Na lente da objetiva

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Crónicas de visitas/fotografia

O registo, a imagem, o sossego, a curiosidade, a desculpa da fotografia, as mesmas raízes, paixões iguais mas ainda a serem descobertas por ambos...
Num destino que se cruzou, ambos desceram até ao Castanheiro do Norte.
A madrugada de outono conduziu-os pelos sinuosos caminhos que desaguam no primeiro miradouro, agora chamado de " olhos do tua".
Quiseram os dinheiros, as forças do capitalismo, as necessidades do consumismo, do imediatismo da vida que urge. Quiseram estas forças que se submergisse uma artéria do coração das gentes que aqui vivem.
Submergirem a beleza do vale do tua, diluíram a linha férrea que nos levou a todos margens fora até á foz do Douro, desaguávamos em São Bento. Antes disso, fazíamos o translado no Tua.
Essas viagens eram longas, o corpo abanava-se ao ritmo da automotora ou comboio, era a força da velocidade contra os carris de ferro... aquele abanar do rabo sentado nos duros bancos, aquele som do comboio que partia, que chegava. Aquela percurso enterrado nas fragas destes montes que amamos. Tudo isso e muito mais. Ninguém nos tira, vivemos isso, está cá dentro e bem gravado no corpo, está na medula do nosso passado.
Partilhamos um com o outro como queríamos ali o pequeno correr do rio Tua, queríamos ali o serpentear da extinta linha férrea. Enquanto partilhávamos o lamento, o olhar escorregava pela barragem que encheu o vale e engrossou o caudal do rio. A primeira luz rompeu o céu, ele queria-o coberto de nuvens, eu estava feliz por ter aquele sossego todo, aquela quietude toda, aquele mundo de vales e montanhas todas quietas a aconchegarem a curva do rio e sentir que aquilo era para mim. Que aquele momento se tornava prenuncio de uma viagem que agora se iniciava.
Tínhamos caminho para andar, o mundo estava todo ali, só os dois. O mundo concentrado em nós.
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Las medulas e da Virxe do Porto

2 pontos específicos, nas tuas palavras 2 spots e alguns bons shots em forma de click.
Dois dias que se condensaram num somatório de kilómetros. Garantiram que estaríamos sempre um ao lado do outro, a ergonomia e o layout do espaço automóvel em movimento, garantiram que apenas estivéssemos lado a lado.
O que mais gostei e me confortou, ser levada por ti e deixar-me ir.
Noutro momento, diante das dunas já escurecidas debaixo do céu e sob o imenso frio ventoso do cimo da arriba, temi por tudo.... o vigor do mar contra as rochas densas e escuras e aquela capela branca que se iluminava com os últimos raios de sol.
Uma beleza tão grande e infinita, queria conseguir ficar, mas temia o caminho de volta... amei aquele silêncio cheio do som do vento frio mas enchi-me de medo de estar naquele imenso com o meu silêncio, junto ao teu....
Que consolo, ter um carro que nos ia deixar estar juntos mas separados!
Mais km para apaziguar os desassossegos que me inundam!
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Esperavam-nos conversas longas, medidas por menos álcool do que aquele que precisávamos. Sucediam-se os locais e as descobertas, em todos queríamos ficar mais e mais...
Tínhamos uma noite e um aconchego que nos esperava. Muito desaconchegada pela inquietude do que queria e pelo entusiasmo que a novidade traz.
Os sonhos foram bons, junto a ti, eles levaram-me por onde o meu espírito desejava ir.
No sossego da montanha, no meio daquela floresta, não podíamos estar mais sós, um com o outro.
As portas ausentes, os vidros no lugares de muros, ajudaram a ver nu o que emmuramos um do outro.
Gostei de tudo!
Mesmo dos momentos em que me irritaste com as tuas meias verdades, mesmo com os medos que senti quando fomos gruta e floresta dentro. Descobri que as minhas palavras fazem ensurdecer o medo.
No regresso, sofri porque queria mais.
Pareceu pouco mas foi mesmo muito.
Ficaram as lagoas por explorar, e tantos recantos para nos deixarmos ficar.
Na despedida, tinha uma certeza, a certeza de voltar.
Quando nos separamos percebi, reclamo estares longe mas quando te aproximas eu afasto-me....
Ser auténtico e genuíno nos afectos é difícil demais.
Desafio maior, estar inteira em cada momento presente desta vida.
Contigo.
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Prometeste-me o Douro coberto do matiz castanho avermelhado do outono.
O outono tardou em vir, cheguei a esquecer que lá estaríamos juntos pelo teu olhar.
Sem planos, descemos por Alijó, desaguamos, para minha surpresa no Pinhão.
O recanto mais amo no Douro.
Alí, o rio chega, encurva-se e faz-nos creer que permanece, ali estanque, que nem um lago, todo para nós.
Naquele caudal já mergulhei em muitos outonos, naquelas encostas já dormi e foi por lá que vi crescer o amor dos que foram pais antes de mim, apaixonei-me por uma menina pequena e mais tarde, vi também a minha primeira e depois a minha segunda. Por ali, a crescerem, com os outros miúdos, dentro dos veleiros e a dormirem entre quartos e tendas. Tivemos serões ao relento, tivemos a liberdade da calçada, pelos pés pequeninos delas, que ali se sentiam seguras.
Tu, deste-me outro Douro.
Lá do alto, deste-me muito céu. O Tedo refletia o peso das nuvens escuras, lamentaste não se deixarem atravessar pela última luz do dia.
O céu estava negro, carregado de densas nuvens, assim terminaria eu o dia.
Não sabia que me esperava mais um diálogo com a morte, não sabia que havia serenidade nessa partida. Nessa despedida.
Desfiaste detalhes e pormenores, enquanto em silêncio suplicava para que te calasses. Compulsivamente rodeaste-me de ti, fiquei submersa com o peso e a dureza da impotência que viveste.
Senti-me uma mãe indefesa que só quer viver porque tem crias para manter. Sem mãe não há filhos e tu mostras-me que com pai há muito amor que faz crescer duas vidas.
Ouvia cada detalhe e sentia que não queria mais descrições de mortes.
Na cadeira do consultorio, estive ao lado e com quem viu partir os filhos. Uma mãe a quem morreu a filha de 2 meses, morte súbita no seu colo. Urgiu em ter outro bebe de modo a abafar tamanha dor.
Escorreram-me as lágrimas, com a mãe que viu o seu filho de 16 anos assassãssinado a porta de casa e ainda tentava perceber se isto era mesmo real.
A dor maior, estava ali entre nós, nessa partilha e eu a sofrer por dentro, a escorrer lágrimas que abafei.
Percebi como tanto precisavas de me ter inteira para esse teu sentir.
Doeu muito, mas estive.
Perguntei-me, porque eu? Porque estou sempre nesta varanda da morte.
Há mais pessoas no corredor da morte, tenho estado ao lado de quem os teme perder. São mães com filhos. Na semana, foi um pai de 50 anos.
Não sabia se ia conseguir conter mais, estava afogar-me por dentro...
Sozinha, depois, escorreu-me a morte e os meus medos. Nunca a vi á frente, encarei-a nas suas possibilidades pelo sofrimento que algumas vezes me fez creer que ela me ia libertar. Outras vezes, por temer ser atacada por ela, como se ela me perseguisse a todo instante.
E tu, levaste-me a esses sítios meus... eu não queria ter lá estado.
Por fim, um sofá envolveu-me e a sua envolvemcia aguentou o peso do meu corpo. Queria ter adormecido ali. Mas precisei de te mostrar que dores menores me têm vindo a corromper o viver.
Não queria que soubesses que sou essa pessoa nesse passado.
Mas não sei mais viver na ilusão.
Vi muita desilusão no teu olhar.
Senti que querias ter-me confortado, não deixei.
É difícil ver-me frágil.
Não sei ser frágil.
Mas sou feita em cristal e tento viver como se fosse o diamante ainda por esculpir...
A vida tem passado.
Sou mais gente. Ás vezes nso sei estar, sou feito a adolescente que tens em casa, que se esconde e afugenta, de forma a não ver e não ser vista. Fingindo que nada está a acontecer.
Preciso que o tempo me ajude a metabolizar tudo isto, o mais difícil são os sentimentos e o melhor é o que fazemos com eles nas relações.
Admiro a naturalidade com que encontraste um espaço de paz no teu existir e te deste o necessário espaço para seres, mesmo quando nem nisso pensas. Abre-se uma possibilidade na minha vida, é o mesmo espaço que se abre entre duas nuvens ao se deixarem penetrar pela luz do sol.
Essa luz, deixa-me sentir que há um azul celeste na minha vida. Faz-me querer continuar.
Obrigada por estares aí.
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Com a maresiaOnde histórias criam vida. Descubra agora