Apresentação (do livro e do autor) e Primeiras Lições

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Prezado(a) leitor(a). Se você está aqui, certamente você ou já é ou pretende se tornar escritor(a). No mínimo, está interessado em se aventurar na difícil missão de organizar ideias para transformá-las em algum tipo de texto. Seja bem vindo(a)!

Bem, eu preciso dizer, a bem da verdade, que esta obra não é um manual, não é um tutorial, não é algo inédito e, muito menos, uma regra determinando como você deve trabalhar e produzir seus textos. Eu diria que se trata mais de um misto de anotações e diário de escritor. A primeira intenção era organizar as minhas ideias, concepções, conhecimentos, as técnicas que tenho aprendido todos os dias, e resolvi tornar tudo isso público na intenção de ajudar a quem interessar, possa.

A propósito, eu sequer sou, pelo menos por enquanto, a pessoa mais qualificada para ensinar algo mais do que a minha própria experiência. Então, permitam-me falar um pouco de onde vem esta experiência.

Eu me apaixonei irremediavelmente pelas artes muito cedo. Não me faltaram estímulos: nasci em Caruaru, "Capital do Forró" e um dos mais importantes pólos ceramistas do país, meu pai escreve... Na escola primária, a escola resolveu publicar uma redação minha no jornalzinho da instituição. Não lembro sobre o que falava, mas, se isso não é um excelente estímulo para continuar escrevendo, não sei mais o que seria. Desde cedo meus pais me apresentaram muita música, poesias infantis etc., e ainda antes de ter nove anos completos, eu já era um grande admirador de Vinícius de Moraes, Toquinho, Chico Buarque, Caetano Veloso e, especialmente, de Raul Seixas e de Cazuza.

Aliás, quando ouvi Cazuza dizer que "enquanto houver burguesia, não vai haver poesia", eu, interpretando muito literalmente com minha cabeça de criança, fiquei muito atordoado com essa afirmação. Era preciso fazer algo a respeito! E fiz. Não tenho mais os primeiros versinhos que escrevi, naquela época, mas, lembro claramente que eram compostos basicamente de um título e duas ou três linhas. Eram tão bobinhos e piegas como poderiam ser, considerando minha idade. Por fim, ainda nessa fase, tive contato, na escola, com o teatro, experiência que me marcou pro resto da vida, de forma determinante, e que anos depois me auxiliaria bastante como escritor.

Mudar para o Recife, pouco antes de completar 10 anos, colocou-me em uma fase difícil! Tive muita dificuldade de me adaptar à nova vida. Num concurso de poesias do colégio, escrevi um poema em homenagem a Caruaru. Foi meu primeiro poema digno do nome, e, honestamente, foi quando aprendi dolorosamente a primeira grande lição, que você deve começar a anotar: faça cópias! O colégio perdeu meu poema, e sequer concorri. Foi uma queda simbólica, mas, muito dolorida, já que eu sofria de falta da minha vida, e mesmo  a expressão de meu sentimento foi tirada de mim.

Meses depois, após um ano sem ver minha primeira namoradinha (que era de Caruaru), caiu a ficha de que não havia mais namoro, e escrevi um poema de despedida. A partir daí, a caneta e o papel eram inseparáveis de mim. Com o tempo, passei a escrever em média dois a três poemas num só dia, mas, nos dias mais inspirados, chegava a escrever oito poemas no mesmo dia. Não importava onde eu estava, nem o que estava fazendo. Eu podia me dar ao luxo de parar quase qualquer coisa que estivesse fazendo para escrever, e fazia uso dessa prerrogativa. Escrevia no meio da aula, ou acordava no meio da madrugada para escrever. Os cadernos e agendas escolares onde ficou grande parte dos registros devem estar encaixotados em algum canto na casa de minha mãe, enquanto escrevo essas linhas.

Mas, não tenho grandes expectativas ao pensar nestes textos. Aqueles muitos trabalhos, para qualquer leitor desavisado, parecerão no mínimo medíocres e repetitivos. Então, segunda lição importante, que te passo: nem tudo o que você escrever será uma obra prima. Escreva! Não pouco, escreva muito! Mantenha-se neste exercício diário, não desista. Quando não tiver ideias novas, revisite ideias antigas, aprimore sua escrita recomeçando do zero ou mesmo reescrevendo trabalhos anteriores. Ao exercício que foi escrever e reescrever tanto, devo grande parcela de aprendizado e evolução que conquistei naqueles tempos.

Você deve estar reparando que eu quase só falei de versos. E, talvez, você queira ser um contista, ou um grande romancista, talvez. Quiçá, pretenda ser jornalista ou biógrafo. Enfim, se você quer escrever em prosa, não em verso, digo sem medo de errar que as minhas dicas até aqui foram bem universais e te servem de qualquer modo.

Mas, a verdade é que, enquanto meu verso progredia, claro fruto de muita leitura e exercício constante, chegando inclusive a ser convidado a me juntar a uma equipe que representaria o colégio num concurso literário nacional, minha prosa era ainda incipiente demais. Em grande parte, se resumia às redações da escola, com tanta coesão quanto um vaso estilhaçado.

Certo dia, um professor de filosofia me alertou sobre a falta de coesão e de encadeamento das ideias. Com algum esforço, corrigi essa fragilidade e julgava estar pronto para voltar a receber os elogios habituais. Mas, chegou uma professora de redação nova que me fez o maior favor de todos: uma crítica honesta e profunda das cinco redações que eu julgava serem minhas melhores (todas eram provas e estavam estampadas com nota dez). Entreguei as redações incólumes, com apenas a nota no topo e o texto escrito à mão. E as recebi volta com mais vermelho em riscos e anotações do o azul da caneta com que as escrevera. A afirmação de que a minha melhor nota não ultrapassaria 3,5 (exato: três e meio!) foi voltada para redações dissertativas argumentativas, para vestibular, o que é um nicho muito específico da escrita. Mas, grande parte das lições que ela me deu nesse momento me fizeram aprimorar toda minha escrita. Decidi praticar até conseguir uma redação impecável, e o exercício constante me fez tornar naturais e até automáticos grande parte dos aprimoramentos.

E eis que aqui está minha terceira lição: ame a crítica!

Atenção! Não proponho aqui que você engula tudo o que te disserem sobre seus textos. Nem elogios nem ataques. Mas, ouso citar Machado de Assis, aqui: "Aplausos,quando os não fundamenta o mérito, afagam certamente o espírito e dão algum verniz de celebridade; mas, quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma coisa, prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia." (Ressurreição, 1872).

Eu considero essa lição algo muito importante, e ela terá um capítulo (ou mais de um) só para corroborá-la e explicá-la melhor.

Até algum tempo após ingressar na universidade, minha criação literária era basicamente em versos, e minhas estórias escoavam para o público por intermédio do teatro. Foi quando entrei numa fase muito pesada, complicada, desmedidamente estressante, e não pude mais fazer teatro, e de quebra tive um sério bloqueio para meus versos. Esse foi um ponto de inflexão importante na minha vida como escritor. Transformar minhas pequenas estórias em contos foi uma saída para dar vazão a toda aquela força criativa que estava aprisionada.

Nessa altura, um fenômeno começou a me chamar a atenção. Assim como o médico Arthur Connan Doyle usou de seus conhecimentos médicos para escrever Sherlock Holmes, a Farmacóloga Agatha Christie usou seus conhecimentos farmacológicos em sua obra e o professor Augusto dos Anjos abusava de cientificismo em sua poesia, também eu tenho muitas lições de minha formação cênica que aproveito para minhas estórias. Técnica de improviso para desenvolver estórias curtas, a dramaticidade, a composição de cada personagem, o modo como eu penso o espaço em que acontece cada cena de cada capítulo etc. E aqui está uma lição importante, a quarta: Seja genuíno, e só você escreverá como você!

Diga-se de passagem que, desde a adolescência, eu tinha projetos, ideias de romances. Mas, apesar de eu ter tempo livre naquela época, eu era muito desorganizado. Acaso alguma das ideias tenha sido boa, se perdeu. Recordo que escrevi algo que se pretendia romance, mas, concluído, não era mais que um conto um pouco estendido. Mas, também não sei se poderei recuperar esse trabalho, porque, certamente, também se perdeu. Quinta e última lição dessa apresentação: Organize-se!

Essas lições serão melhor abordadas em alguns dos capítulos do livro. De agora em diante, é sua tarefa decidir se lerá apenas capítulos com temas de seu interesse, ou se irá acompanhar todos os capítulos. Para mim, a missão desse livro terá sido cumprida com sucesso se você encontrar algo de útil para sua vida como escritor(a).

Está pronto para começar?
Então dá aquela força:
Vota, comenta o que está achando, e já avança pro primeiro capítulo!
Se tiver dúvidas, aproveita e me manda, que poderei incorporar a resposta ao livro.

Muitíssimo obrigado por ler!

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