Aquela semana foi difícil para todos nós. Tirei os pontos do meu braço, observei aquelas cicatrizes sabendo que não eram piores que a ferida no meu peito que não cicatrizava. Um vazio doloroso como se alguém enfiasse as mãos de lâminas frias em meu peito e arrancasse um pedaço ferozmente e me deixasse para morrer sozinho ao relento, despido em um chão gelado em um dia de neve, sangrando pelo buraco no peito até minha vida ser levada e o calor da morte me alcançar. Mas guardo em meu coração suas palavras e a promessa que fiz: Lutar por mim, viver por mim, cuidar de mim. E também cuidar daquele que agora chamo de pai.
Ele estava mais abalado que qualquer um de nós. Ele já havia perdido a esposa e agora sua filha se foi. Por mais que esteja me doendo por dentro, por mais que eu esteja sofrendo, eu devo erguer minha cabeça, enxugar minhas lágrimas, sorrir e agradecer pelo que eu ainda tenho. Mostrar forças mesmo que não haja mais, inspirar pessoas a superar seus sofrimentos. Pelo menos eu sei que ela iria querer isso, sendo a melhor maneira de honrar sua memória. Agora eu tenho uma família, agora sei que tenho amigos de verdade. Ao olhar para as cicatrizes eu sei que não importa a ferida, ela vai cicatrizar, e as pessoas a minha volta irão me ajudar.
O pai de Nakimi, senhor Showa, agora legalmente meu pai, me deu uma casa boa, conforto, amor e muito do bom e do melhor. Akemi me ligava todos os dias durante o período de luto, Rami vinha na nova casa me fazer companhia algumas vezes na semana após o trabalho e no fim de semana todos se reuniram para uma pequena confraternização, isso ajudou o Senhor Showa também. E todos os dias Sayuri esteve comigo, me cuidando, me dando apoio, sem sair do meu lado.
"Que foi?" Sayuri se levantava da cama e vinha atrás de mim, que levantei sem dizer nada "Eu só vou tomar banho. Está querendo entrar comigo no chuveiro, Sayu-chan?" eu brinquei em tom frio e ela corou, voltando a se sentar na cama, que antes era de Nakimi e agora é minha.
"E-Está bem. Eu vou esperar você aqui!" assenti com a cabeça e sorri de leve entrando no banheiro "Não tranca a porta!" Sayuri gritou para mim que já estava com a mão na chave. Mantive minha expressão fria e me afastei da porta sem trancar, como ela pediu. O momento do banho era minha terapia na banheira. Eu sempre tive o costume de demorar na banheira e nunca fui interrompido. Mas Sayuri achou que eu estava demorando muito e entrou no banheiro "Você está bem? Oque está fazendo?" ela já é adulta, mas suas reações não davam a entender isso.
"Eu estou tomando banho!" falei calmo mas visivelmente assustado. Era algo que eu esperava da Akemi e não dela.
"Você estava demorando. Fiquei preocupada que algo tivesse acontecido" ela abaixou a cabeça com o rosto triste e continuou "ou que você tivesse feito algo!" ela reergueu a cabeça "Mas agora vejo que você está bem. Desculpa a intromissão!" ela estava vermelha d vergonha quando ia sair.
"Aimi-chan!" eu a chamei. Ela apenas olhou por cima do ombro, ainda envergonhada "Obrigado por cuidar tão bem de mim. Pode ficar tranquila, tenho uma promessa para cumprir então, não posso fazer nada do tipo!" eu sorri "Já vou sair. Só mais um minuto!" ela sorriu pela primeira vez desde aquele dia.
"Iie!" e saiu do banheiro.
"Ikki, Ikki." eu pensei comigo mesmo "Você nunca esteve tão bem e tão mal ao mesmo tempo. Preencheu o vazio com o abismo escuro mas, como num passe de mágica, o seu abismo escuro era apenas para que coubesse mais cor na sua vida. Ela se foi para isso, esse abismo existiu quando ela entrou na sua vida, ela apenas preencheu o buraco que ela causou de maneira harmoniosa. E tudo bem ela ter criado isso, uma boa causa vence os maus efeitos!" eu sorri quando uma lágrima escorreu meu rosto "Mas que efeito aqui é um mau efeito?" enxuguei as lágrimas e saí do banheiro após cinco minutos que Aimi havia saído. Ela me esperava sentada na ponta da cama balançando os pés. Ela me olhou e sorriu com seus olhos azuis.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Solidão! (Concluída)
RandomVolume 1- Ikki, um garoto jovem, magro, quieto. Com problemas em casa e na escola, o garoto não vê outra solução se não se fechar do mundo e usar roupas largas para esconder as marcas em seu corpo. Sem coragem para tirar a própria vida, ele vive po...