A carta para Dahyun

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Viu Jungkook aproximando-se de si. Ele não usava o terno que tanto amava, da mesma cor do terno que seu pai casara com sua mãe. Piscava os olhos de maneira rápida e confusa. Definitivamente aquele não era um bom sinal. Sentia algo estranho remexer dentro de si, que nos poucos segundos que lhe restavam antes dele chegar mais perto, que devia ser insegurança ou medo.

O viu estender a mão de maneira delicada e tranquila, diferente de sua face que estampava um nervosismo que ela nunca tinha presenciado. Jungkook era sempre tão determinado e decidido, que aquela feição não combinava com o rapaz por quem ela havia se apaixonado.

Pegou na mão do noivo e tudo aconteceu em uma velocidade estranha, como se o tempo estivesse distorcido. Os convidados os fitavam entrar na pequena capela ao mesmo tempo em que a futura sogra se dirigia para a porta do local, talvez para evitar os futriqueiros naquele momento.

Quando ainda era adolescente, a tia sempre lhe dizia que a intuição feminina não falhava. Dahyun nunca entendera muito bem o que seria essa tal de intuição e como aquilo poderia ser sentido. Mas naquele momento a frase lhe fez sentido. Tinha uma sensação estranha de pesar e despedida, algo indizível e que não podia ser nomeado. As pernas ficaram bambas e ela achou que poderia chorar, mesmo sem nenhum motivo naquele momento para aquilo.

— Lindo – o apelido carinhoso inventando por Jungkook lhe escapou aos lábios de maneira automática, mesmo que naquele momento ela não quisesse dizê-lo de fato – Onde você estava e por que está vestido assim? – a voz saiu mais irritada do que de costume.

— Dahyun, preciso que me escute – ele disse em um tom de falsa serenidade, que lhe doeu o âmago.

— Vamos pagar uma multa gigante pelo atraso – disse rápido. Se era verdade que a intuição feminina não falhava, ela precisa evitar que ele falasse, ela sentia que ele a deixaria, e isso era o que ela menos queria. Sentiu quando ele segurou seu rosto, interrompendo sua fala ansiosa e desesperada. A sua intuição precisava falhar naquele momento.

— Você é muito especial. Muito – sentiu a sinceridade em suas palavras, mas essa sinceridade machucava ao invés de confortar, não era para ser assim – E é por isso que merece alguém melhor do que eu. Eu não posso te fazer feliz.

— Do que você está falando? – perguntou confusa, sentindo seu mundo começar a desabar, como um frágil castelo de areia.

— Não vai ter casamento – disse de maneira tão simples que era assustador. O viu estender a mãe e lhe entregar um papel amassado e levemente úmido com um provável suor – Leia apenas quando eu me for – ele disse sério demais.

— O que isso? – olhou para o papel e depois voltou o olhar para o homem que a abandonava no altar.

Era até irônico isso acontecer consigo. Sempre fora fã de comédias românticas e a maior parte delas o homem abandonava a namorada para ficar com a protagonista. Ela, romântica ao extremo, sempre torceu para o casal principal e nunca pensara nos sentimentos daquela que era abandonada. Talvez aquilo fosse um castigo da vida por xingar mentalmente as mulheres trocadas, porque elas atrapalhavam o casal por quem ela torcia.

— Uma explicação e um pedido de desculpa – continuou sério. Seus olhos encheram de lágrimas. Lágrimas que eram de tristeza, ódio e vergonha – Eu sou covarde demais para falar.

— Eu não estou entendendo – precisava de explicações.

— Eu sei que é difícil, mas, eu não a amo como você merece ser amada. Eu devia ter acabado com isso antes, mas sou covarde, como eu te disse.

Ela deixou o buquê cair no chão. Foi involuntário. O desespero entrou em si. Ela realmente estava sendo abandonada. A cabeça deu um nó de pensamentos nebulosos e confusos. Uma chuva de lembranças coloridas, descoloriam-se gradativamente em sua mente, uma confusão indiscriminada de imagens aleatórias.

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