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As palpitações cardíacas sobressaltaram o peito, enquanto sua boca se abria, levando mais ar aos seus pulmões do que suas narinas poderiam fazer. Sua cabeça ainda latejava, como se alguém houvesse lhe dado uma marretada, quebrando seu crânio e fazendo seu cérebro ecoar uma dor quase insuportável. Os ouvidos, ainda sensíveis, ao menos haviam parado de zunir. Aos poucos, Kish voltava a retomar sua consciência.

Ao tentar abrir os olhos, percebera que estavam vendados, ditando um batimento célere ao seu coração, fazendo suas mãos se fecharem em punho. Seu corpo estava repousado num estofado cujo não reconhecia. Em sua casa, havia colchões macios e um sofá aconchegante. Já onde estava deitada, era duro e frio. 

Apurou os ouvidos para escutar algo, mas sua audição não captou nenhum som. Estava em mais uma de suas visões? Como havia parado naquela situação?

Sentindo um nó se formar em sua garganta e uma necessidade veemente de enxergar onde estava, a jovem tentou se levantar, porém, seus pulsos estavam presos, assim como seus tornozelos. 

Destiny tentava controlar seu nervosismo e as lágrimas de medo e anseio presas em seus olhos, enquanto debatia seus braços e pernas contra o estofado, tentando se livrar das amarras. O nó se fortificou em sua goela e seu coração bateu mais intensamente. 

Após o que pareceu longos minutos, vendo que havia gastado grande parte da sua energia tentando se soltar e falhando, respirou fundo e inspirou na mesma intensidade, buscando se acalmar. Onde eu estava antes de vir parar aqui? - questionou em sua mente, fazendo sua respiração se ofegar pela milésima vez. 

Recordou da visão que teve em uma floresta, de ter empurrado Laurence na cama, do olhar assombroso que sua mãe tentara esconder — mas sem êxito —, do horário avistado no relógio, de sua cabeça latejando ao extremo, fazendo seus ouvidos sangrarem com um zunido inconveniente, da fala de um garoto chamado Dustin, cujo no presente momento ainda não o conhecia — nem a ninguém de sua visão —, sobre um laboratório e... Brenner.  O medo e o anseio se misturaram com uma raiva descomunal, fazendo estes sentimentos consumirem suas entranhas como um fogo fortalecido pelo álcool, devastando as paredes firmes — mas não párias — de concreto, penetrando á parte de dentro e sucumbindo qualquer outro sentimento que pudesse existir. 

— Brenner! — gritou vorazmente, enquanto tornara a se debater no estofado. 

Destiny gritou mais duas vezes com toda a potência e fôlego que conseguia, mas ninguém viera. Não conseguia identificar o que era pior. Ficar ali amarrada e esquecida ou que Brenner fosse vê-la. 

Seus olhos queimaram como cloro e lágrimas escaparam por eles. Então era isso o que Laurence havia tentado evitar durante todos esses anos? - pensou. Como podia ter sido tão burra e confiado em Brenner? Não percebera que o namorado não era um simples doutor, mas sim, um homem ardiloso? Como Laurence se deixou levar por esse romance?

Como eu me deixei levar pelas palavras idiotas dele? - refletiu e, mais uma vez, se debateu no estofado. 

No silêncio, a mente de Destiny Kish iniciara a confabular diversas vertentes do que poderia lhe acontecer e quais consequências sua mãe poderia sofrer por ter exilado a própria filha durante dez longos e monótonos anos. Brenner mataria Laurence e assumiria a guarda de Destiny, fazendo-a passar por diversos experimentos e, no fim, a mataria? Mataria Destiny e deixaria Laurence viva para arrancar-lhe informações sobre como se manteve escondida e a salvo das garras do governo durante todos esses anos e, em seguida, a mataria? Deixaria ambas vivas e realizaria testes durante mais anos do que pudessem imaginar e, depois, quando já estivessem desgastadas e com os neurônios queimados, as mataria? Não importava quais confabulações passassem pelo seu cérebro, no fim, todas envolviam o fim da linha para ambas. 

Push me Harder ✧ Stranger ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora