Sentamos os dois no banco assim que chegou nossa vez. Tento ignorar o frio na barriga e engato em uma conversa amigável com Pedro, isso poderia amenizar meu nervosismo. Acabo vendo aquele momento, como a oportunidade perfeita para perguntar o que tanto queria.— Talvez não seja a melhor ocasião para conversar sobre esse assunto, mas a conversa que tivemos sobre a foto de sua família fica martelando em minha mente até hoje, e sei que ela também afetou você. Quer falar sobre isso?
Pedro me olha surpreso. Ele não esperava que eu fizesse essa pergunta. E estava na cara que ele não iria responder.
— Se você não quiser, eu respeito.
Dizendo isso, viro minha cabeça para o lado observando o parque. O brinquedo não estava muito alto, então não deu para ver muita coisa.
— Não sei se minha mãe te contou sobre meu nascimento.
Olho para ele surpresa, ao ouvir aquela frase depois de alguns segundos. Imaginei que ele não diria nada. Logo noto que indiretamente, ele havia me feito uma pergunta, então trato de balançar a cabeça, respondendo afirmativamente.
— Então você já deve saber que eu fui um dos motivos de minha mãe ter sofrido tanto.
— O quê? — Pergunto sem acreditar no que estava ouvindo.
— Não diga que não acha isso só para fazer eu me sentir melhor, você não vai conseguir.
— Você só pode estar ficando maluco! De onde você tirou isso?
Me arrependo do que digo na mesma hora. Minha intenção desde o começo era ajudar. Sendo grossa eu só iria piorar a situação. Respiro fundo pensando no que dizer. Não poderia errar nas palavras, uma vez que ele já parecia estar tão magoado.
— Olha, não sei quem botou isso na sua cabeça, mas não é verdade. O que aconteceu com a sua mãe...
Não consigo terminar minha frase, pois Pedro me interrompe.
— É muito fácil você dizer isso, quando não cresceu ouvindo que é filha de um estuprador, que é um peso na vida de alguém. E o pior de tudo, é eu ter crescido escutando que sou um assassino.
Me espanto. A situação é mais complicada do que imaginava.
— Quem disse isso para você, Pedro? — Pergunto, mas não obtenho nenhuma resposta.
Ele vira a cabeça para o lado contrário de onde estou, percebo que ele faz o possível para não desabar ali, no banco de uma roda gigante e na minha frente.
—Você não pode acreditar nessa mentira. A pessoa que te disse isso só queria te atingir, queria te fazer mal. Quem falou essas coisas para você? — Pergunto novamente.
— Foi minha avó quem me disse todas essas coisas.
Pedro foca seu olhar em mim novamente. E quando eu penso que ele não diria mais nada, ele continua:
— Quando completei cinco anos, comecei a entender as coisas. Comecei a perceber que ela sempre me tratava de forma estranha quando ninguém estava por perto, depois da morte do meu avô, tudo piorou, pois minha mãe precisava sustentar a casa e ela tomava conta de mim. Um dia, eu fui perguntar para ela o porquê de me tratar tão mal. E ela respondeu...
Pedro faz uma pausa respirando fundo e eu imagino como deve estar sendo difícil para ele me contar aquilo. Pouso minha mão sobre a sua, o incentivando a continuar.
—Ela disse que não gostava de mim, que eu estraguei a vida da minha mãe quando nasci. Falou que a culpa de minha irmã gêmea ter morrido foi minha e que preferia que eu estivesse morrido no lugar dela, porque minha mãe sempre sonhou em ter uma menina desde pequena. Ela sempre dizia que eu iria desgraçar a vida da minha mãe, que quando eu crescesse, iria ser igual ao estuprador do meu pai.
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Valiosa Memória
Mystery / ThrillerApós fugir de casa, uma jovem é encontrada em uma floresta sem lembranças de sua própria identidade. Ela então passará por uma temporada de grandes emoções que afetarão tanto ela, quanto as pessoas ao seu redor. Dúvidas, lembranças desconexas, se...