Capítulo 4

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Menos de quinze minutos Nakimi estava na minha casa, vasculhando meus desenhos.

"Eles são lindos!" ela falou enquanto guardava eles de volta na minha escrivaninha "Você me parece tão sozinho nessa casa. Onde estão seus pais?" me mantive um pouco em silêncio antes de responder sem nem olhar para ela.

"Meu pai eu não sei. Eu tinha sete anos quando aquele bebum decidiu se mandar das nossas vidas." serrei meus punhos lembrando de quem eu mais odeio.

"Mas e sua mãe?" me mantive em silêncio e de cabeça baixa por alguns segundos "Entendo. Eu sinto muito." ela me abraçou pelas costas. Era tão confortável, era quente e sincero. Era como se não quisesse me soltar mais.

Depois de alguns minutos o apito da cháleira, indicando que a água estava fervendo, quebrou o silêncio e ela me soltou.

"Eu vou preparar o chá!" ela saiu pela porta do meu quarto e alguns segundos depois eu fui atrás.

"Eu vou arrumar a mesa!" falei atrás dela, que já havia pego os pacotinhos do chá de limão.  Ela apenas sorriu para mim e confirmou com a cabeça enquanto pegava as xícaras na parte de cima do meu armário.

Peguei os pratos pequenos para por as xícaras em cima. Nakimi me estendeu as xícaras ja com os saquinhos de chá dentro e as coloquei nos pratos. Peguei um apoio de madeira e coloquei a cháleira em cima. Peguei um pote de biscoitos e pus em cima da mesa. Nakimi sentou numa ponta da mesa e eu na outra. Tivemos uma ótima conversa.

"A casa está no seu nome?" ela começou o diálogo, e apesar de eu não querer falar muito, as palavras saíram.

"Segundo o testamento, sim. Essa casa era do meu avô, passou para minha mãe e agora é minha." em nenhum momento eu olhava para ela, apenas tomava meu chá e me distraía com o "nada".

"Qual o nome dela?" eu ainda me sentia desconfortável com perguntas, mas mesmo assim, eu respondia todas.

"Nyu" mas respondia diretamente no assunto sem puxar outro.

"Você me parece tão centrado. Naquele momento em que o Choki ia me acertar com a madeira, você foi bem rápido. De onde veio isso?" então eu a olhei.

"Isso oque?" terminei minha xícara de chá e antes de me responder Nakimi terminou de beber a dela também.

"Aquela percepção tão rápida, a força, o raciocínio na hora de trocar comigo, foi muito inteligente. A onde aprendeu?" agora eu estava entendendo.

"Vem comigo!" me levantei e ela veio atrás de mim. Fomos diretamente para o porão "Foi aqui que eu aprendi tudo oque sei sobre luta!" Falei ao descer as escadas. Estava tudo nos conformes, exceto pelos pedaços de eucalípto no canto do cômodo.

  Ela entrou naquele espaço e me olhou como se tentasse imaginar eu treinando. Ela pegou um dos pesos com pouco de dificuldade e logo os pôs no lugar novamente. Passou a mão por uma das espadas de madeira e seguiu até o tatamê.

"Ta afim de me mostrar oque sabe?" ela parou me olhando "Aqui e agora!" falou num tom desafiador.

"Com essas roupas? É horrível!" não sei porque, Mas eu falava tranquilamente com ela.

"Onde posso me trocar. Tenho umas roupas na bolsa!" ela falou vindo até mim. Ela ainda não sorriu, não desde que entrou nessa parte.

"O banheiro é no meio do corredor a esquerda!" me levantei "Quer que eu te leve?" perguntei olhando nos seus olhos.

"Eu me viro, se apronte. Volto em cinco minutos!" ela saiu. Eu tirei a camisa e coloquei uma calça mais solta. Alguns bonecos de madeira ainda estavam postos ali, então esperei ela, enquanto treinava neles.

"E essas cicatrizes?" senti seus dedos alisarem minhas costas pouco antes de ouvir sua voz. Ela tem a capacidade de esconder a presença, eu quase tomei um susto, mas simplesmente respondi.

"Choki." me virei para ela "Mas a maioria fui eu mesmo que fiz!" era como se não me importasse com aquilo.

"Entendo!" ela  fez uma cara um tanto triste e desviou o olhar "Vai treinar sem camisa mesmo?" ela foi para o tatamê.

"Foi assim que eu treinei minha vida inteira!" fui para a outra ponta do tatamê "Você sempre treina de top, moletom e luvas de dedo?" perguntei olhando-a de cima a baixo.

"É mais confortável! Vamos começar então?" ela falou ficando reta na minha frente. Apenas confirmei com a cabeça e nos comprimentamos. Alguns segundos parados em guarda e começamos o combate.

   Começamos com movimentos de Kung-fu mas logo já estavamos no jiu-jitsu e quando menos esperavamos concluímos o combate. Ela me imobilizou soltando o peso sobre mim, e usou seu braço para me manter deitado, quando ela sorriu eu puxei minhas ao redor de suas pernas e estiquei até seu pescoço, puxei meu pé e empurrei fazendo ela deitar, apertei sua garganta com meus pés e segurei suas pernas em baixo dos meus braços. Ela tentou soltar minhas pernas com as mãos mas já não tinha mais forças e bateu no tatamê, então eu a soltei.

"Gomene!" exclamei ficando sentado ao seu lado enquanto ela tossia ainda deitada.

"Você é muito perceptivo!" falou ainda arranhando a garganta e tossindo novamente "Mandou muito bem com essa abertura" tossiu novamente e eu peguei uma garrafa de água ao lado do tatamê e dei para ela tomar "É uma abertura pequena, a chance de perceber é de quarenta por cento, mas de efetuar o contra-ataque através dela é de dez por cento. Nem meu treinador conseguia passar sem ser trancado!"

"Minha treinadora conseguia!" me levantei e estendi a mão para levanta-la. Logo fui pegar um peso para malhar os braços, sentei na cadeira e começei cinquenta de vinte e cinco em cada braço.

"Quem era sua treinadora?" ela falou indo para os bonecos e eu me mantive em silêncio mais um pouco. Mesmo não querendo falar, ela me deixava muito confortável.

"Nyu, me treinou desde a época que me pai foi embora! Ambos lutavam, e alguém tinha que ser o futuro homem da casa!" falei calmo e devagar.

"Pera, sua mãe te treinava?" ela me olhou quase que num espanto, mas abriu um sorriso curto nos belos lábios cor de rosa "Que legal, Ikki!"

"Era complicado, ter uma treinadora e não uma mãe, mas era muito bom aquele amor e carinho!" eu sorri, de verdade pela primeira vez ao falar do passado abertamente.

"Entendo. Meu pai sempre quis um menino, aí ele me fez aprender lutas, esportes, essas coisas. Sempre tive professor particular para isso" por que ela está e abrindo tanto?  Eu me perguntei. "Mas fazer oque?! Eu super aceitei!"

"Mas luta e esportes não são só para homens, mulheres praticam também.  Muitas fazem isso melhor que os homens!" falei já me referindo a ela, já que mais cedo ela apagou aqueles garotos sozinha.

"É verdade. Eu gosto das aulas. É gostoso e dá para descontará raiva acumulada, sem se machucar!" ela parou de usar o boneco e eu terminei os pesos, então trocamos.

Jogamos conversa fora por um tempo, até eu abrir um buraco no boneco.

"Eu não entendo, se é tão habilidoso, por quê não se defende?" ela perguntou num tom como se simplesmente não entendesse, e ela realmente não entendia.

"Eu não tenho porque lutar por mim. Eu não faço diferença nesse mundo, eu não me importo comigo mesmo, até porquê, eu sou inútil!" enquanto eu falava, senti um soco na minha costela, ela rodou-me e me jogou no tatamê. Seu rosto era de dar medo.

"Nakimi, o quê deu em você?" eu realmente não entendi.

"Você acha que é assim que funciona? Repita essas palavras e eu juro, que acabo com a sua raça, Yuki!" ela cerrou os punhos.

"Eu não me importo, sinceramente!" apenas permaneci deitado, e ela me deu um soco no peito. Foi dolorido e angustiante, me fez nunca mais querer sentir aquilo de volta.

Continua...

A Solidão! (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora