1.3. Domine sua língua

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Calma, não estou pedindo para você dizer ou deixar de dizer nada a seu ninguém. Sua alma, sua palma. Cada um cuida de si e não sou habilitado para dizer a ninguém como viver sua vida. Antes de qualquer coisa, esse capítulo é a continuação do anterior, sobre a importância da leitura.

Mas você vai escrever seu texto em que idioma? Português? Inglês? Aramaico? Klingon? Algum idioma que você inventou? Dominar a língua que você escolher como base para o seu texto é um requisito mínimo para você poder escrever bem.

Aprender uma língua pode ser algo muito intuitivo, mas, dominá-la demanda estudo e, adivinha, muita prática: ouvir, falar, ler e escrever.

Por isso, já vou adiantando, sabe aqueles vícios de linguagem? Procure se livrar deles. "O óculos", "tu vem", "aonde você está", "vou estar fazendo" e outros tantos vícios tão comuns, todos devem sair do seu vocabulário.

Não vai ser fácil, não vai ser natural no começo, precisará ser gradual e demandará um autopoliciamento rigoroso, mas, ao fim, o benefício será evidente.

Isso não quer dizer, por exemplo, que, em determinados meios, você não possa usar gírias, expressões populares e afins, nem que você deverá, necessariamente, escrever conforme a norma culta. Mas, inclusive para comunicar o que deseja com maior eficiência e universalidade, abandonando ou não a norma culta, você poderá fazer muito bom uso dela, como Teseu usou o fio de Ariadne para não se perder no labirinto do Minotauro (essa passagem mitológica é muito útil, uso para muitas explicações). É importante conhecer o padrão para não se perder nas variações.

Além disso, como diz minha mãe, costume de casa vai à praça. Como você pode esperar que alguém vá ter interesse em ler seu livro, se você vai no perfil dela e escreve uma mensagem cheia de erros de português? Hoje, no Wattpad, deixei de adicionar um livro à minha lista de leitura porque tem um erro de crase no título. NO TÍTULO! Quer cartão de visita pior? A menos que seja a proposta (e a descrição do livro deixou claro que não é o caso), isso é uma tremenda propaganda negativa!

"Ai, Pablo, você não está sendo radical demais?", você pode estar se perguntando. Primeiro, não sou o primeiro nem o único leitor assíduo que se sente extremamente desconfortável em ler textos repletos de erros de português. Segundo, não cuidar da correção gramatical e vocabular transmite profundo amadorismo e desleixo do escritor, do revisor etc. No caso do Wattpad, normalmente, a mesma pessoa faz todas essas atividades, e por isso seu cuidado deve ser redobrado. Se você tiver qualquer pretensão de publicar em alguma editora, então, pode ser que um pecado dessa natureza termine sepultando suas chances com editoras e afins.

Entendam-me: um mecânico tem que entender de motores, saber usar as chaves de fenda, inglesa, o macaco etc. Um marceneiro tem que saber usar as serras, as plainas, os tornos, os gabaritos etc. Um escritor tem que dominar a(s) língua(s) em que escreve, as palavras que usa, a sintaxe, ou seja, o vernáculo como um todo.

Alguém com bom conhecimento da literatura nacional pode alegar os poetas analfabetos, tão comuns no sertão. Mas, ninguém poderá alegar sobre eles desconhecimento da língua que usam como ferramenta. A língua coloquial, regional, quase ancestral, marcada pela oralidade. Digo mais: se por um lado não são capazes (no sentido de ter condições de) decifrar os símbolos a que chamamos letras, nem de lhes atribuir significado quando dispostas ordenadamente diante de si, por outro lado afirmo categoricamente que a maioria deles consume mais literatura do que muitos de nós! Se jamais redigiram sobre um suporte físico sua literatura, é sabido que ouvem e produzem sua literatura de cordel, trovas, desafios e afins com uma frequência invejável. Muito do que criam (e até do que ouvem) fica gravado em sua memória por décadas, e quem pode transcrever, que o faça o quanto antes! Cópias não feitas morrem com o artista, como quando se queima uma biblioteca inteira. E, de qualquer modo, sua linguagem é típica e característica de sua região, sendo sempre facilmente compreendida pelo seu público (e nem sempre por pessoas alheias a seu meio).

Se é o seu objetivo dominar a linguagem oral, não vejo problema nisso. Mas, insisto que, se você usará como suporte a escrita, é fundamental que domine essa linguagem também, pois elas são bem distintas. E, se quer otimizar a qualidade da comunicação de sua obra, conheça a norma culta o suficiente para subvertê-la sem comprometer a compreensão de seus leitores, a ela habituados. Se você pretende dar projeção à sua obra, ela deve estar pronta para ser lida por um público bastante diversificado, ainda que pertencente a determinado nicho, e é para isso que existe a padronização da língua.

Será que eu tirei sua dúvida sobre esse ponto?
Ajudei ou deixei você na mão? Só saberei com o seu comentário.
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