VIII. SANGUE DE GENTE

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A ESTRADA PARA VALEMONTE os levou para longe, bem longe. O clima já começara a ficar mais ameno na região das colinas, e a carroça de Dália freou de repente. Dallen estava ainda coberto pelo manto, e se perguntou a razão pela qual a garota parou de forma tão abrupta.

— O que aconteceu? — Dallen questionou, e sua voz chegou abafada aos ouvidos da garota.

— Tem um tronco no meio da pista! — respondeu ela. O albino saltou para fora da carroça, o céu já ia se pintando de laranja, a noite começava a surgir.

— Merda! — O sujeito já desconfiava, não havia tempo para avisar a menina.

Então sentiu a ponta lhe pinicando as costas machucadas.

— Pelo Único! — desdenhou o bandido. — Que porra é você, homem?!

— É um daqueles pele-de-porra, Broc. — Outro dos larápios deslizou pelo monte de terra, quase se desequilibrando na descida. Bateu a sujeira das calças e sacou uma adaga.

— Podemos vendê-lo para a Igreja. — Outro, até então escondido, surgiu com uma acha. — Eles devem pagar um bom preço.

Broc espetou a coluna do homem com a ponta da lança.

— As moedas — pediu ele. — Dê-nos as moedas!

Dália arremessou um saquinho para aquele que tinha uma adaga.

— É tudo o que temos — confessou a menina. O larápio mirou o olho ali dentro, viu um pouco de prata e de cobre tilintando no fundo.

— Não dá nem para uma puta. — E arremessou para aquele que tinha uma acha. — Vamos levar o leitoso. — E então encarou a garota. — Quanto ao menino... podem degolá-lo.

— Esperem! — disse Dallen, a lança lhe espetou um pouco mais fundo na carne. — O rapaz é de família rica, podem cobrar um bom resgate.

— Que blefe idiota. — O da adaga cuspiu no chão. — Que porra o filho rico de alguém estaria fazendo na estrada com um lagartixa?

— Eu estou o escoltando.

— Escoltando? — quem perguntou agora foi o da acha. — Vamos levar os dois para o acampamento.

Já era escuro quando adentraram a floresta. Pararam não muito longe da estrada, uma fogueira estava acesa diante de uma clareira. Havia mais dois membros montando guarda ali, um deles tirava as vestes de um galho, não tendo muitos dentes na boca. Mas tentou dar um sorriso.

— Carne rara — disse ele, e, em seguida agarrou um bastão para cutucar o fogo. — E esse pequenino aí?

— Ele também pode valer algum dinheiro. Quem sabe, podemos dá-lo à Ordem?

Um dos bandidos deu uma risada.

— Um albino escoltando um futuro membro dos Nove-Raios? Curioso... e um tanto maldoso também.

Dallen e a menina foram postos um de costas ao outro, seus corpos amarrados por uma corda que lhes dava voltas e voltas. Seus pés também foram amarrados na altura do tornozelo, assim como seus pulsos.

— O que faremos agora? — indagou Dália.

— Vamos esperar.

Esperar? Isso aqui não é um livro, Dallen, não vai aparecer nenhum herói. Não vamos esperar!

— Fique quieta, eu sei o que estou...

— Ei, vocês, calem a matraca! — rosnou o larápio que cutucava o fogo. — Se não calarem a boca, ficarão um dia sem água!

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