O preço do nosso amor (Romance gay)

Capítulo 10

O jantar passou num silêncio de enlouquecer qualquer um. Mesmo com todos os esforços de tia Joana para puxar um assunto, parecia que a lei do silêncio tinha sido decretada. 

Quando tudo acabou, eu me ofereci para lavar as louças, embora a minha ideia de lavar louças seja colocá-las no lava louças e apertar alguns botões. Algo me diz que eles não têm uma dessas por aqui.

Peguei o máximo de pratos que pude e fui pra cozinha apenas para constatar que eu estava absolutamente correto. Olhei para a pia com um potinho de margarina com uma esponja amarela e um detergente do lado. Bem, não deve ser algo tão difícil assim não é mesmo?   

Peguei a esponja e vi que ela não era apenas amarela, mas tinha também uma parte mais áspera verde escura.  E agora ? Qual parte eu devia usar? Será que tinha diferença entre elas?

Enquanto eu debatia, Caleb entrou na cozinha trazendo os copos e os talheres que eu não tinha conseguido equilibrar.

- Vossa majestade esqueceu isso aqui na mesa, já que você se....

Caleb parou de falar e ao perceber o meu olhar de dúvida para  esponja caiu na gargalhada. 

- Ah não. Eu não acredito que você NUNCA lavou uma louça na vida? Isso é demais... Oh pessoal o Ta...

Antes que eu pudesse pensar no que estava fazendo, eu pulei e tapei a boca de Caleb evitando que ele me humilhasse ainda mais na frente de todos. Por um segundo eu percebi sua cara de surpresa e logo em seguida um sorriso debochado se abriu por baixo da minha mão que tapava a sua boca. 

Ele levantou as mãos como se estivesse se rendido e finalmente tirou a minha mão com a sua. 

- Ok, ok. Acho que você já teve a sua dose de humilhação do dia 

- Do dia? Tente do século! Não, não .. do milênio.   - Respondi vencido.

- Que é isso. A gente tá pegando leve ainda.. por enquanto. 

Eu tinha duas opções aqui: ou eu podia ficar com medo da ameaça e dar a ele o poder que ele queria ou eu podia fazer o que Lady Gaga havia me ensinado de mais importante: pokerface. Escolhi a segunda.

- Pois traga o seu pior. - Disse com um sorriso quase inocente.

Pela segunda vez eu vi surpresa aparecer no rosto de Caleb naquela noite. 

- Pode deixar priminho. - Disse ele saindo da cozinha, mas parando na porta - E você deve lavar a louça com a parte amarela. Se você lavar a louça preferida da minha mãe com a parte verde, ela provavelmente vai te matar. 

Um gesto de bondade? Quem diria. 

Comecei a lavar a louça e fiquei pensando em tudo o que aconteceu nas últimas 48 horas. Tudo ainda parecia um pesadelo. Foi quando tia Joana entrou na cozinha e percebi que ela fazia uma grande força para não rir. Do que , eu não sei, a menos que essa montanha de espuma não seja normal quando se lava louça.

- Precisando de ajuda Tato?   

  - Não, tudo sob controle por aqui. 

- Estou vendo - disse ela ainda disfarçando uma risada. - Na verdade eu vim aqui para informar o seu cronograma de amanhã. 

- Cronograma? - Uma sirene de alerta soou na minha mente. Como assim? Eu não ia passar o dia inteiro na cama? 

- Sim. Na verdade nos próximos dois dias eu vou ter que resolver umas coisas na cidade vizinha e você não pode ficar aqui sozinho o dia todo né? 

Um terror começou a se espalhar por cada parte do meu corpo. Ela realmente tinha dito PRÓXIMOS DOIS DIAS? E eu só estava sabendo disso agora?  Se eu não ia passar esses  dias com a Tia Joana significa que ...

- Falei com os menino e todos eles vão se revesar levando você para o trabalho. Bem, todos menos o Leo, pois como ele é policial não dá para ter você em perigo.  De qualquer maneira,  amanhã você vai ficar a manhã com o Gabriel e a tarde vai para a farmácia com o Caleb.

Todo o sangue do meu corpo deve ter sido drenado. Eu podia sentir as minhas mãos formigando. Eu passaria uma manhã inteira com Gabriel? Só a lembrança do rosto dele fez um arrepio subir pela minha coluna. 

- Tato? Tato? Você está bem querido? - Perguntou tia Joana com um tom preocupado.

- Tudo sim tia. É ... eu não quero atrapalhar a rotina de ninguém. Eu poderia ficar aqui sozinho, sem problemas. 

- Imagina Tato. Não é problema nenhum. Eu tive uma conversinha com eles e todos prometeram que vão te tratar muito bem. Eles só ... têm certa dificuldade com pessoas novas. Entenda, nós somos uma cidade pequena, raramente temos oportunidade de conhecer pessoas diferentes. 

Eu sei que tia Joana estava tentando ser legal, mas a única palavra que ficou na minha cabeça foi "diferente".  Eu não tinha parado para pensar no tanto que a minha vinda para cá poderia impactar a pequena Parnaí. Se na cidade grande eu já causava alguns choques, imagina aqui. Principalmente para os Baseggios. 

- Lógico tia. O que a senhora falar, eu faço. - Foi tudo o que consegui responder. 

- Vai dar tudo certo meu filho. Você vai ver. Então assim que acabar de secar os pratos, vá dormir ,pois você vai ter um dia cheio amanhã.

Ela deve ter percebido a minha confusão na parte de secar os pratos, pois ela apontou com a cabeça para o pano que estava pendurado no fogão. 

- Boa noite querido. Até daqui dois dias.

Eu queria chorar, grudar na cintura dela e implorar para ela me levar com ela para onde quer que ela fosse.  Mas ao invés disso eu engoli o choro e disse:

- Boa noite tia. Vou sentir sua falta.

Acho que essa segunda parte a pegou desprevenida, pois seus olhos encheram de água. Mas ela apenas assentiu e saiu da cozinha. 

Alguns minutos depois de secar todos os pratos que eu já tinha lavado (se continuasse nesse ritmo, eu não precisaria nem me preocupar com academia), finalmente sai da cozinha. Apenas para dar de cara com Gabriel com cara de poucos amigos na ponta da escada. 

- Esteja pronto amanhã às 6h30. - Disse de forma ríspida e virou as costas. 

Ele mal tinha chegado até metade da escada quando virou e disse:

- E por favor use algo decente. Não aceitamos palhaços na prefeitura. - rosnou.

A minha boca se abriu em choque e antes que eu pudesse responder ele já havia subido e eu escutei uma porta bater com força. 

- Boa sorte priminho. - Caleb me deu um baita susto aparecendo atrás de mim e falando de forma irônica no meu ouvido. 

Sorte. Parece que eu realmente iria precisar .. Eu só não sabia o quanto que isso era verdade.