Emma não podia afirmar com toda a certeza de que tudo que acontecera não passava de um pesadelo. Nada na minha cabeça é certo nesse exato momento. Ou talvez, nenhuma ideia satisfatória tivesse surgido em sua mente ainda.
- Emma, tu já tá aí a um tempão! O que aconteceu?
É Chloe do outro lado da porta do banheiro. Sua voz é abafada mas sua respiração irregular é suficientemente audível.
Pânico. Emma pensava em todas aquelas pessoas mortas no acidente com o metrô. Mais alguns milésimos e eu estaria dentre as vítimas... E o rapaz japonês? Quem é você...? Droga! Sou a mais velha! Tudo o que Chloe tem. Não tenho direito algum de surtar agora. O que fazer a seguir? Emma desejava um manual que explicasse o que fazer em situações de pânico geral. Racionalismo, garota estúpida! Uma coisa ela tem certeza, tem de sair dali, como sempre, fugir para qualquer lugar. Do outro lado da porta estava o motivo de todo o esforço de Emma, a pessoa pela qual ela mantinha ou refazia todos os planos.
A garota tentou manter sua mente lúcida com a intenção de não retroceder aos momentos em que o incidente acontecera. Não queria lembrar que fora real. Parecia que tudo perderia seu sentido a qualquer momento.
- Emma!? - Chamou Chloe, a voz um pouco mais aguda e nervosa.
Emma olhou mais uma vez para as ondas em relevo desenhadas nos azulejos das paredes. Causavam-na um certo hipnotismo. Ela respirou fundo, organizou seus pensamentos, enxugou o rosto e abriu a porta:
- Empacote só o necessário, Chloe. Temos dez minutos. Sem perguntas.
O mesmo pânico que antes apoderava-se de Emma, agora instaurava-se nos olhos da pequena. Ninguém pode surtar agora. Não há tempo. Abraçou-a
Em poucos minutos, o antigo apartamento estava vazio. Emma apressava-se junto de sua pequena irmã na direção do Starbucks. Kyle, seu gerente, fora o homem que ajudou-a se estabelecer em Hong Kong e era sempre muito prestativo, oferecendo-a o emprego na cafeteria e indicando a moradia certa.
Emma optou entrar pela porta dos fundos que dava para a cozinha do estabelecimento. A garota abriu a porta de metal cautelosamente dando uma vista de olhos a procura de Kyle. Ele estava preparando algum café na bancada de grãos. Era o único ali presente. Alguém provavelmente atendia no caixa.
- Psst! - Chamou Emma, Chloe logo atrás dela. - Kyle!
O homem de meia idade olhou para trás. Apressou-se em terminar o pedido, deixou-o no balcão de entrega e foi ao encontro de Emma.
- Céus, o que você acha que tá fazendo!? - Perguntou ele olhando para a garota e só depois percebendo que Chloe também estava ali. - Espera, o que aconteceu?
- Eu não tenho tempo pra explicar, Kyle! - Disse Emma apressadamente - Eu preciso de um favor imenso de você. Imenso mesmo!
- Mais um? Vou começar a descontar do seu salário esses favores!
- Kyle! É muito sério. Olha, eu preciso ir até o nível 150...
- 150!? - Interrompeu. - O que diabos vai fazer no 150?
- Eu preciso... - Emma hesitou - Preciso ir até Xangai.
Chloe olhou surpresa para a irmã;
- É sobre o assalto da última semana... É importante que eu vá.
Emma desejou intensamente que Kyle não a atrasasse mais.
- Do que você precisa? - Perguntou ele por fim. A garota soltou um suspiro de alívio.
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Transcendente
General FictionTodos os vilões foram bons um dia. Escrito por Brandon Rammon e Ricardo J. J