conhecendo a pequena Valentina

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1990.

Cláudio olhou aquela diversidade de cores e formas das rosas em volta e poderia descrever cada uma delas como uma versão de Elena. Mas o segurança interrompeu seus pensamentos.

- É por aqui.

Cláudio agradeceu e o seguiu, o embrulho gigante queimando debaixo de seu braço, será que ela gostaria? Ele se indagava e logo pôde ouvir uma música alegre aumentando de som, era uma canção da Turma do Balão Mágico e assim que identificou, chegou na lateral da casa, já longe do roseiral, e viu crianças correndo, balões coloridos por todos os lados, mesas com as toalhas brancas e rosas esvoaçando com o vento leve daquela tarde de primavera.

E então seu coração disparou, e para também por uma fração de segundos, lá tirando fotos atrás de uma mesa gigante com um bolo enorme com o desenho da Moranguinho, balas e doces e bolas ornamentando em volta e um painel colorido cheio de morangos e a boneca representada ao centro, estava Elena. Sorriso largo, presença absoluta, sandálias de tiras cor creme com salto 15, vestindo calça vermelha cigarrete, bolsos fofos nos quadris e uma blusa de cetim num tom de verde muitíssimo claro, quase translúcido, com delicados botões de pérolas fazendo uma linha da base ao decote.

Ela o viu, seu sorriso pareceu se alargar ainda mais. Elena se abaixou para ajeitar a pequena Valentina. A menina usava um vestido quase réplica da boneca tema de sua festa e uma tiara com um laçarote no topo da cabeça, deixava seus cachos soltos e ainda mais parecidos com os cabelos da boneca que ela adorava.

- Venha, meu anjo, quero que você conheça alguém muito especial. – Elena disse e pegou a maõzinha que Valentina lhe esticara.

Cláudio tentava não parecer nervoso, felizmente a festa não estava tão cheia, algumas mesas que ele imaginava ser os familiares e mais alguns amigos, acreditava ele que o foco dos convidados era ter crianças. Porque isso tinha bastante, de todas as idades. Uma grade de alumínio cercava uma piscina de tamanho quase olímpico, e Cláudio tentava distrair seu nervosismo calculando o tamanho do perigo que seria se uma delas caísse ali...

- Que bom que você finalmente chegou.

A voz de Elena era exatamente tão eletrizante quanto ele se lembrava. Ele a olhou bem no rosto, a pele estava queimada de sol, dava para notar algumas sardas e a marquinha de biquíni próxima do pescoço, o cabelo dela estava repicado e cheio de mechas aloiradas, e bem mais cheio do que ele se lembrava, era o corte da moda do momento, um franjão lhe caía perto do olho esquerdo e ela sorria com a boca brilhante de gloss.

- Eu peço perdão pela demora, eu...

- Sem problemas, chegou a tempo dessa vez.

Cláudio deu um sorriso tímido e se pegou questionando se ela estaria mesmo fazendo referência àquele fatídico dia de 5 anos atrás. Foi só quando ela ergueu a menina no colo que Cláudio perdeu o chão. Aquela era a Valentina, a filha de Elena que ela citara na carta, filha de Elena e...

- Diga oi para o amigo da mamãe, Valentina.

- Oiiiiii...!

Cláudio piscou e sentiu um sopro quente invadindo seu ser ao som gostoso daquela voz infantil e delicada. Ele se empertigou e dizendo algumas palavras atrapalhadas, entregou o embrulho para a menina. Elena sorriu agradecendo e pôs a menina no chão para que a mesma abrisse o embrulho, agachou quando Valentina sentou rasgando o papel, Cláudio automaticamente fez o mesmo, aquela menina era magnética, como a mãe.

Enquanto Valentina desembrulhava o presente e fazia aquela carinha que faz todo e qualquer sacrifício valer apena, adorando a casa em forma de morango com mil pecinhas para montar a casinha da Moranguinho, Cláudio olhou-a com mais atenção. A menina tinha cabelos castanhos escuros e cachos soltos da raiz às pontas, era um cabelo cheio e ia até a cintura. A pele era um tom de café-com-leite e os olhos da menina eram dois caramelos brilhantes, ao sorrir, as covinhas que se formavam emoldurando sua boquinha, de lábios mais grossos do que os da mãe, faziam Cláudio se lembrar de algo que ele jurava já ter visto em algum lugar... ou alguém...

- Como se diz? – Elena falou e Cláudio despertou, se levantando.

- Obigada, tio Cláudio!

- Por nada, minha querida, que bom que gostou.

- Eu amei! – e dando um abraço espontâneo que desarmou Cláudio por completo, Valentina, agarrada ao presente, pediu a mãe para ir mostrar para os amiguinhos e saiu correndo ao encontro deles.

- Ela é... incrível, Elena.

- É, sim, eu sei... – Elena fez sinal para a babá que logo se aproximou de Valentina e voltou sua atenção para Cláudio. – Quer conhecer minha casa? – ela disse já o conduzindo pela lateral da festa e ele apenas deu um sorriso de canto, os dois sabiam que queriam ficar a sós, depois de tanto tempo, tantos planos... tanta dor.

Ele viu a casa imponente, toda em branco com janelas de madeira e detalhes em metal acobreados, mas o tilintar de um adereço preso a uma das janelas no segundo andar, fez com que ele se transportasse dali para outro lugar...

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