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Yoongi ri soprado com a ansiedade ameaçando revirar suas tripas e dá alguns passos em direção à casa. Os outros três ficam atrás do loiro enquanto, ainda incerto, encara o réptil no chão que leva a vida na maior tranquilidade, completamente alheio a quaisquer dos acontecimentos insanos ao seu redor. Qualquer um que tenha uma tartaruga de estimação não pode ser tão ruim, pode?

— 'Tá bom. E quando eu tenho que fazer isso? — pergunta, voltando-se para trás.

— A hora em que estiver pronto. — O Chapeleiro se aproxima dele e põe a mão em seu ombro. — Mas de preferência o quanto antes, logo o sol irá se pôr.

— Eu tenho que entrar sozinho?

— Sim — é Namjoon quem o responde.

Yoongi respira profundo, buscando se acalmar. Não pode ser tão ruim, repete para si mesmo, na tentativa de se convencer. Por mais que Namjoon tenha o alertado para não subestimar o desafio que está dentro da casa, ele tenta acreditar em seu pensamento que nada que tenha de enfrentar agora pode ser tão difícil.

— Bom, então... eu vou agora, 'tá?

Yoongi se afasta. Ele se volta para a tal casa e começa a andar em direção à ela, e no entanto um braço lhe segura o pulso com firmeza. O loiro reconhece o toque do Chapeleiro sem nem mesmo precisar olhar, os dedos firmes do outro em torno de sua pele. E quente.

Sempre quente.

— Ei. — Sua voz suave está mais rente do que o menor imaginava.

Yoongi se vira e o rosto de Hoseok está a centímetros do seu. No entanto, ele não foge dessa vez. O Chapeleiro solta seu pulso, rapidamente envolvendo o rosto macio do loiro com as mãos; então, faz algo que novamente o surpreende: une seus lábios aos dele, que sequer tem tempo para ficar ansioso ou ainda, na pior das hipóteses, ter um infarto; mesmo porque o contato acaba rápido demais.

— Boa sorte — Hoseok sussurra contra seus lábios, ainda perto o suficiente para que Yoongi sinta seu calor. Então empurra o loiro em direção à casa.

Yoongi desvia da tartaruga no quintal, quase tropeçando no animal, que deve ter cerca de um metro e pouco de altura do ponto mais alto de seu casco curvado até o chão. Ele pára em frente à porta, ainda digerindo o fato de que Hoseok Hatter, mesmo que por pouco tempo, tenha colado os lábios nos dele. O que o assusta é que não houve malícia alguma no selar, nem de brincadeira. Yoongi não sentiu segundas intenções. Era apenas um beijinho de boa sorte, quase... gentil. O sino dos ventos feito de geodo azul escuro ao seu lado se agita com a brisa e toca uma melodia curta, entretanto isso não o distrai. Presa com um prego à porta, há uma carta simples de baralho, mais especificamente um Ás de Paus. Yoongi aproxima o rosto até poder ler o que está escrito nela com tinta vermelha.

Parabéns por chegar até aqui! Boa sorte, Alice.

Ao fim, o desenho de uma patinha de coelho. É ao analisá-la que o Min percebe: isto não é tinta vermelha, coisa nenhuma. É sangue fresco; o Coelho Branco esteve ali não faz muito tempo. Um arrepio lhe percorre a espinha ao ver o líquido rubro ainda úmido manchando a carta e Yoongi tem de lembrar a si mesmo que não pode mais possuir essa sensibilidade. Em poucos dias, terá de matar alguém e deverá agir com frieza o suficiente para conseguir. Mesmo querendo evitar pensar nisso — e geralmente conseguindo, devido aos outros desafios que aparecem pelo caminho e roubam-lhe a atenção para o presente —, às vezes o tormento do nervosismo rasteja por sua coluna e sussurra-lhe ao ouvido, lembrando-o do que terá que fazer e acusando-o de não ser capaz.

Após arrancar a carta e guardá-la no bolso da blusa de moletom, ele envolve a fechadura enferrujada com os dedos trêmulos e a vira com cautela. Por dentro, a casa é bem cuidada; por mais que pareça a residência de algum cigano ou algo do tipo, devido às tapeçarias expostas, está tudo limpo. Pelo fato de ser fim de tarde, não está tudo exatamente escuro, porém também não há claridade. À meia-luz, ele entra no que parece ser uma sala de estar. Há um único sofá de camurça preto e uma pequena mesa de centro de vidro. As paredes de madeira não são visíveis devido às estantes abarrotadas de livros. Ele anda até a parede oposta à porta por onde entrou; bem no centro, há uma porta aberta que leva aos outros cômodos. Yoongi olha ao redor, tenso, e segue por ela, explorando o restante desta casa estranhamente localizada. Há um corredor com um quarto de um lado, um banheiro no outro e uma cozinha no fim. Todas as portas estão abertas e a casa parece vazia, o silêncio dentro dela só faz aumentar o nervosismo dele. Acima dele, no teto do corredor, tem um alçapão que provavelmente dá para o sótão.

Eu Sou Alice • {yoonseok}Onde histórias criam vida. Descubra agora