1990.
Entraram em silêncio, Elena foi mostrando os cômodos e contando algo engraçado, o senso de humor dela era tão eclético quanto tudo o que ela colecionava. Ela então parou no escritório que fora de seu marido, com um suspiro longo, ela lamentou sua falta, a morte esperada e relatou tudo de bom que ele lhe fizera. Fizera a ela e à Valentina.
Cláudio ouvia tudo atentamente, mas foi quando Elena disse "Valentina teve um bom pai..." que Cláudio resolveu prestar atenção na foto do falecido marido de Elena, o doutor Fagundes. Ele cruzou os braços e analisou bem a moldura sobre a estante. Um homem já de certa idade, aparentava estar nos seus 50 e poucos anos de idade, Elena de noiva, um pouco mais cheia que o habitual, pelo ano do casamento estava com 26 anos... 1985. Cláudio completou 25 anos, em Fevereiro neste mesmo ano, e resolvera comemorar com os amigos, ignorando um chamado de Elena...
- Vou te mostrar o andar de cima. – Elena diz, mas Cláudio não conseguia tirar os olhos da fotografia.
- Eu lembro que você se mudou para o Rio de Janeiro logo depois do carnaval. – Cláudio pegou o porta retrato da estante e ainda o analisava. – e pouquíssimos meses depois eu recebi a notícia do seu casamento. – ele então olhou para ela.
- Casei-me no final de Maio. – Elena estava muito calma e serena. – Eu havia começado a trabalhar na empresa que cuidava da parte administrativa da clínica que ele era dono, ele já estava doente, não queria... perder tempo. – ela suspirou, parecia triste de repente. – graças a Deus ele viveu bem por anos, só neste último ano foi que a doença o pegou de jeito... enfim, já faz 6 meses que ele se foi e eu só pretendo guardar as boas lembranças.
- Eu... – Cláudio olhou para a foto, apesar de meio coroa, Fagundes era sim um homem muito bonito até para sua idade, olhou para Elena sorrindo ao lado dele, o rosto largo, o cabelo estava bem curto, na altura do pescoço, o véu de noiva curto também, batia nos ombros, e o buquê feito de rosas tão vermelhas quanto o batom que Elena usava antigamente, era o único colorido naquela foto tão clara quanto uma nuvem. – Sinto muito. – ele concluiu colocando o retrato de volta ao lugar.
Elena sorriu e os dois seguiram para o andar de cima. Ela fez questão de mostrar primeiro a biblioteca, sorria enquanto falava das coleções e de alguns livros raros. Cláudio se pegou sorrindo de volta, mas não dela, e sim para ela. Ele olhava a Elena de agora, com 31 anos, uma mulher rica e bem sucedida, mãe de uma menina linda, viúva e administrando uma empresa praticamente sozinha. Sim, ela venceu, é claro que venceria. Cláudio cruzou os braços e sorriu novamente olhando para ela, mas já não ouvia o que ela dizia agora, e sim palavras de outrora...
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entre amigos
Short StoryUma Amizade Colorida que ficou em preto e branco pela covardia e o medo de acreditar no amor verdadeiro entre amigos. Mas o tempo , às vezes, consegue mexer os pauzinhos e colocará Cláudio e Elena frente a frente novamente, estarão eles maduros para...