Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca.
Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou louca. Eu não sou
louca
O horror rompe-me as pálpebras.
Meu corpo está ensopado de um suor frio, meu cérebro, nadando em
ondas de dor não esquecidas. Meus olhos fixam-se em círculos negros
que se dissolvem na escuridão. Não faço ideia do quanto dormi. Não faço
ideia se assustei meu companheiro de cela com os meus sonhos. Às vezes
grito bem alto.
Adam está me fitando.
Estou respirando com dificuldade e consigo me levantar. Puxo os
cobertores para mais perto de meu corpo apenas para me dar conta de
que roubara seu único meio de se aquecer. Nunca me ocorreu que ele
poderia estar congelando tanto quanto eu. Estou tremendo, mas seu
corpo está inabalável na noite, sua silhueta, uma forma rija contra o pano
de fundo negro. Não faço ideia do que dizer. Não há nada a dizer.
— Os gritos nunca param neste lugar, não é?
Os gritos são apenas o começo.
— Não — digo quase em silêncio. Um fraco rubor surge-me no
rosto e eu estou feliz que esteja escuro demais para que ele repare. Ele
deve ter escutado meus gritos.
Às vezes gostaria que nunca tivesse de dormir. Às vezes penso que,
se eu ficar muito, muito quieta, se eu não me mover de modo nenhum, as
coisas podem mudar. Penso que, se me congelar, eu posso congelar a dor.
Às vezes não me movo por horas. Não movo um dedo.
Se o tempo permanece imóvel, nada pode dar errado.
— Você está bem? A voz de Adam está preocupada. Examino seus punhos cerrados mantidos de lado, a ruga enterrada em sua testa, a tensão
em sua mandíbula. Esta pessoa que roubou minha cama e meu cobertor é
a mesma que ficou privada deles esta noite. Tão arrogante e descuidado
poucas horas atrás; tão cuidadoso e quieto neste momento. Assusta-me
que este lugar pudesse tê-lo destruído tão rapidamente. Me pergunto o
que ele escutou enquanto eu estava dormindo.
Gostaria de poder salvá-lo do horror.
Algo se quebra; um grito atormentado soa a distância. Estes quartos
são entranhados em concreto, paredes mais grossas que pisos e tetos
combinados de modo a impedir que os ruídos escapem para muito longe.
Se posso ouvir a agonia, é porque ela deve ser impossível de dominar.
Todas as noites há sons que deixo de escutar. Todas as noites pergunto-
me se sou a próxima.
— Você não é louca.
Levanto bruscamente os olhos. A cabeça dele está inclinada, seus
olhos concentrados e nítidos apesar da mortalha que nos envolve. Ele
respira fundo.
— Pensei que todo mundo aqui fosse louco — continua ele. —
Pensei que eles tinham me prendido com um psicopata.
Dou uma forte tragada de oxigênio.
— Engraçado. Eu também.
3 segundos se passam.
Ele irrompe um sorriso tão largo, tão divertido, tão sincero e
reanimador que é como uma trovoada pelo meu corpo. Algo alfineta
meus olhos e quebra meus joelhos. Não vejo um sorriso há 265 dias.
Adam está de pé.
Ofereço-lhe seu cobertor.
Ele o pega apenas para enrolá-lo com mais firmeza em volta de meu
corpo e algo repentinamente se contrai em meu peito. Meus pulmões
estão esmagados e acabei de decidir não me mexer fosse lá durante
quanto tempo ele falasse.
— O que houve?
Meus pais pararam de tocar em mim quando passei a engatinhar. Fiz
meus colegas de classe chorar só por lhes segurar as mãos. Os professores
me faziam trabalhar sozinha para que eu não machucasse as outras
crianças. Nunca tive um amigo. Nunca conheci o aconchego do abraço de
uma mãe. Nunca senti a ternura do beijo de um pai. Eu não sou louca.
—Nada.
Mais cinco segundos.
— Posso me sentar a seu lado?
Isso seria maravilhoso.
— Não. — Estou novamente encarando a parede.
Ele aperta e desaperta o maxilar. Ele passa a mão pelos cabelos e Ele já fez a mesma pergunta três vezes.
— Você pode estar doente — é tudo o que consigo dizer.
— Não estou doente. Só estou quente. Não costumo dormir vestido.
Sinto um frio na barriga. Uma humilhação inexplicável queima minha
carne. Não sei para onde olhar.
Uma respiração profunda.
— Fui um estúpido ontem. Tratei você como lixo e eu sinto muito.
Não devia ter feito aquilo.
Ouso deparar com seu olhar.
Seus olhos são o tom perfeito de cobalto, azuis como uma contusão a
desabrochar, nítidos e decididos. Sua mandíbula é definida e suas feições
são esculpidas em uma expressão cuidadosa. Ele pensou nisso a noite
toda.
— Está tudo bem.
— Então por que você não me diz o seu nome? — Ele se inclina
para a frente e eu congelo.
Eu me derreto.
Eu evaporo.
— Juliette — sussurro. — Meu nome é Juliette.
Seus lábios amolecem em um sorriso que me quebra a espinha em
pedaços. Ele repete meu nome como se a palavra o divertisse. Como se o
entretivesse. Como se o deleitasse.
Em dezessete anos, ninguém jamais disse meu nome desse jeito.