XI. IRMANDADE DE ÁGUA

13 1 0
                                    

PRIMEIRO-IRMÃO BRYSTON jurou que cabras gigantes riscavam os cascos no céu. Era início da noite, e as trovoadas acendiam as nuvens em relâmpagos. Começou com um vento brando, e pouco depois a água desabou sobre a Companhia.

Chegaram em Campo-Verde com quase vinte dias de viagem, alguns dos Irmãos já se sentiam estéreis na metade do percurso. Subiram as colinas com certa dificuldade, o que lhes tomou um pouco de tempo. Os animais estavam acostumados com as planícies do oeste, e seus joelhos reclamavam com a subida até o vilarejo.

Pararam numa estalagem tremendo de frio, o couro pesava feito malha de chumbo, encharcado pela água. Os nove Irmãos entraram com certa aflição, empurraram-se por um espaço ao lado da fogueira. Não havia ninguém por ali naquela hora.

O taverneiro os atendeu com um sorriso polido e ensaiado, não passava de um rapaz com espinhas na cara e um corpo franzino.

– Algo para beber, senhores? – perguntou, levando para a fogueira no centro do salão mais algumas lascas de madeira. Jogou-as sobre as chamas e assoprou as brasas.

– A coisa mais forte que tiver – pediu Roynard. – Algo que aqueça a garganta. E traga nove copos.

O taverneiro obedeceu, e trouxe com ele alguns copos numa mão e uma garrafa de aguardente na outra.

– Vieram para ver as ruínas? – perguntou o rapaz quando entregou o copo à Bryston. O velho lhe jogou um olhar de poucos amigos. O taverneiro encheu a taça.

– Não é da sua conta – rosnou o Primeiro-Irmão, e logo em seguida virou o copo numa única golada. Fez cara azeda. – Assuntos da Igreja.

– Ora, Bryston – Roynard tirou as luvas de couro, que pingavam no assoalho. – As notícias correm rápido, ainda mais numa pousada. Viemos pelas ruínas, filho.

O rapaz arqueou uma sobrancelha, mas não parecia muito surpreso.

– Imaginava – tornou a encher outro copo. – Alguns homens passaram aqui tem uns dias, mas não eram Irmãos. Era um grupo de seis, não falaram quase nada. Acredito que foram atrás do castelo.

Terceiro-Irmão Parle cuspiu sobre o fogo e resmungou:

– Será que ninguém consegue calar a porra da boca por aqui? Isso deveria ser sigiloso!

– Desculpe-nos, senhor – o taverneiro completou a taça de Parle, o Irmão com um rabo de cavalo. – Quando Fridgit, um camponês da região, descobriu as ruínas, até os diabos das terras geladas ficaram sabendo. Ele é um bom sujeito, mas não consegue guardar a língua na boca.

– Estes seis homens – questionou Ronsey, o Irmão gordo. – Já foram e voltaram das ruínas?

– Eles nem foram, senhor – o taverneiro trouxera mais copos. – Calin não os deixou, ele é o Homem-da-Vila por estas bandas. Por sorte ele tinha alguns homens na guarda, todos armados com bom aço. Os sujeitos deram meia volta carregando o cu na mão.

– Ótimo – Sexto-Irmão Lauren disse com o cachimbo na boca, mas não conseguia acendê-lo. – Tem fumo aqui? O meu encharcou todo nessa merda de chuva.

O rapaz assentiu, voltou pouco depois com o fumo enrolado em palha de milho.

– São dois vinténs de cobre, senhor.

– Dois? Acha que sou uma puta para me foder assim? Pago-lhe um – e tirou do manto molhado um saco de moedas.

– A chuva está matando as colheitas, o fumo que tenho aqui vem das vilas do sul – justificou o taverneiro.

O louro soltou um suspiro e deu-lhe as moedas como se tivessem o peso de ouro. O jovem entregou o fumo, Sexto-Irmão ajeitou-o no cachimbo.

– Tem algo para comer? – Ronsey perguntou.

Torneio de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora