V. A PRIMEIRA MISSÃO

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O NONO-IRMÃO SEGURAVA embaixo do braço um livro grande e pesado, a gola das vestes da Ordem ainda lhe pinicando o pescoço. Na cintura, a bainha já estava ajustada, a espada descansada ali dentro. Sentia-se orgulhoso. Afinal, jamais pensaria que, um dia, seria parte dos Nove-Raios, e que levaria no ombro o Sol, o símbolo máximo do Único.

Andava pela Capital com a cabeça erguida, o queixo empinado. Sentia-se o dono de tudo, e que ninguém jamais o olharia de outra forma, se não com superioridade. Pensou de antemão em se vingar dos outros rapazes que lhe faziam troça, mas abandonou a ideia, não gostaria de pôr tudo a perder. Agora, era um membro da Ordem, e a luz era seu senhor, e negra eram suas vestes.

Andou por entre as ruelas da Capital, os mercadores estavam por todos os lados. Era um misto de laranjas, pinhões, ratazanas despeladas e algo que se parecia com um gato e uma lontra... coisa que Nono-Irmão não fez questão de adivinhar. O fedor ali era de um misto de alecrim, carne crua e couro curtido, mas não era exatamente o aroma que Alec procurava naquele momento.

Saiu daquela viela e embocou em outra. Desta vez, numa que fedia a merda. Levantou o manto negro para que não o sujasse, e, em seguida, farejou uma mistura de incenso, uma em particular que os bordéis da cidade usavam com frequência... algo que os sibrianos, no extremo sul do continente, diziam transformar as partes de uma mulher em orvalho.

Se aquilo era verdade, Alec não sabia, mas tinha a impressão de que estaria prestes a descobrir. Levava consigo um chamado, e fora a ele incumbida a missão de reunir os membros desgarrados da Companhia. Pelo que Primeiro-Irmão Bryston lhe dissera, deveria encontrar um deles num puteiro aos arredores da cidade.

Gemidos vinham daquele lugar, e o Iniciado apertou o livro contra o peito. A obra tinha a capa de couro, negra como suas roupas, um sol de Nove-Raios desenhado no meio, sem título algum.

O rapaz perguntou para uma das moças na entrada. Ela usava um decote apertado, seus seios quase saltavam para o externo.

— Pode me ajudar? Eu procuro um homem, um Irmão — perguntou o rapaz, tentando manter os olhos alinhados aos da mulher. A rameira franziu o cenho, mordeu os lábios para ele. Olhou-o de baixo a cima, fez certa questão de reparar nas vestes. Sabia de quem ele estava falando.

— Venha comigo. — Ela começou a andar por entre os corredores do bordel, apenas cortinas em azul e vermelho serviam como porta para os quartos. O Iniciado podia ouvir as súplicas e os ganidos de prazer provenientes dali. Até mesmo sentiu um calor nas partes baixas quando viu uma moça desnuda passar entre eles.

— Aqui, ele está aqui. — A meretriz parou diante uma das portas e encarou o rapaz.

— E-eu não vou entrar aí! — O jovem tremeu. Do quarto, ele ouvia o som de uma voz conhecida.

— Tem medo que uma boceta te morda? — provocou a mulher, impaciente, empurrando-o em direção à cortina. Lá dentro o jovem viu um de seus Irmãos agarrando uma das moças de quatro.

— Não te ensinaram a bater? — questionou o Irmão desgarrado, arfando, ainda ocupado com a prostituta.

— N-nós precisamos ir, Sexto-Irmão.

— Eu ainda não acabei aqui — continuou a estocar ainda mais forte na puta, que gemeu ainda mais alto. O corpo do homem brilhava de suor, o quarto rescendia a incenso.

Terminou o serviço e enxugou o rosto numa vasilha, molhou os cabelos e os penteou para trás. Eram louros feito ouro. Jogou algumas moedas de prata em cima da cama, vestiu-se e então encaixou a bainha na cintura.

— Vamos? — disse Lauren. O sujeito talvez não passasse dos vinte e quatro, tinha os olhos da cor de esmeraldas e um cavanhaque que lhe envolvia o rosto. — O que foi agora, Nono-Irmão?

Torneio de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora