PRIMEIRO-IRMÃO BRYSTON jurou que cabras gigantes riscavam os cascos no céu. Era início da noite, e as trovoadas acendiam as nuvens em relâmpagos. Começou com um vento brando, e pouco depois a água desabou sobre a Companhia.
Chegaram em Campo-Verde com quase vinte dias de viagem, alguns dos Irmãos já se sentiam estéreis na metade do percurso. Subiram as colinas com certa dificuldade, o que lhes tomou um pouco de tempo. Os animais estavam acostumados com as planícies do oeste, e seus joelhos reclamavam com a subida até o vilarejo.
Pararam numa estalagem tremendo de frio, o couro pesava feito malha de chumbo, encharcado pela água. Os nove Irmãos entraram com certa aflição, empurraram-se por um espaço ao lado da fogueira. Não havia ninguém por ali naquela hora.
O taverneiro os atendeu com um sorriso polido e ensaiado, não passava de um rapaz com espinhas na cara e um corpo franzino.
– Algo para beber, senhores? – perguntou, levando para a fogueira no centro do salão mais algumas lascas de madeira. Jogou-as sobre as chamas e assoprou as brasas.
– A coisa mais forte que tiver – pediu Roynard. – Algo que aqueça a garganta. E traga nove copos.
O taverneiro obedeceu, e trouxe com ele alguns copos numa mão e uma garrafa de aguardente na outra.
– Vieram para ver as ruínas? – perguntou o rapaz quando entregou o copo à Bryston. O velho lhe jogou um olhar de poucos amigos. O taverneiro encheu a taça.
– Não é da sua conta – rosnou o Primeiro-Irmão, e logo em seguida virou o copo numa única golada. Fez cara azeda. – Assuntos da Igreja.
– Ora, Bryston – Roynard tirou as luvas de couro, que pingavam no assoalho. – As notícias correm rápido, ainda mais numa pousada. Viemos pelas ruínas, filho.
O rapaz arqueou uma sobrancelha, mas não parecia muito surpreso.
– Imaginava – tornou a encher outro copo. – Alguns homens passaram aqui tem uns dias, mas não eram Irmãos. Era um grupo de seis, não falaram quase nada. Acredito que foram atrás do castelo.
Terceiro-Irmão Parle cuspiu sobre o fogo e resmungou:
– Será que ninguém consegue calar a porra da boca por aqui? Isso deveria ser sigiloso!
– Desculpe-nos, senhor – o taverneiro completou a taça de Parle, o Irmão com um rabo de cavalo. – Quando Fridgit, um camponês da região, descobriu as ruínas, até os diabos das terras geladas ficaram sabendo. Ele é um bom sujeito, mas não consegue guardar a língua na boca.
– Estes seis homens – questionou Ronsey, o Irmão gordo. – Já foram e voltaram das ruínas?
– Eles nem foram, senhor – o taverneiro trouxera mais copos. – Calin não os deixou, ele é o Homem-da-Vila por estas bandas. Por sorte ele tinha alguns homens na guarda, todos armados com bom aço. Os sujeitos deram meia volta carregando o cu na mão.
– Ótimo – Sexto-Irmão Lauren disse com o cachimbo na boca, mas não conseguia acendê-lo. – Tem fumo aqui? O meu encharcou todo nessa merda de chuva.
O rapaz assentiu, voltou pouco depois com o fumo enrolado em palha de milho.
– São dois vinténs de cobre, senhor.
– Dois? Acha que sou uma puta para me foder assim? Pago-lhe um – e tirou do manto molhado um saco de moedas.
– A chuva está matando as colheitas, o fumo que tenho aqui vem das vilas do sul – justificou o taverneiro.
O louro soltou um suspiro e deu-lhe as moedas como se tivessem o peso de ouro. O jovem entregou o fumo, Sexto-Irmão ajeitou-o no cachimbo.
– Tem algo para comer? – Ronsey perguntou.
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Torneio de Sangue
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