Ela caminhava na rua. Estava sozinha. Ao pisar na calçada, na esquina de um grande prédio, foi recebida com a alegria de quem tem a inocência no coração.
— Ei, Sophia! — Uma menina de cabelos claros vinha andando em passos apressados em sua direção. — Como você está?
— Evy! — A alegria de estar ali acalmava seu coração. —Estou bem! — Elas se abraçaram e caminharam juntas na calçada.
— Evy! Sophia! Para onde vocês pensam que vão?! — outra menina, com um sorriso terno, esperava por elas em frente a um grande portão de ferro.
Elas riram.
— Ingred! — Disse Evy, em meio a um sorriso. — para onde pensa que nós vamos?
— Será se ficaremos na mesma turma este ano? — perguntou Sophia. Ela não queria se separar das amigas.
— Não sei... — respondeu Ingred, mas sem perder a alegria. — Mas este ano, vocês não vão me fazer carregar todas aquelas "tralhas," viu?
Sorrindo, as três meninas caminharam até outro portão que dava acesso a um imenso pátio. O ano escolar de 1994 começara.
Sophia era uma menina doce, cabelos negros ondulados, olhos negros como que olhos de um pássaro, voz suave, meiga e levemente rouca. Muito observadora, aprendia tudo com facilidade; tinha uma perspicácia absurda e amizades firmes, mas não pensava em nada além do futuro intelectual e na possibilidade de fazer uma faculdade.
Todas as manhãs, ela fazia o mesmo caminho: sob o sol de mais um dia, caminhava por vinte minutos até chegar ao colégio. Seu colégio ficava numa ilha, a ilha onde nascera. Ao caminhar, diante de seus olhos se mostravam um rio, pássaros, pescadores, carroças e muitas pessoas. Aos 14 anos, só queria estudar e estudar; sair da Ilha era seu sonho e o único caminho era o colégio.
O Colégio era muito grande para Sophia: quatro andares imponentes, tomando todo um quarteirão, no centro da Ilha.
O Segundo andar do colégio comportava as cinco turmas de 7ª série e as cinco turmas de 8ª série. Na metade do corredor havia duas escadas, dois lances separados tocando o chão, que se transformavam em uma escada solitária, e, novamente, se transformava em duas escadas, chegando a outro corredor. À direita ficavam as salas da 8ª série, e duas salas de estudos; à esquerda, as salas da 7ª série, o auditório, e a sala de reuniões individuais, a sala da conselheira. A sala de Sophia era a segunda do lado oposto à escada e duas salas antes do auditório.
As salas de aula tinham vinte e cinco carteiras, individuais, em madeira marrom claro, com assentos e escrivaninhas conjugados, e a uma pequena distância umas das outras. A estatura determinava quem sentaria na frente ou no fundo da sala: menor estatura na frente e mais altos no fundo. A mesa do professor ficava à frente de um quadro verde; a mesa parecia ser bem pesada. Um relógio sobre o quadro verde marcava as horas sem pressa. Às vezes, fazia-se tanto silêncio que dava para ouvir o barulho dos ponteiros se movendo. Contudo, o barulho mais esperado era o do sinal da troca de professores e da campainha do intervalo; o som mais temido era do pequeno salto do sapato da Irmã diretora subindo às escadas, pois todos sabiam que alguém havia feito algo de errado.
O Colégio pertencia a irmãs Agostinianas, e a educação levava com muita seriedade valores e fé. Um colégio dirigido por Freiras, algo bem incomum, mais incomum do que a Ilha. As freiras cuidavam do bem estar de meninos e meninas; era um colégio misto, misto de histórias e de sonhos.
Os corredores e a ordem com que os estudantes entravam nas salas e se colocavam sentados em suas cadeiras, com postura reta, de frente a suas escrivaninhas, impressionavam quem ali entrava pela primeira vez. Meninos e meninas na faixa etária de 12 a 17 anos, concentrados e compenetrados nos estudos e obedientes às regras.
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Todas as Manhãs
RomanceA vida é feita de memórias. Lindas e doces lembranças feitas com o tecido de grandes amizades, amores, gestos de afeto e muitas palavras. Essas memórias podem ser de muitas cores, mas formam uma única pintura. O livro "Todas as Manhãs" conta a hist...