Todas as Manhãs

Setembro, 1994 Que o caminho continuasse...

Naquela primeira semana de setembro, as turmas da 7ª Série tinham vários e infindáveis trabalhos escolares para entregar. E o Professor Antônio Carlos resolveu fazer as coisas ficarem mais "fáceis;" reuniu todas as turmas no auditório e organizou um seminário diferente sobre história medieval e história moderna. Ele fez sorteios e formou trios para que pudessem encontrar mais informação sobre os temas e apresentar em uma espécie de feira, A Feira de História. No sorteio, feito com o auxílio de Thaise, Sophia e Mathieu ficaram juntos, no mesmo trio que ela.

Em dias assim, os finais de semana não existiam, e a vida era totalmente dedicada aos estudos. Mas, sempre havia alguns que não levavam muito a sério, e eram sempre aqueles que no final do ano estavam chorando para não serem reprovados.

Thaise marcou com Mathieu e Sophia para que se encontrassem num sábado, em sua casa; para que acertassem os detalhes da pesquisa e da exposição.

Falar sobre aquele tema não seria fácil, pois além da pesquisa, eles exercitariam a lógica na argumentação, a oratória, e o falar em público; eles teriam que responder a todos que passassem pelo local de exposição sobre aquele tema.

Thaise escreveu em pedaços de papel, com a letra mais caprichada do mundo, o seu endereço, e o horário que deveriam chegar; disse que os esperaria pontualmente, às 15h00, e ela era bem rigorosa com horários, não tolerava atrasos.

Mathieu sabia onde Sophia morava, e decidiu fazer uma surpresa.

No sábado, no dia da reunião do trio, ele apareceu sem avisar na porta da casa de Sophia. Bateu à porta e ela atendeu. Um pouco surpresa, perguntou se estava tudo bem. E ele respondeu que estava tudo bem. E falou docemente:

— Eu vim buscar você para irmos juntos à casa de Thaise.

Sophia ficou sem saber o que dizer. E por educação, concordou.

— Tudo bem... Eu já estava de saída. Vou pegar minha bolsa e podemos ir.

No caminho, ele ficou em silêncio. E Sophia começou a perceber algo diferente. Ela olhou para Mathieu e viu o sol iluminar seus cabelos ruivos e sua pele clara. Ele olhou para o lado, e ambos olharam por alguns breves segundos nos olhos uns do outro. Algo, com certeza, estava diferente.

— Você lembrou meu endereço? — depois da conversa com Evy, ela evitara conversar com Matt.

Matt assentiu.

— Eu adiantei as pesquisas, acho que temos muita coisa para a exposição. — ela tentava manter a conversa o mais superficial possível.

Matt assentiu novamente.

— Você está bem, Matt?

— Oui, mademoiselle!

Quando ficava nervoso, Matt não conseguia raciocinar direito em português e acabava dizendo algumas palavras em francês.

— Não entendi! Você está brincando?! — ela ficou reticente.

— Desculpe! Está tudo bem, Sophia! Está tudo bem.

— Então, acho que devemos revezar, sabe... para não ficar cansativo. Um tempo você, depois a Thaise e eu. Muitas coisas irão acontecer na Feira de História e se não quisermos perder nada, teremos que dividir as tarefas. Mas vamos conversar com Thaise. — ela começou a ficar insegura.

Ele assentiu.

Sophia queria esconder, em meio a todas aquelas palavras, que pensara muito em Matt desde que ele mudou de turma; que sentia falta dele na sala de aula. Ela queria saber por que ele mudou de turma e não outro garoto. Realmente, queria saber se estava apaixonado por ela; se estava, realmente, apaixonado. Mas, se importar demais com a vida das pessoas não fazia parte dela, e lidar com um garoto apaixonado estava fora de questão.