CAPÍTULO 7 ◑

236 61 46
                                    

Assim que passo pela porta do quarto, sou surpreendida por Melissa.
A menina me arrasta até a cozinha, sem dizer absolutamente nada, nem um simples bom dia. Quando ela decide dizer algo, me manda sentar à mesa para tomar café.

A mesa estava recheada de coisas gostosas. Estranho isso, pois tinha muita coisa. Apesar de ter cinco pessoas naquela casa, ainda sim era muito.

O fato de ter dormido depois do almoço de ontem e ter acordado só hoje cedo, me faz comer bastante. Pego um pouco de cada coisa. Não me julguem, sou uma menina que está em fase de crescimento e precisa matar a fome corretamente.

— Mamãe acertou quando disse que você acordaria com muita fome. — Ouço a voz de Melissa.

Estava prestando tanta atenção no meu café da manhã, que havia até me esquecido da presença da própria. Melissa também estava comendo. Não tanto quanto eu, é claro.

Termino de mastigar o pedaço de pão de queijo que estava em minha boca, dou uma golada no suco de manga para fazer o pão de queijo descer mais facilmente por minha garganta. Enfim, consigo falar:

— Em falar na sua mãe, onde ela está? — Pergunto e logo em seguida ponho um pedaço de bolo de cenoura na boca. Estou mesmo com muita fome.

— Ela foi na casa da dona Vera mostrar algumas roupas que ela fez. Todo mundo já tomou café, só não tomei ainda porque quis te esperar pra você não ter que comer sozinha.

— Todo mundo já comeu? — A menina confirma em um aceno. — E ainda tem esse tanto de comida? — pergunto espantada.

— Isso foi o que sobrou. Eu pedi pra mamãe fazer bastante coisa pois ela disse que você acordaria faminta... e eu também quero que você fique bem alimentada para me ajudar a começar a plantar o jardim. — Dá de ombros.

— Você não tem aula hoje, mocinha? — Pergunto com os olhos cerrados.

— hoje é feriado.

Depois disso, ela não parou de falar do jardim. Tive que tomar o café correndo com Melissa me apressando. Ela estava mesmo muito animada.

Termino de comer e vamos direto para fora da casa.
Do lado de fora já tinha alguns materiais que iríamos utilizar.

— O que vamos fazer? Não entendo nada de jardinagem — digo um pouco perdida.

— Eu também não. Por isso que o papai vai nos ajudar. Ele só vai terminar de pegar as coisas que precisamos usar.

Esperamos seu pai terminar de trazer as coisas e começamos a trabalhar.

Foi bem cansativo, mas até que me diverti um pouco com Melissa. Optamos por plantar em vasos por conta do pouco espaço.

Quando terminamos de plantar as sementes de alguns tipos de plantas, já estava quase na hora do almoço. O espaço em que estávamos fazendo o jardim era pequeno, e mesmo assim deu um trabalhinho, imagina se estivéssemos plantando em um espaço maior.

— Quero dormir logo para acordar amanhã e ver como vai ficar nosso jardim! — diz Melissa empolgada, me fazendo rir de sua inocência.

Seu pai, com muita calma, explica à menina:

— Temos que ter paciência, as plantas não crescem assim de uma hora para outra, cada uma tem o seu tempo. Umas crescem mais rápido, outras mais devagar e teremos que cuidar todos os dias para dar certo. Vai demorar um pouco para vermos o jardim pronto, mas valerá a pena.

Observo os dois. Eles parecem ser muito próximos. Vendo eles desse jeito, um sentimento estranho me invade. Não consigo identificar o que seja.

Desperto de meus pensamentos quando Lúcia nos manda entrar para tomar um banho antes de irmos almoçar, pois estávamos precisando. Não queríamos matar ninguém asfixiado.

Depois de tomar um banho bem relaxante, vou direto para cozinha. Chegando lá, todos estavam sentados à mesa apenas me esperando para começarem a comer.

Sento-me no lugar que estava desocupado, e minha barriga ronca ao sentir o cheiro delicioso do ensopado de carne que estava sobre a mesa.

Como sempre, antes de comer, agradecemos a Deus pela refeição.

O almoço foi regado por conversa, mais da parte de Melissa, que não parava de falar sobre como foi legal passar a manhã brincando com terra e adubo e de como estava ansiosa para que as plantas cresçam.

Ao término do almoço, ajudo Lúcia a arrumar as coisas como de costume. Mas na verdade conversávamos bem mais do que arrumávamos.

Quando terminamos com a arrumação, Lúcia me informa que precisamos conversar. Vamos até o querto onde estou instalada.

Quando entro no quarto minha surpresa é tão grande que não consigo dizer nada. Sobre a cama estava uma mochila roxa, a mesma mochila que eu usava quando acordei naquela floresta.

Olho para Lúcia sem conseguir acreditar. Como ela conseguiu encontrá-la? Como se lesse meus pensamentos, Lúcia esclarece:

— Decidimos ir á estrada onde a encontramos e achamos ela no comecinho da floresta.

Não consigo conter minha empolgação e me aproximo dela abraçando-a logo em seguida.

— Obrigada, Lúcia! Agora vai ser muito mais fácil me lembrar do meu passado.

Lúcia retribui meu abraço dizendo que me deixaria sozinha para me dar privacidade, então sai logo em seguida.

Sento na cama e abro a mochila retirando o que tem dentro. A primeira coisa que encontro é uma foto minha com a mesma mulher da minha última lembrança, só que ela estava um pouco mais velha.

Fico observando aquela foto por um bom tempo. Nós duas usávamos roupas bem elegantes e o lugar onde estávamos não era nada simples. A foto parece ter sido tirada em uma festa. Estávamos sorrindo, mas meu sorriso não parecia ser tão verdadeiro, eu aparentava desconforto com aquele ambiente.

Deixo a foto de lado para explorar o restante das coisa que estão na mochila. Retiro as peças de roupas que haviam ali, até a mesma estar quase vazia, pois as roupas eram o que ocupavam mais espaço.

Agora ficou mais fácil para pegar os pequenos objetos que estavam escondidos lá no fundo.

Pego um cordão que tem o pingente no formato de um coração. Seria, na verdade, uma medalhinha. Abro o pingente encontrando uma foto de um homem segurando no colo, uma menina de aparentemente quatro anos de idade.

Do outro lado tinha algo escrito. Foi escrito á mão, a letra estava bem pequena, provavelmente seria para caber tudo dentro daquele espaço.
Forço um pouco a vista para conseguir ler o que tem escrito.

"A flor mais linda que plantei em um jardim. Nunca me esquecerei de voce, nem quando eu não estiver mais aqui"

Fico olhando o pingente por mais um tempo para ver se me lembro de quem está na foto. A menina poderia ser eu. Será que ele é meu pai?

Olho para a mochila outra vez e sinto falta de alguma coisa.
No dia em que acordei na floresta, lembro de ter visto um caderninho dentro da minha mochila. Ele não está aqui, ele poderia me ajudar bastante.

Vou procurando nos bolsos da mochila para ver se o encontro, mas não acho nada. Procuro mais um pouco até ver um pedaço de papel.

Ele estava amassado. Parece ter sido arrancado de algum ligar. Nele estava escrito com uma caligrafia bonita:

Acampamento Solnascente
Avenida Valquíria Ferreira 832 SP


Fico um pouco confusa, pois estou em Mato Grosso e nesse papel está escrito o nome de um acampamento localizado em São Paulo.

Será que eu vim lá de São Paulo?
Como eu vim parar aqui?

Pensei que estar com essa mochila em mãos me ajudaria, mas o que essa mochila fez foi me deixar mais confusa ainda.

○●○●○●

E aí, ficaram curiosos com a revelação? Eu disse que iria ser pequena. Ainda tem muita coisa para ser esclarecida.
Como será que ela chegou em Mato Grosso? Deixem seus palpites. ♡

Revisado

Valiosa MemóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora