O despertador toca a minha música favorita da Ariana Grande e eu reluto um pouco antes de abrir os olhos. Minhas mãos tateiam até achar o botão que abre as cortinas e.. pronto. Automaticamente o meu quarto, que estava num breu total, começa a ganhar cor.
Eu me espreguiço e obrigo o meu corpo a se levantar. Hoje é o último dia antes das férias do meio do ano, isso significa que eu tenho que mostrar muita alegria pelos corredores da Castro e Silva caso queira manter minha história disfarce de pé.
A versão pública é que eu estou indo para uma maravilhosa viagem ao redor da costa do Pacífico em um cruzeiro exclusivíssimo acompanhado de um boy americano semi-famoso que eu obviamente não posso revelar o nome. Essa é a maneira mais fácil de conseguir que ninguém me encha a paciência sobre detalhes de onde eu vou nas férias.
E também justifica o fato que de que eu não vou postar absolutamente nada sobre esse tal cruzeiro. Mas ainda assim, toda essa história torna as minhas férias emocionantes o suficiente para que todos morram de inveja.
A realidade porém é bem menos interessante. Meu pai e minha mãe conseguiram me prender numa armadilha que inclui ir visitar parte da família nesse verão. E eu não estou falando da parte interessante da família. Estou falando da família do lado do meu pai.
Nada de tia Nena, que sempre está morando em algum lugar exótico e divertido como o Tibet, não ..não, nada disso. Estamos falando da parte da família que a gente finge que não existe... bem pelo menos EU finjo que não existe.
Faz tanto tempo desde que eu vi o tio Marcelo, tia Joana e seus quatro filhos: Gabriel, Leo e os gêmeos Caio e Caleb, que nem sei se ainda posso chamá-los de família. Eu devia ter uns sete anos quando fizemos aquela última viagem para o interior e meu pai nos obrigou a ficar uma semana vivendo no meio do mato com eles. Só de lembrar me dá arrepios.
Mas concordar com essa viagem foi a única maneira que eu consegui pra me livrar das duras que eu vinha recebendo desde que bati o meu Jeep depois de beber um pouco..... Ok, beber bastante... depois de um after na casa da minha melhor amiga , Rosário.
Se passar uns dias na selva era o preço que eu tinha que pagar para que as coisas voltem a ficar de boa em casa, eu estava disposto a me sacrificar. Mais um sermão sobre como eu " preciso começar a valorizar a vida que tenho" e eu me jogo da varanda do meu quarto. Aparentemente meu pai acha que uma semana com tio Marcelo e a família vai me ajudar a ver a vida com outros olhos.
E para garantir que eu realmente viva essa experiência, os dois vão junto comigo para essa "maravilhosa" jornada. Obviamente minha mãe não esta muito empolgada com a ideia, mas ela jamais admitiria que também não está feliz em passar uma semana naquela cidade ... peculiar. Porque se tem uma coisa que eu lembro sobre Parnaí é: o que falta em modernidade naquele lugar, sobra em mato.
Afasto minhas lembranças daquele fim de mundo e me arrasto até o meu closet. Hoje, ao contrário de todos os meus outros dias, eu não preciso pensar muito no que vou usar. Meu conjunto Prada estava guardado há duas semanas esperando por esse momento. Afinal é preciso deixar algo para que as pessoas tenham o que fofocar durante as férias não é mesmo? E eu tenho ! Aposto que a calça de veludo roxa com aquela camisa branca com bordados prata e meu colete do mesmo material da calça farão todo o trabalho.
Na cozinha, Maria já está servindo a mesa com todas as tentações que alguém é capaz de pensar. É como se a gente tivesse uma padaria dentro de casa , o que faz com que eu tenha que gastar horas extras na academia para não virar uma orca. Porque é impossível passar pela cozinha e não pegar pelo menos uma rosquinha.
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O preço do nosso amor (Romance gay)
RomanceTato sempre teve a vida perfeita: rico, popular e com pais que o aceitam como ele é. Sua maior preocupação era com qual combinação ele iria desfilar pelos corredores da Castro e Silva no próximo dia. Mas as coisas estão prestes a mudar. Obrigado a...