Amor De Guerra

22

Ethan Ross

O menino está brincando com Carrie enquanto eu observo de longe. Eu definitivamente não sei como eu vou fazer isso. Nunca achei que servisse para ser pai, nunca tive um ótimo exemplo, mas algo dentro de mim diz que não deve ser assim tão difícil.

Emily disse que é um bom garoto, esperto e bastante inteligente.

- Vai ficar aí olhando? - Emily aparece atrás de mim - Vai lá falar com ele.

- O que eu falo com ele?

- Não sei, fala qualquer coisa.

Demoro uns segundos para reagir mas saio do lugar. Caminho lentamente até Harry, que me olha receoso assim que percebe minha presença.

Viro o rosto para Emily em busca de ajuda. Ela sorri e vira as costas, indo embora. Ótimo, estou sozinho com uma criança e um bebê, quais as chances de algo dar errado?

- Não sabe como falar comigo, né? - Olho novamente para o garoto. Carrie está no bebê conforto à sua frente.

- Não faço a menor ideia. - Resolvo ser sincero. Harry ri e bate no chão ao seu lado com a mão, uma indicação para que eu me sente. - Estou bem em pé.

- Não foi um pedido - O que? - Senta logo Senhor Ross, precisamos conversar.

Sem reclamar, me sento ao seu lado meio contrariado. Para uma criança, ele parece bem sério.

- Está namorando minha mãe? - Abro a boca para falar, porém nada sai, ele com certeza me pegou de surpresa.

- Aonde quer chegar com isso?

- A última vez que vi você, fez minha mãe chorar. Quero ter certeza que vai cuidar bem dela quando eu for embora. - Ele fala sem parar de brincar com Carrie, que resmunga alguns barulhos e gritinhos.

- Não vai embora.

- Eu não contei tudo que ouvi da conversa da Jess para a mamãe, ela acha que eu não sei o que está acontecendo. - Ele me olha com os olhos marejados. - Vão me mandar embora semana que vem, ouvi que a mamãe não era qualificada. Eu não entendo, ela me ama né? Isso não basta? - Ele deixa cair algumas lágrimas que rapidamente limpo. Sinto meu coração apertar.

- Não vão te mandar embora - O puxo para meu colo, apertando o corpo de Harry contra o meu. - Não vou deixar ninguém te tirar de nós. - Ele afasta o rosto do meu peito e me olha assustado - Confia em mim?

- Eu confio.

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- Tem certeza que quer fazer isso? - Meu advogado questiona do outro lado da linha.

- Tenho, mandarei todos os documentos da Emily por E-mail. Quero os contratos amanhã mesmo.

- Posso perguntar o motivo de querer se casar tão em cima da hora?

- Não. Isso é tudo. - Desligo.

Já liguei para todos os contatos que posso dentro do governo. Com Emily sendo minha esposa, a adoção de Harry se resume apenas a assinar alguns papeis.

- Tudo bem? - Sinto as mãos pequenas de Emily massagearem meus ombros. Seguro em um de seus braços e a faço dar a volta em minha cadeira, sentando em meu colo.

- Vai ficar. Nos casaremos amanhã - Emily não diz nada, apenas me olha como se eu fosse um doido - Enviarei os documentos da nossa união para um dos meus advogados que cuidará da adoção do Harry para nós. Em algumas semanas, seremos os pais legais dele.

- Eu.... Eu não sei o que dizer - Ela sussurra. - Não acha muito rápido? Sei que querem mandar ele de volta pra Israel, mas...

- Ele ia ser deportado em uma semana. - Sinto ela travar no meu colo - Não vai mais. Nos deram um mês para legalizarmos a nossa união, só precisamos comprovar que somos casados para que a guarda dele seja nossa.

- Como sabia a data da deportação? - Enfio o rosto no pescoço de Emily e beijo levemente sua pele, sentindo o corpo dela se arrepiar. Amo esse efeito que tenho sobre ela.

- Não vamos fala disso, vai ficar tudo bem. - Subo meus lábios para seu rosto - Me excita saber que amanhã se tornará a Senhora Ross.

- Tudo te excita Senhor Ross - Ela sussurra em meus lábios -

- Tudo que tenha relação com você me excita - E quando eu finalmente ia beijar essa boca que tanto amo, uma voz fina faz Emily pular do meu colo e olhar assustada para a porta.

- Eca! - Harry está parado, nos olhando. Deixo a cabeça pender para trás e suspiro frustrado. Aperto o volume em minhas calças tentando aliviar o incomodo.

- Por que não está com a Anne? - Emily diz enquanto arruma o cabelo, tentando se recompor.

- Ela caiu, eu não consegui acordar ela.

- O que? - Então o sentimento volta. A mesma coisa que senti quando quase perdi a Emily em Gaza. Medo. Pavor.

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É nesses momentos que paramos, a vida passa por nossos olhos e o tudo que podemos fazer é olhar. Olhar enquanto a vida se esvai. Nunca estamos preparados para a morte, muito menos, quando não é conosco.

Agora estou aqui, aqui parado. Pessoas ao meu redor choram, pessoas que nunca ligaram, nunca mandaram um cartão de natal, nunca estiveram lá. Estou aqui parado, sem chorar, não consigo mais derramar lágrimas. A mão de Emily segura a minha com força, ela está sendo minha força agora, porque sinceramente, nunca me senti tão fraco.

Câncer, Anne tinha câncer e nunca me falou nada.

" - Não queria te fazer sofrer, já passou por muita coisa.

- Eu poderia ter ajudado, deveria ter me dito. - Estou desesperado. Já mandei que o melhor médico especialista seja mandado para cá.

- Já tinha se espalhado por todos os lados meu amor, eu não poderia te preocupar com isso sabendo que não tinha mais jeito.

- Não posso perder você, não posso - E eu choro, choro como uma criança enquanto deito a testa em sua mão, segurando-a com força.

- Olha para mim menino - Levanto a cabeça. Anne está rindo, por que ela está rindo? - As minhas orações não eram para que eu fosse curada. Pedi para que antes que eu morresse, você estivesse feliz e Deus me ouviu. Você encontrou o amor, vai formar sua família e sei que ela cuidará bem de você.

- Mas eu...

- Não discuta comigo Ethan. - Ela acaricia meu rosto, olhando para ele todo e por fim, meus olhos. - Pode não ter nascido de mim, mas sempre será meu filho. Prometa para mim que cuidará bem dos três?

- Três? - O número dos batimentos cardíacos começam a abaixar, fazendo o desespero dentro de mim crescer. - Não, não...

- Eu te amo, seja eternamente feliz meu menino.

- Te amo, mãe. "

Jogo a primeira rosa dentro do túmulo.

Obrigada por tudo, mãe.