A carta

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"Quando houve a mudança de uniforme do Colégio, vi que usaram como símbolo um barco, a navegar, guiado por uma estrela ao longe, no horizonte. Ao ver esse símbolo, muitas coisas me vieram à mente, e comecei a me ver naquele barquinho, acho que eu me confundira com aquela nau.

No mar da vida, somos barcos, levados por ventos fortes ou por calmarias, e a única forma de nos guiarmos nessa imensidão de muitas águas é olhar para o horizonte e ver uma estrela brilhante, que não se apaga, seja dia ou seja noite.

A estrela é aquela centelha de esperança que todos temos no fundo da alma e que diante das contingências da existência, nos dá certo equilíbrio para continuarmos a navegar. A esperança é o guia, o mapa de navegação, a força que controla os ventos.

Numa Ilha, a vida ganhou contornos fortes e distintos, quando me vi caminhando naqueles corredores, subindo as escadas, e ao passar um tempo naquelas salas de aula.

Ali, a nau da minha existência começou a se construir e a ganhar forças para seguir viagem.

No primeiro ano, a sensação de vestir o uniforme clássico, romântico, inspirador. Viver as primeiras grandes amizades, descobri-las puras e únicas, cheias de alegrias e sorrisos despreocupados. Caminhar dia após dia em nova realidade, um novo momento, que hoje vejo como sublimes e repletos de significados.

No segundo ano, perceber o valor do conhecimento e seu poder; compreender sua importância para as realizações de fato verdadeiras; desejar conhecer, aprender, melhorar e ver os frutos disso na prática: em cada redação escrita, em cada cálculo resolvido, em cada questão discursiva pronta. O conhecimento começava a se tonar uma chave que abriria muitas portas.

No terceiro ano, o sol da primavera, em setembro, trouxe a descoberta de um amor platônico, nutrido de longe e de fato sem nunca poder se tornar realidade – Que bom que foi assim! O respeito e o carinho, a admiração e o limite fizeram que uma amizade desse lugar ao amor puro e verdadeiro, novo, mas como em "Longe dos Olhos" de Machado de Assis, apenas um conto. Mas o tempo tem bom remédio, e tudo no momento certo é um grande bem. Para o amor, a espera é a certeza de há verdade; de que o amor é verdadeiro. E o conto tornou-se realidade.

No quarto ano, o último ano, dei adeus à minha estrela no mar, que me viu crescer e me deu uma cosmovisão sólida, capaz de me fazer alcançar êxito no colegial, na faculdade e na vida intelectual como um todo. Reconheço a importância dos ensinos sobre valores morais e éticos aprendidos, pelo respeito à fé e o anseio por fazê-la germinar no coração de cada aluno.

Hoje, depois de mais de 20 anos, sinto saudades da minha estrela no mar, de tudo o que vivi e como cada momento contribuiu para a formação intelectual que tenho hoje. Como disse Santo Agostinho, o meu coração foi incendiado pelo amor ao conhecimento, a ser uma pessoa digna e a caminhar de acordo com a fé que está em meu coração.

Continuo a navegar e os ventos continuam soprando, mas a estrela ainda brilha no horizonte... Sei que ela nunca se apagará."

Com saudades

Primavera, 2015

Sophia

Ex-aluna do Colégio Agostiniano

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