Kelly estava na recepção atendendo a uma ligação, mas assim que viu o detetive Whitehill, acenou para que ele entrasse.
- Está atrasado, Henry – o patologista checava seus utensílios – Quase íamos começar sem você.
Whitehill odiava o lugar. Detestava a sensação de estar rodeado por cadáveres e, vendo Andy abrir um corpo, era dez vezes pior. Mantendo a postura, resolveu puxar conversa para que o clima amenizasse.
- Então, doutor – começou – Já tem alguma suspeita da causa da morte?
- É um caso raro, detetive. O nome desse rapaz aqui é Kevyn Linn, ele tinha quase vinte anos e cresceu como garoto de rua. Não há nenhum parente, ninguém que se importe. Mas esse não é o fato curioso – o patologista fez uma pausa para virar o cadáver, de modo que o detetive visse sua nuca – O nosso Kevyn morreu porque, simplesmente, seu sistema cerebral parou.
- Isso soa importante. De qualquer forma, como isso é possível? – questionou Whitehil.
- A morte cerebral não é incomum. Mas nessas circunstâncias, sim. Geralmente acontece quando a pessoa tem um AVC, falta oxigênio no cérebro, overdose ou traumatismo craniano...
- Certo... – interrompeu o detetive – Qual o horário da morte?
- Aproximadamente 18h55m, mas nada de certeza. – prosseguiu Andy.
- Algo mais que eu deveria saber, doutor? – o detetive odiava o clima pesado da sala e o fato de ter um corpo tão perto de onde ele estava, quando mais rápido acabasse com isso, melhor.
- Talvez sim. O engraçado é que Kevyn não morreu devido a pancada, que poderia ter levado a um traumatismo ou um derrame. Ele já estava morto antes mesmo de ser arremessado contra o latão.
- Você disse arremessado? – Whitehill estava começando a se sentir incomodado.
- Sim. Se ele tivesse caído de algum lugar, o latão estaria mais amassado que isso - disse o patologista mostrando algumas fotos - e também, as chances de seu pescoço virar na queda são mínimas. A única explicação viável é de que seu corpo tenha sido jogado involuntariamente contra a parede próxima ao lixo, o que também explica as manchas de sangue na mesma, e o corpo do garoto ter caido sobre o latão.
Whitehill processou as informações durante alguns segundos.
- E como diabos eu descubro quem é a vítima nisso?
- Você é o detetive aqui, Henry – o patologista tirou as luvas e se virou para encará-lo – Me diga você.
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Transcendente
General FictionTodos os vilões foram bons um dia. Escrito por Brandon Rammon e Ricardo J. J