Junho, 1994 Corações humanos

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Junho começou. Festas juninas e tudo o que elas trazem consigo. Mas as provas estavam deixando todos muito ansiosos, eram as avaliações que fechariam o semestre e Sophia continuava a dar aulas aos meninos.

— Então, lembrem-se que nas expressões algébricas, segue-se uma ondem para eliminar os sinais indicativos de prioridade. Ah, não esqueçam também que as operações com monômios e polinômios só são feitas corretamente quando damos atenção à parte literal e aos sinais indicativos de prioridade.

As provas estavam chegando e os meninos anotavam tudo e faziam muitas perguntas. Muitos exercícios e muitas expressões algébricas a resolver.

Irmã Magnólia olhava de longe e ficava encantada com a habilidade de Sophia. O que mais a impressionava era o respeito dos meninos e das meninas que também vieram estudar com ela.

Eles se ajudavam em tudo: nos exercícios e nas dúvidas. Todos sabiam que precisavam de boas notas. E Collin quase não conseguia controlar a ansiedade.

Na última semana de junho, começaram as provas. Em semana de prova, o Colégio parecia um lugar desabitado, não se ouvia barulho algum. As salas estavam como habitualmente, mas o silêncio era ainda maior.

No dia da tão temida prova de matemática, o Professor Ferro decidiu ficar na 7ªB. Na turma de Collin, 7ªA, ficou a Professora Ivone, a professora de Geografia. Collin ficou mais calmo.

Todos percebiam que em dias como aquele, mesmo se o Professor fosse muito tranquilo, como era o Professor Ferro, a preocupação e o nervosismo não deixavam ninguém em paz.

Naquela manhã, contudo, depois que eles receberam a prova e passaram a lê-la, viram que não havia com que se preocupar. A dedicação obteve recompensa.

Todavia, Charles, o aluno mais tímido da turma, filho do Sr. Andrade, o zelador do Colégio, não parecia bem. Ele deixou a folha de papel cair, e depois o lápis também caiu no chão.

Matt viu o que estava acontecendo. O olhar de Charles ficou parado. Em segundos, ele começou a tremer. Tremia tanto que não conseguiu ficar sentado na cadeira. Seu corpo foi se contorcendo até que ele estivesse totalmente estendido no chão. Os tremores continuaram. O Professor Ferro pediu que todos ficassem calmos, e foi até Charles. Depois, pediu que Matt fosse chamar o Sr. Andrade e a Irmã Ângela, a enfermeira do colégio.

Na turma, a consternação tomou conta de todos. Nenhum gracejo, nenhuma zombaria. Todos sabiam que aquele momento não era momento para brincadeiras.

Os tremores passaram. Mas Charles demorou um pouco para se levantar do chão. Irmã Ângela e o Professor Ferro o ajudaram a levantar. Matt perguntou se podia ajudar, mas a Irmã agradeceu.

Charles foi levado para a enfermaria. Ele parecia atordoado, sonolento. Depois que ele saiu, a turma fez uma prece.

O Professor perguntou se eles estariam dispostos a continuar com a prova. E todos concordaram em continuar.

Depois do almoço, eles decidiram quem visitaria Charles na enfermaria. Os que foram visita-lo trouxeram notícias boas para o resto da turma. E aprenderam sobre Epilepsia, e como poderiam ajudar Charles.

Às vezes, esquecemos que nossos corações são humanos.

A gentileza num dia de chuva

Raramente chovia na Ilha, mas no final da aula, numa tarde de junho, uma chuva fina e suave cobriu o céu. O cheiro da chuva, o som das gotinhas de água nas folhas das frondosas árvores se unia às jovens vozes do colégio. Os mais precavidos tinham em suas mochilas pequenos guarda-chuvas. Mas a maioria não tinha como se proteger da chuva, e muitos ficaram aglomerados sob as marquises do pátio lateral do Colégio.

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