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Quatorze dias se passaram desde o momento em que Destiny conversou com Brenner. Durante essas trezentas e trinta e seis horas, não havia um minuto se quer em que a jovem não pensasse em como faria para sair daquele cômodo minúsculo e, em sequência, do laboratório, tendo domínio suficiente sobre seus poderes para usá-los com toda a força contra Slenderman

Achava ruim permanecer em exílio dentro de sua casa, mas não sabia o quão ruim poderia ser permanecer isolada e sem ver o rosto de absolutamente ninguém durante tantas horas seguidas. O único breve contato humano que tinha era o de uma mão abrindo um pequeno e largo buraco na parte de baixo da porta de ferro, passando uma bandeja com apenas uma garrafinha d'água e um mingau de aparência não tão agradável. Após terminar a refeição, dava duas batidas na porta, o buraco se abria e, então, a mão recolhia a bandeja. Aquela refeição era servida duas vezes ao dia, o que Kish julgava ser os horários do café da manhã e da janta, mas não tinha certeza. O tempo a enganava constantemente. Quando pensava ter se passado apenas uma hora, a bandeja retornava para dentro do cômodo. Enquanto, em alguns momentos, quando julgava ter se passado horas a fio, na verdade, haviam se passado minutos. 

Nos primeiros dias, Destiny chorava e pensava a todo momento na mãe. Se Laurence realmente havia a abandonado ou se tal afirmação não passava de uma manipulação ardilosa de Brenner. No fim das contas, decidiu bloquear qualquer lembrança ou pensamento que trouxesse a face e os trejeitos da mãe em sua memória, caso contrário, sabia que perderia a cabeça. E isso incluía não pensar se a mãe havia a abandonado.

A melancolia a dominou. Não falava com ninguém, nem consigo mesma. Após quatro dias sem falar, havia se esquecido como era o tom da própria voz. Depois de uma semana, já não se recordava sobre muitas coisas como, por exemplo, o tom da voz de Laurence. A única coisa que ainda estava fresca em sua memória eram os olhos esverdeados da mãe, uma das coisas que lutava para esquecer, juntamente com todas as outras memórias já vagas em sua mente. 

No decorrer da segunda semana, ao invés de tristeza, seu sangue ardia em raiva. Deixou no lugar da melancolia, da saudade e da culpa, o sentimento de ódio culminar em seu peito, se alastrando rapidamente como ervas daninhas em um jardim mal cuidado. O anseio permanecia presente, mas como um sentimento secundário. Desta forma, a jovem se prendia em pensar como mataria Brenner. Qual deveria ser a forma mais eficaz. Não, não... Eficaz significaria que o homem não sentiria dor o bastante, e ele deveria sofrer. Deveria queimar. Repassando de novo e de novo cenas de Brenner sofrendo e agonizando, Destiny aumentava mais o seu ódio e, com o exílio, sua empatia começava a se esvair. 

Uma luz se acendeu em sua mente, muito mais fugaz do que a vil iluminação do cômodo. Era isso o que Slenderman queria. Desejava que a jovem cultivasse sentimentos de ódio e rancor, para que assim, não se recordasse sobre como era sentir empatia, tornando-se mais um de seus robôs. Mas a jovem não sabia mais como parar de nutrir aqueles sentimentos. 

Nos dias que decorreram deste esvaimento de empatia e aumento de rancor, Destiny tentou repetidas vezes induzir a precognição, fechando os olhos e imaginando-se afogando numa quantidade exuberante de água, da mesma forma que via em suas visões, mas não dera certo. Quando fechava os olhos, não enxergava nada além de um tom amarelado, já que ficava num ambiente pouco iluminado. O que significava nada de água e nada de pulmões clamando por socorro. 

Destiny estava sentada na cama, fitando a porta de ferro como todos os dias, esperando quando, finalmente, alguém a abriria e poderia fitar alguém nos olhos e ver um rosto. Sabia que ansiar para ver alguém era quase o mesmo que ansiar para amarrarem-na como da vez anterior, mas, ao menos tudo o que iria passar a beneficiaria - pensou consigo mesma, prendendo-se na memória das visões que tinha onde, nitidamente, dominava com maestria seus dons e estava livre deste laboratório. Mas a que preço?

Push me Harder ✧ Stranger ThingsOnde histórias criam vida. Descubra agora