Despedida

12.1K 1.2K 2.9K
                                    

O tempo voa.

Chronos, o Deus do Tempo, foi conhecido por comer seus próprios filhos. Metaforicamente falando, o tempo engole tudo. E havia engolido os últimos meses, que voaram em uma velocidade exorbitante, deixando pelo caminho apenas as marcas de sua destruição: um Jungkook que curtia a vida ao lado do novo amigo – que vivia uma crise em seu relacionamento – e que sequer pensava no seu casamento – que aconteceria dentro de alguns dias. Fora tudo engolido pelo tempo.

Quando se deu por si, acordando de ressaca e com dor nos pés e na coluna – dormira no sofá de Hoseok depois de mais uma festa incrível que frequentaram –, já estava às vésperas do altar.

A cabeça latejava em focos distintos e a boca amargava cerveja velha. Abriu um único olho, ainda desorientado no tempo e no espaço. Sentou-se lentamente sentindo o mundo girar em torno de si. Ressaca violenta. O novo ano mal se iniciava e Jungkook já queria que ele acabasse novamente.

Sentia-se quase dono da casa do amigo. Levantou-se cambaleante e se direcionou à cozinha, buscando a caixa de remédios que ficava dentro da despensa de alimentos. Retirou da caixinha um comprimido gelatinoso de Advil e o colocou na boca antes de encher um copo com água da torneira.

Parecia que tinha chumbo no lugar do cérebro que normalmente ostenta 1,5kg em humanos. Arrastou-se até o sofá novamente e jogou de barriga para baixo. Se não morresse naquele dia, teria certeza de sua imortalidade.

Do lado de fora da janela, o inverno judiava de Seul. A temperatura devia estar próxima de zero, enquanto a sensação térmica deveria alcançar temperaturas negativas, devido aos ventos gélidos que sopravam na cidade.

Assim como todas as casas coreanas, o apartamento de Hoseok mantinha-se quentinho, graças ao sistema de aquecimento. Deste modo, Jungkook podia ficar despreocupado usando apenas a camiseta da noite anterior e sua cueca.

Queria voltar a dormir, mas a dor lacerante não permitia. Viu-se obrigado a levantar novamente quando sentiu a bexiga querer explodir. Precisava ir ao banheiro, urgentemente.

De pé novamente, caminhou com dificuldade, esbarrando em móveis e paredes até chegar ao banheiro. Jungkook nunca se imaginou como um boêmio, mas a verdade era que ele havia começado um relacionamento seríssimo com as latas de cerveja.

Abriu a porta do banheiro e riu com a cena de Hoseok desmaiado de sono, agarrado com o vaso sanitário. Deplorável. A vontade de ir ao banheiro passou momentaneamente e então sentou-se ao lado do amigo que estava entregue à uma situação humilhante. Checou se o mesmo respirava e então recostou sua cabeça no ombro do rapaz desfalecido.

Tudo isso ocorrera, pois no dia anterior, Hoseok e Yoongi haviam colocado um ponto final em sua história de amor e ódio – ultimamente, mais ódio do que amor. O relacionamento vinha se arrastando nos últimos meses de uma maneira nada agradável, onde os dois se machucavam com palavras com frequência. Jungkook mesmo havia dito que seria melhor se eles dessem um tempo, mas Hoseok – cabeça dura como sempre – disse que não era relógio para dar tempo, e por isso, de maneira drástica, terminou o namoro em um impulso de raiva.

Hoseok chorou copiosamente em seus braços em total desespero, principalmente quando percebeu o que havia feito. E a ideia estúpida de beber até não lembrar o próprio nome saiu de uma das duas cabeças magoadas com suas vidas, mas Jungkook nunca se lembraria quem fora o autor dessa maluquice.

— Hobi – balançou o amigo, sentindo seu braço pesar uma tonelada.

Continuava a sacodir o amigo que estava todo vomitado. Em vão. Precisava liberar o líquido preso em seu interior e o amigo não colaborava. Estava sem forças para levantá-lo, muito menos para empurra-lo. Não queria mijar em si mesmo, mas também não tinha condição de tentar mirar sob pressão no vaso, para não acertar Hoseok.

HimOnde histórias criam vida. Descubra agora