Dominados

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1990.

Cláudio então contou a Elena o desespero que foi todo o processo da mulher que morreu no tiroteio aquele dia, falou da experiência de ter entrado para a faculdade de direito em BH, da viagem que fez pela Europa ao se formar e ter sido aprovado no TJ.

Elena, por sua vez, contou que havia descoberto que estava grávida no dia do aniversário dele, mas que queria contar pessoalmente, que pensou em desistir de vir para o Rio de Janeiro, mas quando ele disse que iria curtir o carnaval de ouro preto e nem quis saber de mais nada, ela só teve a ideia do bilhete horas antes e quando viu que ele não iria aparecer, entrou no ônibus sem olhar para trás.

- E... – Cláudio dá um gole no vinho – Como tinha certeza que era meu?

Elena poderia se sentir ofendida com a pergunta, mas apenas balançou a cabeça dando um riso irônico, já era previsível que ele dissesse isso.

- Todos os caras que eu saí depois que você me dispensou, eu não transei com nenhum deles. Foi no máximo beijo e alguns nem isso. – ela deu de ombros e se virou para encher sua taça.

Cláudio sentiu uma sensação como um alivio refrescante e soube naquele instante que não poderia perder aquela mulher novamente.

- Eu foquei nos meus estudos e fiquei meses sem ninguém. Tentei de encontrar aqui no Rio, mas você conseguiu se esconder bem.

- É, eu só fazia ligações para meus pais e para Sônia, não queria ser encontrada. Por ninguém. – ela mordiscou um pedaço de queijo e então Cláudio notou que ela estava descalça, encostada na bancada, distraída, parecia sua Elena de 5 anos atrás... – Eu só enviei a carta para você porque Sônia me falou que você havia chegado de viagem e que estava... sozinho.

- Eu nunca consegui... – ele tentou escolher bem as palavras – Nenhuma delas era... você.

Elena prendeu a respiração. Cláudio conseguiu dizer tanta coisa com tão poucas palavras, ele não precisava dizer mais nada. Ela sequer queria saber. Ela o olhou com o mesmo tesão daquele verão de 84, a mesma paixão do dia em que ela concebera Valentina, e agora ele estava ali, o pai de sua filha, o amigo que ela amava e o homem que ela desejava. Cinco anos depois e ela se via perdida novamente...

Quando ela colocou a taça sobre a bancada, tudo o que se deu em seguida foi como um tango argentino....

Cláudio atravessou a cozinha no mesmo instante que Elena, os dois grudaram um no outro e de repente pararam. De olhos fechados. Testa com testa. Um sentindo o cheiro do outro, o cheiro tão guardado na memória e no coração... Ficaram assim alguns minutos, até que Cláudio começou a passar o rosto pelo rosto dela, os dois ainda de olhos fechados, as respirações se misturando e então, os lábios estavam selados.

Elena correspondeu ao beijo de forma doce, mas intensa, o beijo dela parecia mais maduro, não tinha mais sabor de nicotina e batida, mas o gosto acentuado do vinho misturado ao dele, deixava uma sensação de "estar em casa". Ficaram se beijando assim, apenas com os corpos levemente encostados, mas as mãos segurando o rosto um do outro. Até que o beijo foi aumentando de intensidade, os corpos ficaram mais grudados, a excitação ficando incontrolável.

Cláudio passou a mão direita pela nuca de Elena, entrelaçando os dedos nos cabelos finos e macios dela, segurou firme e levou os lábios ao ouvido dela. Elena estremeceu, aqueles lábios que ela tanto adorava, grossos e cheios de lascívia, o hálito quente de Cláudio fazia com que ela ficasse lânguida em seus braços.

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