- Você está tão calado hoje Tato. Tem alguma coisa errada? - Perguntou minha mãe com um ar preocupado, me trazendo de volta do turbilhão que estava na minha cabeça.
- Nada demais mãe, só estou pensando em ..algumas coisas.
- Algo em particular que você gostaria de compartilhar conosco? - Meu pai , que estava estranhamente calado durante o nosso jantar, me pergunta parecendo adivinhar a resposta.
- Não.- Menti
-Vocês estão prontos para pedir. - O garçom nos interrompe e eu quase dou um beijo nele.
-Sim, eu vou querer o Filet mignon ao molho mostarda com o arroz pilaf. Querida?
- Ah , eu vou querer o mesmo. - Sorriu minha mãe.
- E o jovem? - O garçom abriu um sorriso de quem sabia que a gorjeta sempre era poupuda quando vínhamos ao Marujo.
- Eu vou querer um cheeseburger com bacon extra.
- Você não vai pedir um hamburguer! Escolha uma comida de verdade - Resmungou meu pai.
- Affe pai. Não estou com muita fome, pode ser só o cheeseburger mesmo moço.
- Você sempre faz o que quer não é Tato? - O tom na voz do meu pai me acendeu um alerta. Será que eu tava tão perdido remoendo a conversa com Lucas que deixei escapar que meu pai estava tão mal humorado?
- Perdão, não entendi. - Respondi confuso olhando para minha mãe que desvirou o olhar.
- Aqui não é o lugar Carlos, podemos conversar isso em casa mais tarde - Minha mãe interrompeu o que quer que meu pai fosse falar.
- Não! Espera! O que está acontecendo? - Exigi saber.
- O Lucas nos procurou hoje a tarde. Você tem algo a nos dizer Tato? - A voz do meu pai soava tão fria quanto a sensação que invadiu o meu estômago.
Depois da conversa com Lucas, eu fiquei rodando pela cidade por algum tempo até me recompor. O que o Lucas tinha ido fazer na minha casa enquanto isso? Será que ele tinha ...
- O Lucas foi me procurar em casa hoje a tarde? - A indignação da minha voz parece ter adicionado mais raiva no sei lá qual motivo meu pai tava tendo pra fica daquele jeito.
- Não... ele veio NOS PROCURAR.Por sorte eu tinha esquecido alguns documentos em casa e tive que voltar pra pegar. Quando eu estava saindo, dei de cara com o coitado com os olhos inchados de tanto chorar e vermelho que nem um pimentão pensando se ia ou não bater na nossa porta.
- E o que o Lucas queria falar com VOCÊS? - A minha voz ficava mais alta a cada frase que eu falava e uma raiva começava a borbulhar dentro de mim.
- Querido ele nos contou sobre a mãe dele que está doente e que ele precisa de ajuda.. - Minha mãe se intrometeu, pois sabia que meu pai usaria palavras menos brandas para conversar comigo.
- E ... ?
Ok , eu tinha sido um idiota. O fato da mãe de Lucas estar doente era algo sério. Até eu sabia que quando a raiva passasse, provavelmente eu sentaria com meus pais , explicaria a situação e conseguiria o dinheiro para o tratamento. Mas naquele momento, tudo o que eu pensava era como os meus pais não expulsaram aos chutes o cara que quebrou o coração do filho deles.
- E? E Sr Tato Baseggios? E que ele nos disse que te pediu o dinheiro em várias ocasiões e você se negou a ajudar! A mãe desse garoto pode morrer porque você colocou o seu orgulho na frente do que é o certo a fazer. Pelo amor de Deus , você amava esse garoto e agora recusa ajudar a mãe doente dele? - Meu pai falou tão alto que metade do Marujo já estava olhando pra gente.
- Você está certo, eu A M A V A o Lucas. Até ele me trair e partir a droga do meu coração. - Com meus gritos a outra metade do Marujo que ainda não estava vendo o nosso showzinho, com certeza tinha parado de comer para nos observar.
- Vocês dois se acalmem. Não precisamos fazer uma cena. - Interviu minha mãe dando sorrisos de desculpa para as mesas ao lado.
- Essa mulher sentou na nossa mesa nos almoços de família, ela recebeu você como um filho na casa dela, ela confiou o amor do filho dela pra você.. pelo amor de Deus , ela mandava toda semana uma torta de banana para nós. - Refletiu meu pai.
- Que o senhor odiava. - Antes que pudesse me refrear já tinha dito.
Me preparei para a explosão que viria, mas ela não veio. Ao invés disso meu pai abaixou a voz e disse sem olhar nos meus olhos:
-Tato eu nunca me senti tão decepcionado com você como estou me sentindo agora.
- Querido... - Minha mãe colocou a mão por cima do braço do meu pai, mas ele só conseguia olhar para o prato vazio em sua frente.
- É sério Luci. Demos tudo para esse menino, fomos mais compreensivos que qualquer outros pais que lidam com a descoberta de um filho gay. Desafiamos tudo e a todos para que ele pudesse ter uma vida justa, digna, sem preconceitos. Demos de tudo para ele, as roupas mais caras, o melhor ensino, tudo o que ele quis, mas falhamos no principal. Se ele não consegue entender que tudo isso não serve se não for para ajudar alguém, eu sinceramente não sei o que fazer.
Eu tinha um milhão de coisas para rebater. Eu não sabia o que Lucas tinha dito, mas com certeza não era 100% da verdade. Eu não sabia da sua mãe doente até aquela tarde e para sermos justos, ele tentou me reconquistar pensando que assim seria mais fácil conseguir o dinheiro. Mas ver meu pai tão decepcionado e falando tudo o que já fez por mim, me fez perceber que eu ignorava muitos dos sacrifícios que eles tiveram que fazer por ter um filho gay.
O garçom chegou com os nosso pedidos, mas ninguém mais estava com fome. Minha mãe pediu para que embrulhassem o jantar para viagem e nós seguimos para o carro sendo vigiados por vários pares de olhares curiosos.
O caminho para casa foi silencioso. Ninguém falou nada, não ligaram o rádio e eu não tive coragem nem para mandar uma mensagem para Rosário pedindo ajuda. Quando finalmente estacionamos na garagem, meu pai respirou fundo e quebrou o silêncio:
- Eu não posso admitir que um filho meu se torne um monstro. Arrume a sua mala, nós vamos sair em 15 minutos.
Antes que eu pudesse perguntar para aonde, meu pai já estava fora do carro com minha mãe na sua cola perguntando coisas que ele se recusava a responder. Meu coração batia forte e eu imaginava se meu pai iria me jogar num reformatório ou até mesmo no meio da rua. Seja o que for, eu não estava preparado para onde ele iria me mandar.
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O preço do nosso amor (Romance gay)
RomanceTato sempre teve a vida perfeita: rico, popular e com pais que o aceitam como ele é. Sua maior preocupação era com qual combinação ele iria desfilar pelos corredores da Castro e Silva no próximo dia. Mas as coisas estão prestes a mudar. Obrigado a...