Maio, 1994 O acampamento no casarão do farol

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         Depois que as provas bimestrais acabaram, as notas foram divulgadas. Cada um recebeu seu bocado de elogios e outros, o seu bocado de preocupações. Com o passar da tempestade, a calmaria demorou a chegar.

No meio de tudo isso, as irmãs preparavam, todos os anos, o Acampamento da Amizade. Elas acreditavam que os alunos e alunas precisavam de um tempo para distração e para se desligarem um pouco da cobrança das primeiras provas e para crescerem espiritualmente. E, em 1994, a semana do acampamento chegou bem rápido.

De repente, os ônibus esperavam na frente do Colégio. Na verdade, eles se enfileiravam; talvez, uns 10 ônibus. As turmas se organizavam uma a uma. Todos trouxeram mochilas e malas, e estavam sem os uniformes de todo dia. Pareciam jovens, adolescentes. Acho que pareciam mais com crianças.

Professores e freiras se ocupavam da condução das turmas aos seus respectivos ônibus. Os líderes e representantes de classe relatavam quem ainda não havia chegado e quem já estava pronto. O som das conversas paralelas encheu a rua naquela manhã de sábado, em Maio.

Na Ilha parecia que todos os dias eram dias de sol, e a chuva quando aparecia, deixava tudo mais bonito. O sol e a chuva dançavam juntos. Mas naquele dia, e nos dias que se seguiram, não choveu. E aquele sábado parecia o mais lindo de 1994.

Os ônibus saíram. Estavam todos cheios de estudantes entusiasmados. Aquela semana seria fora da rotina com certeza. Alguns viviam sua primeira ida ao acampamento. Outros estavam entusiasmados por poderem voltar. Mas havia aqueles que já estavam cansados e achavam tudo muito repetitivo. E no meio de tudo isso, havia alguns que ir ou não ir não fazia diferença alguma.

A 7ª série B e A dividiram o mesmo ônibus. Sophia, Evy e Ingred sentaram juntas e com elas Sam. Sam era uma menina doce e alegre (talvez bondosa demais). Era apaixona por Collin, mas ele não sabia disso. No ônibus, Sam sentou-se ao lado de Sophia. No banco da frente, ficaram Evy e Ingred. No fundo do ônibus, na bagunça, os meninos. Sophia e Sam queriam conversar sobre tudo e qualquer coisa. As quatro riram a viagem inteira. Riram de coisas bobas e até de coisas sérias. Mas sem garotos na conversa.

— Como é a nova turma sem suas amigas irritantes? —perguntou Evy, apoiando-se sobre os joelhos e olhando sobre o encosto do assento para Sophia.

— Fala Sophia! Como você está se virando sem suas amigas? — falou Ingred, jogando uma pequena almofada em Sophia.

Em meio aos risos, ela não entendia o porquê daquelas perguntas. Há quase quatro meses, suas amigas sabiam da rotina na nova turma e nunca perguntaram nada. Ela ficou um pouco desconfiada, mas deixou pra lá. Pensou que poderia ser o entusiasmo pelo Acampamento.

— Vocês não são nem um pouco irritantes. Tudo bem, vocês só me irritam um milésimo de segundo por dia, todo dia! Ah, e eu estou me virando muito bem. Mas se eu precisar faço sinal de fumaça!

— E o garoto novo? — perguntou Evy falando em voz baixa, quase sussurrando. Sophia ainda não dava sinais sobre o bilhete deixado na bolsa marrom.

— Evy, só você mesmo! Eu vou lá perguntar. Você quer que eu vá?

Sophia jogou a almofada em Evy e todas riram.

As quatro riam de tudo. Mas Sophia não estava interessada no garoto novo. Aliás, em nenhum garoto.

Sam ouvia a conversa das três, e se sentia meio "deslocada." Ela sabia que Sophia era amiga de todos os meninos que estudavam na mesma turma que ela. Sam até pensava que Sophia era namorada de Collin porque eles viviam conversando, às vezes, discutindo sobre matemática.

Outras meninas da 7ª série também não entendiam como Sophia conseguia a atenção e a amizade dos garotos. Para ela parecia tão fácil: conversava com eles, e eles até pediam ajuda a ela.

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