revelações

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1990.

A babá entrou no quarto para chamar Elena para os parabéns, os dois desceram e foram para o lado de fora, com todo aquele assunto no ar. Foi tudo bem rápido, logo após os parabéns, as pessoas foram se despedindo, não havia ninguém que Cláudio conhecesse, afinal, os parentes de Elena estavam todos em Minas ainda. Então, Cláudio preferiu ficar ao longe, mas não conseguia tirar os olhos de Valentina. Era quase imperdoável que Elena tivesse escondido isso dele, tivesse tirado isso dele, por todo esse tempo.

Cláudio observou quando a babá entregou a menina e viu que Elena ia fazer tudo sozinha. Ela deu banho e vestiu a filha, com muito amor, sempre brincando com a menina. Ele queria se aproximar, dizer algo, mas não sabia se era o momento. Ele ficou irritado consigo mesmo, se questionando por que mesmo aos 30 anos ele ainda ficava sempre na dúvida do momento certo de fazer as coisas... Ao menos no tribunal ele era bem decidido.

Quando Elena entrou na sala com a pequena Valentina de pijama de ursinhos, Cláudio teve que se segurar para não chorar, a cena era quase um sonho.

- Diga boa noite, meu amor.

- Boa noite... – Valentina disse tímida, mas ela surpreendeu ao abraçar Cláudio que a abraçou com força de volta e então não conseguiu conter as lágrimas.

Ele olhou para o rostinho dela e tocou seu cabelo, deu um beijo na testa e disse entre lágrimas:

- Boa noite, minha querida, eu amo você, dorme com Deus, até amanhã. – e abraçou Valentina de volta que sorria sem entender o porquê daquilo tudo.

Depois que a babá foi para o quarto dormir com Valentina, Elena convidou Cláudio para que fossem para a cozinha. Ela pegou uma garrafa de vinho tinto e cortou uns pedaços de queijo, enquanto Cláudio elogiava o espaço e a arrumação. Após o primeiro gole do vinho, os dois se entreolharam por alguns minutos... Cláudio não ia fingir que estava tudo bem e Elena não parecia que ia fugir dessa responsabilidade mesmo.

- Bom, sim, você é o pai de Valentina. – ela soltou e Cláudio quase engasgou.

- Elena, eu...

- Não, deixe-me contar do início, e você vai ver que teve tanta culpa quanto eu, e que eu fiz o melhor para ela.

- Afastando ela do pai?

- Um pai que fugiu às responsabilidades, um pai que só queria saber de farra, um pai que respondeu a um processo criminal...

- Você sabe que fui absolvido, que eu estava bêbado demais para entender o que estava acontecendo, que Sérgio me arrastou de lá...

- E que você poderia nem ter sido indiciado, se tivesse atendido ao meu chamado...

Cláudio sentiu o pedaço de papel queimar no seu bolso, mais uma vez...

- Você sabe que isso quase custou minha aprovação no TRE...

- Isso lhe custou coisas bem mais valiosas que isso, não?

entre amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora