Abro os olhos, mas volto a fechá-los rapidamente por conta da claridade. Abro outra vez vagarosamente, me acostumando com ela. Quando meus olhos estão totalmente abertos, começo a observar o ambiente onde estou.
O quarto onde estou tem o teto branco e as paredes verdes. Olhando para o lado, percebo que têm outras camas ao meu redor que estão desocupadas.
Em meu braço há uma agulha responsável por fazer o soro entrar lentamente em minhas veias. Depois dessa observação, chego à conclusão de que estou em um hospital.
Minha cabeça dói à medida em que vou lembrando do ocorrido. Eu desmaiei depois de um corte no dedo que, na verdade, não era muito profundo. O que me leva a crer que tenho pavor daquele líquido vermelho.
Olho para minha mão esquerda, onde se encontra o dedo que cortei. Vejo o mesmo coberto por um curativo.
Fico um tempo reorganizando meus pensamentos e só percebo que Lúcia entrou no quarto quando ela fala comigo.
— Nina, que bom que você acordou! Não sabe como eu fiquei desesperada quando você caiu desmaiada dentro daquela cozinha — diz descansando sua mão direita no peito. — Parece que você gosta mesmo de dormir, em! Ficou desacordada por um dia inteiro.
Lúcia ri, mas por trás desse sorriso, consigo ver um ponto de preocupação. Um sentimento bom toma conta de mim por saber que, mesmo me conhecendo pouco, Lúcia se preocupa comigo. Mesmo eu tendo dado tanto trabalho pra ela, por todos esses dias, ela está aqui.
Fico feliz em saber que ela não me deixou sozinha mesmo tendo seus problemas para resolver. É bom saber que estou perto de uma pessoa tão boa como ela que, quando me viu caída naquela floresta, não pensou duas vezes antes de me acolher em sua casa e cuidar tão bem de mim.
— O médico me disse que você teve uma crise depois de ver o sangue. Contei a ele que você perdeu a memória e ele disse que você pode ter sofrido algum trauma no passado ou simplesmente tem pavor de sangue.
Lúcia senta na poltrona que se encontra próxima à cama onde estou, me olha atentamente antes de falar em uma voz séria e calma:
— O doutor também me disse que eu errei em ter te levado para a minha casa quando te encontrei na floresta. O correto era que eu te trouxesse ao hospital quando soube que você perdeu a memória. Você tem que ser acompanhada por um médico profissional para ter mais chances de recuperar a memória.
Lúcia abaixa o olhar demonstrando estar arrependida.
— Nos exames que fizeram enquanto você ainda estava desacordada, mostram que você sofreu um trauma ao bater a cabeça e também pode ter pode ter passado por situações muito estressantes, que contribuíram para a sua perda de memória. Me desculpe... Desculpe mesmo.
Observo seus olhos cheios de lágrimas, prontas para serem derramadas. Sem pensar duas vezes, me aproximo dela e a abraço bem apertado. Lúcia realmente acha que eu irei ficar chateada com ela, que me ajudou no momento em que eu mais precisava?
— Não precisa pedir desculpas. Você me ajudou, me abrigando em sua casa por todos esses dias. Eu sou muito grata por isso. Não se sinta mal por ter feito algo bom por uma pessoa que nem conhecia.
Quando nos afastamos, percebo Lúcia limpar algumas lágrimas rapidamente.
— O doutor disse que agora você tem que descansar. Já passou por muitas emoções.
— Tudo bem, mas... o que vai acontecer comigo agora?
— Nós já havíamos comunicado a polícia antes. Você será acompanhada por médicos e a polícia já está investigando o caso para descobrirem o que aconteceu com você. Graças a Deus você poderá continuar morando na minha casa por enquanto. Qualquer lembrança que você tiver, deveremos comunicar aos policiais. Amanhã, quando você receber alta, te levarei até a delegacia. Agora você precisa descansar. Vou te deixar aí quietinha enquanto resolvo algumas coisas.
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Valiosa Memória
Misterio / SuspensoApós fugir de casa, uma jovem é encontrada em uma floresta sem lembranças de sua própria identidade. Ela então passará por uma temporada de grandes emoções que afetarão tanto ela, quanto as pessoas ao seu redor. Dúvidas, lembranças desconexas, se...