu queria estar aqui o mesmo tanto que vocês me queriam aqui. 

- Então você queria estar aqui bastante, pois é assim que nós nos sentimos não é meninos? - A ênfase nessa última frase provava exatamente o contrário.

Silêncio.

- Não é meninos? 

O olhar que tia Joana lançou para cada um dos filhos teria me feito deitar no chão em posição fetal e falar qualquer coisa que ele pedisse. Mas o efeito nos quatro brutamontes foi apenas uma mistura de ruido e algo que parecia um "claro". 

- Agora sente-se querido. Eu fiz um assado de marreco, você gosta? - Ela me perguntou com um sorriso no rosto que tornou impossível dizer que não. 

- Lógico. - Respondi forçando o melhor sorriso que conseguia.   

- Você já comeu um marreco na vida? - Perguntou Caleb com aquele ar provocador.

- Erh... hum.. já ....claro! Lógico. - Respondi enquanto buscava na mente exatamente o que era um marreco.

- E que gosto tem mesmo? - Perguntou Caio com a mesma malícia do irmão gêmeo. 

- De marreco ué. Que cortinas bonitas tia, amei esse tom de amarelo!  

Eu precisava urgentemente desviar o assunto do marreco. A última coisa que eu precisava era parecer ingrato.  E eu não estava mentindo, as cortinas eram bonitas e traziam vida para a sala.

- Obrigada querido. Eu troquei tem uns dois meses, pois achei que a sala precisava de um tcham. Lógico que nenhum dos meninos reparou, então muito obrigada por falar. Ouvir isso de alguém com um gosto tão refinado significa muito. 

Caleb e Caio engasgaram em sincronia. Uma explosão de risadas saiu dos dois e contagiou os outros dois mais velhos para o horror de tia Joana que corava. 

- Bom gosto? Ele parece um cone de transito com essa blusa! 

Ok..eu realmente não teria um momento de paz.  


O preço do nosso amor (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora