O BARCO SINGROU pela areia antes de parar por completo. Precisou-se de seis homens fortes para erguer o sarcófago. Trôpegos, os Irmãos levavam nos ombros a grande tumba de prata.
Grent, o Homem-da-Vila, esperava-os às margens da praia. O sujeito tinha a barba encrespada, uma careca lisa que até mesmo parecia um tapete de seda. Ventava bastante, e nuvens de chumbo cobriam o céu.
– Pelo Único! – bradou Grent, segurando o manto para que não esvoaçasse pela cara. – O que demônios é isso que vocês encontraram?!
Bryston enxugou o suor da testa, disse ao homem:
– A pilhagem das ruínas. Ajude-nos a levar até a carroça.
Calin Grent tinha consigo alguns guardas sobre seu comando, ordenou aos homens que ajudassem a descarregar os espólios.
Os nove Irmãos estavam felizes e exaustos, tão felizes quanto exaustos, na verdade. Antes que pudessem partir pararam sobre a estalagem novamente, comeram carneiro desta vez, um novilho inteiro, exclusivamente para eles.
– O que fará com seus dois por cento, Sexto-Irmão Lauren? – perguntou Dewey com um pedaço de carne num dos lados da boca. Suas sardas pareciam mais destacadas naquele dia, como se lentilhas pintalgassem suas bochechas.
Lauren bebeu um gole de cerveja, limpou a espuma do bigode e respondeu:
– Putas – deu um arroto. – Depois em cerveja, e aí pagarei as putas para que derramem cerveja em seus peitos.
Dewey e Lauren fizeram um brinde, estalaram os canecos.
Segundo-Irmão Roynard, por outro lado, fez questão de pagar um bardo. Ora, um homem feio também tinha direito que boa música lhe tocasse o coração. O bardo trouxe seu alaúde e pronunciou suas cantigas, dedilhou o instrumento quase que a tarde inteira.
Alec, em seu canto, também partilhava carne e cerveja com os Irmãos, apreciava o feito a seu modo, de forma um pouco discreta.
Do lado de fora, entretanto, todo o vilarejo viera curioso para bisbilhotar o que havia sido encontrado, mas Primeiro-Irmão ordenou que a tumba fosse coberta por um manto de lã. Ninguém viu nada, no final das contas, nem um único dobrão. Alguns camponeses até mesmo desconfiaram que era tudo lorota, e que a Ordem estava ali somente para vadiar.
– O que fará com seu ouro, Primeiro-Irmão? – Alec perguntou. O velho sorriu como não fazia há uns bons anos.
– Descansar, vou descansar... pendurar o brasão. Não deixei filhos pelo mundo, é um triste fardo, sim, mas fazemos isso em nome do Único.
– Valeu a pena?
Bryston coçou a barba.
– Confesso que dormir no calor dos braços de uma mulher que carrega um filho no ventre é algo que me visita os sonhos de vez em quando, mas isso é um desejo tolo, já se foi a primavera de meus dias, agora resta apenas viver os invernos.
Nono-Irmão sentia pena do velho, uma forte empatia, pois aquele ali provavelmente seria ele em algumas décadas. Podia perceber o peso que o homem carregava nos ombros, as olheiras repuxadas embaixo dos olhos, inchadas e negras.
Pernoitaram antes que fossem embora, os membros da Ordem mereciam um descanso. Partiram no início da manhã, antes da chamada dos galos. A bruma cobria as colinas, Alec tomou um pouco de café de grão forte, daquele que queima na língua.
Os cavalos diminuíram o passo por conta do peso, e talvez levaria um dia extra para alcançarem a Capital. Embarcaram naquela jornada com o espírito em dúvida, mas agora... agora era diferente. Retornavam com um sorriso na boca e moedas tilintando no bolsão.
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Torneio de Sangue
Fantasy+18| ATENÇÃO: HISTÓRIA COMPLETA A ORDEM DOS Nove-Raios é a forma mais segura que a Igreja encontrou para resgatar artefatos de eras passadas. Na época em que os vampiros ainda reinavam sobre o mundo, o clero teve de tomar uma decisão: originar uma g...