Capítulo 2

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-  ... e assim vamos seguir confiantes de que o amanhã reserva dias ainda melhores. É com esse espírito de otimismo que eu termino o meu discurso dizendo talvez a coisa mais importante até aqui : curtam as férias suas vadias!   

Uma explosão de aplausos enche o ginásio e eu sei que cumpri com meu dever. O Sr. Ferreira me lança um olhar de reprovação pelas minhas últimas palavras, mas permanece batendo palmas.  

- Uau ! Você foi demais! Arrasou viado! - Me parabeniza Rosário assim que eu sento do seu lado no alto da arquibancada. 

- Você gostou mesmo? Não achou meio cafona aquela história toda de "espírito de otimismo" ?  - Pergunto meio inseguro. Se alguém não vai mentir para mim, esse alguém é a minha melhor amiga Rosário.

- Você está louca? Gato depois que a palavra "vadia" saiu da sua boca, ninguém vai conseguir se lembrar de outra coisa além disso.  

Dou uma risadinha para ela e finjo prestar atenção na palestra sobre DSTs que o professor de educação sexual está dando. Seria mais fácil prestar atenção se alguns lugares abaixo um par de olhos verdes não insistisse em procurar os meus . 

Tem sido assim desde que acabamos. Toda vez que eu e Lucas estamos no mesmo ambiente, ele fica me encarando com aqueles olhos pedintes, parecendo um cachorrinho na beira da mesa do dono durante um baquete.

Eu sei que parte disso é minha culpa. Desde que  eu descobri que Lucas tinha ido visitar o ex namorado em outra cidade (um dia depois do nosso aniversário de 6 meses) e ainda veio com uma desculpa de "emergência familiar" para cima de mim, ele tem recebido o tratamento real do silencio. E não apenas de mim, qualquer pessoa com o mínimo de juízo nessa escola faz o mesmo. 

Se não por mim, por Rosário. Todos sabem que somos inseparáveis desde a quarta série, quando ela não tinha o corpo escultural que tem hoje e ainda usava os aparelhos que lhe deram esse sorriso de propaganda de pasta dental. Os caras babam por ela, as garotas querem ser ela e os gays desejam mais do que tudo chamar sua atenção e entrar no exclusivo clube dos que governam essa escola. 

Por outro lado, os caras querem ser meus amigos a todo custo para que eu fale bem deles para Rosário, as garotas babam nas roupas que eu uso todos os dias para vir pra escola e os gays .... eles são meu exército pessoal. Graças a mim e a Rosário o preconceito não existe nos corredores da Escola Castro e Silva.  Lógico que o fato de sermos os mais ricos da escola nos ajudou a botar as coisas em ordem. 

A família de Rosário é dona de uma rede nacional de shoppings. Isso significa que enquanto a maioria das pessoas da Castro e Silva esperam suas férias ou alguma data importante para viajar para Aspen ou Orlando, Rosário pega seu jatinho e vai para Nova York no fim de semana quando está entediada. A maioria dos alunos da Castro e Silva é rica, mas Rosário é mais. 

- Ele continua te encarando. Será que ele não cansa disso não? - Me pergunta Rosário com aquela irritação protetora que me fez amá-la desde quando nos conhecemos. 

- Deixa ele. Pelo menos ele desistiu de tentar contato. Faz uma semana que ele não tenta me parar nos corredores, nem deixa bilhetes no meu armário ou me manda mensagens - Digo mexendo os ombros em sinal de contentamento. 

- Espera aí. Isso é um sinal de arrependimento que eu estou vendo ? 

- Não! De maneira nenhuma. Só estou dizendo que eventualmente os olhares vão parar também.  - Respondo sem saber se eu realmente acredito nisso.

- Olha eu sei que é um território perigoso, mas porque vocês dois não conversam de uma vez? 

Lanço para Rosário um olhar predatório e ela logo completa:

O preço do nosso amor (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora