Capítulo terceiro. Noradrenaline.
O dia amanheceu salpicando o celeste com nuvens acinzentadas, criando uma pintura tempestuosa e nada convidativa para sair de casa. Era mais um daqueles dias carentes para mofar em qualquer aconchego. Peter Parker se enrolava nas cobertas e no amontoado de travesseiros que pareciam sugar toda a sua vontade de levantar e aproveitar o dia. De certo teria se fundido com a cama se as persianas das janelas não tivessem subido automaticamente. Demorou a se acostumar com a luz que vinha de fora e a poluição sonora da cidade que já se fazia presente àquela hora da manhã.
─ Bom dia, senhor Parker.
─ Hey... com quem estou falando? ─ questiona, Peter, ainda sonolento.
─ Friday, senhor.
─ Oh, eu conheço você, verdade. Você e a Karen são amigas?
─ Não senhor, inteligências artificiais não possuem relacionamentos do gênero.
─ Isso por que você não conhece a Karen. ─ debochava, o garoto, escovando os dentes perante o espelho. ─ "Ela", "ê" "mia" "miga". ─ Peter comentava acreditando veemente que mesmo com pasta na boca, o que dizia era inteligível.
Descrente da produtividade do diálogo, Friday informa Peter que Tony se encontrava trabalhando na oficina e que o café da manhã estava servido. Antes de deixar o quarto, o garoto procura o celular debaixo dos travesseiros e em seu visor encontra algumas mensagens de May. A maioria recados melosos da tia que já não sabia viver sem a companhia do garoto. Passara apenas um dia e meio, mas a saudade já apertava para ela. Para Peter, estar longe da tia era o mesmo que um retiro de férias sabático. A adorava, isso era um fato, mas ter que lidar com seu humor inconstante e às vezes explosivo logo pela manhã, exigia esforço e paciência. Sabia que aquelas semanas não seriam relaxantes, afinal estava ali para ser treinado, para tornar-se uma versão melhorada do Homem Aranha. Não podia esquecer-se disso.
De estômago vazio e ansiando por algum carboidrato, Peter se senta à mesa de jantar, que estava rica em diversidades de alimentos. Havia de tudo, até o que não conhecia, cereais, pães integrais, iogurtes e algumas frutas exóticas. Entretanto, querendo saciar-se logo e descer até a oficina de encontro com o tutor, Peter optou apenas por um bowl de leite com corn flakes e mel. De cheias em cheias colheradas, o garoto enche o estômago, reparando na caneca de café solitária do outro lado da mesa. Sabia que o homem era um assíduo workaholic, um gênio implacável. Peter brincou com os próprios pensamentos acreditando que a mágica estava no café que tomava. Com dezessete anos ainda não havia inventado um acelerador de partículas ou desenvolvido um projeto de um carro como Tony, mas procurava se contentar com a média de notas acima dos oito e meio que obtinha no colégio. Após o devaneio, o garoto limpa a boca com o dorso da mão e sai em disparato até os andares inferiores do edifício.
─ Senhor Stark...? ─ Peter dá um passo para fora do elevador, logo após, encontrando o mais velho concentrado com o maçarico, trabalhando em alguma gerigonça que faiscava.
─ Oh, Peter. Tomou café da amanhã? Deixe-me adivinhar: corn flakes bem açucarado, certo? Certíssimo. ─ dizia Tony como sempre esnobe, sacando seus cortes sarcásticos.
─ Fase de crescimento. ─ retrucou, o menino, movimentando os converses¹ vermelhos para lá e para cá.

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Spring Break
RomansaGrandes poderes exigem grandes responsabilidades. De fato, Peter Parker demonstrou tamanha habilidade em suas últimas atuações em Berlim e contra o Homem Abutre, levando ao seu tão sonhado reconhecimento pelo herói que tanto admira. Com a chegada da...