#15 - Vitoriosa

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#Lanna

Respirei fundo me preparando para o que viria com o corpo em cima de mim. Eu precisava relaxar e pensar. Minhas pernas se dobraram enquanto eu tentava me encaixar melhor para escapar daquele golpe.
— 10...9...
Parei ao ouvir o juiz contando e ergui o quadril para desequilibrar o corpo da lutadora que me forçava contra o chão. Antes da contagem terminar eu voltei a ficar de pé encarando Emilly Lee. Ela atacou com chutes ao qual defendi então devolvi um chute a levando ao chão e ela não levantou mais, reclamando de dor onde a acertei. O juiz deu a luta por encerrada onde mais uma vez fui a campeã.
— Parabéns pela luta, você arrasou.  — Karina disse quando veio me abraçar.
— Obrigada, admito ter sido um pouco difícil.
Ela estava passando todo seu tempo livre ao lado de Pietro e ele fazia o mesmo, a felicidade do meu amigo era nítida e a forma como ele estava se envolvendo com Karina era nova, ela parecia diferente de todas as outras meninas que ele se envolveu, eles pareciam estar em algo promissor, e eu torcia para que desse tudo certo entre eles assim como estava acontecendo comigo e com Julian.
No final da noite fizemos outro passeio e terminamos a noite num cinema drive-in assistindo pela parte de trás da caminhonete de Julian. Na metade do filme Pietro e Karina acharam melhor assistir de dentro do carro dele, mas eu tinha certeza de que eles não estavam interessados no filme, eu também não já que não conseguia para de beijar Julian.
― Preciso voltar para onde estou hospedada, meu ensaio começa mais cedo amanhã. — Karina disse aparecendo ao lado de Pietro.
Nos despedimos deles e não podia negar o quanto estava cansada também, o que foi confirmado com um bocejo.
— Podemos ir também se você quiser.
— Eu quero, estou exausta. Hoje foi um dia duro.
— Sei a maneira certa de te fazer relaxar. — Julian sorriu de uma maneira secreta e se afastou pegando minha mão, seguindo de volta para o caminho do hotel.
Subimos direto para seu quarto, eu estava passando mais tempo lá do que no que dividia com Pietro. Nossos momentos estavam sendo perfeitos, isso se eu não pensasse nas milhares de mensagens que Julian recebia tarde da noite, mas eu não queria ser a namorada ciumenta e ele era sempre bastante ocupado. Mandy podia estar só atualizando ele.
— Sente-se aí, eu tenho a coisa perfeita para você.
Julian tirou a blusa e foi ao banheiro enquanto eu me sentava, voltou com um vidrinho verde sentando-se atrás de mim. Me livrei da jaqueta e da regata ficando só de top, deixando as costas livre para que ele pudesse massagear. Ele tinha mãos ótimas e estava relaxando todos os meus pontos doloridos.
— Onde você aprendeu isso? — Sussurrei de olhos fechados inclinando o pescoço para que ele prosseguisse.
— Ah, eu passei por isso muitas vezes. Sei exatamente o ponto que chega a doer e para sua sorte, eu estou bem aqui.
— Sim, você está.
Sorri e deixei que continuasse até sentir sua boca no meu ombro enquanto suas mãos deslizavam por meus braços, ele continuou subindo os beijos para meu pescoço, me fazendo sentir seus lábios acariciarem minha pele enquanto seguia a trilha, sua respiração estava ofegante como a minha e seus sussurros faziam com que eu me arrepiasse por inteira.
― Lanna.
Ouvir meu nome em seus lábios foi o bastante para que eu procurasse por sua boca, levando minha mão para sua nuca e puxando seus fios de cabelo enquanto suas mãos me tocavam na cintura me puxando para mais perto dele. Rapidamente eu estava em seu colo, deslizando as mãos por seus ombros enquanto as suas passeavam da minha cintura para minha bunda apertada pelo jeans. Um gemido me escapou e ele me recompensou com uma leve mordida no lábio inferior antes de deslizar seus beijos para meu pescoço novamente.
Eu só conseguia ouvir minha respiração ofegante enquanto meus pensamentos se desfaziam toda vez que sentia os lábios de Julian contra minha pele. Suas mãos tocando meu seio enquanto eu mexia meu quadril sentindo todo seu tamanho. Fiz com que ele tirasse sua própria camisa quando seus lábios tocaram meu mamilo ainda por cima do top, o bico entumecido carente de atenção. Quando gemi mais uma vez ele se levantou comigo ainda em seu colo e sem deixar de me beijar me levou até sua cama, me deitando lá, ficou de pé me observando por um instante e até seu olhar estava faminto quando veio até mim novamente, sua boca indo direto aos meus seios novamente, os tirando para fora do top e sua língua fazendo maravilhas. Eu não podia ficar calada ou parada. Aquilo era o céu, suas mãos apertavam e me deixavam excitada, seus gemidos estava se misturando ao meu e mais uma vez pude sentir sua ereção contra minha coxa, o que me fez despertar de seja lá qual fosse o transe que estávamos envolvidos. Não éramos para fazermos aquilo, não agora.
— Julian...
— Humm... — Ele gemeu em resposta achando que seu nome saiu da minha boca como um pedido e não interceptação.
— Julian, eu não.... Julian pare.
Ele parou de imediato, apoiando as mãos no colchão. Me encarando com desejo e preocupação.
— Tudo bem? — Perguntou.
— Tudo, eu só... Eu não estou pronta pra isso, eu me deixei levar, eu... Desculpe.
— Não, não peça desculpas.
Julian se afastou passando as mãos no cabelo e olhando ao redor, como se não tivesse se lembrando de como fomos parar em sua cama e enfim se dando conta do que estávamos fazendo.
— Droga. Desculpa Lanna, eu não devia ter feito isso.
— Julian. — Suspirei arrumando meu top e indo procurar minha regata. — Pare de pedir desculpas, eu só... Não estou pronta para isso.
Ele assentiu e vestiu camisa sentando-se no sofá e puxando uma almofada para seu colo. Fechou os olhos e respirou fundo umas três vezes.
— Está tudo bem? — Perguntei controlando minha respiração.
— Está. Eu só preciso de um momento. — Suspirou e abriu os olhos corando. Julian estava corando! — Se importa se eu tomar um banho?
— Gelado? — Dei uma risadinha.
— Com toda certeza. Eu não demoro.
— Está tudo bem. Eu te espero aqui.
Ele assentiu e se levantou deixando um beijo em minha testa, correndo para o banheiro. Mas eu não o esperei, assim que ouvi a água do chuveiro meu coração acelerou me fazendo lembrar de seus lábios em minha pele e saber que ele estava nu no banho não ajudava minha imaginação. Eu quem estava corando agora. Decidi que a melhor coisa era me afastar, sim era a coisa certa no momento, então peguei minha jaqueta e saí dali.
Ao chegar em meu quarto encostei na porta atrás de mim e fechei os olhos respirando mais aliviada. Quando abri os olhos Pietro me encarava com um pedaço de sanduíche a caminho da boca.
— O que houve?
— O que está fazendo aqui?
Perguntamos em uníssono. Pisquei e me afastei da porta tentando parecer normal.
— Achei que você estaria com a Karina.
— Eu só a levei até o hotel, vai precisar acordar cedo amanhã. O que você tem? Está estranha.
— Nada, hum, eu... Estou normal. — dei de ombros indo para minha mala pegando algumas roupas. — Vou tomar um banho.
Pietro assentiu voltando a comer. Demorei vinte minutos exatos no banho, meu celular tocou três vezes e eu sabia quem era. Ao sair do chuveiro só confirmei. Julian. E então algumas mensagens dele.
Julian: Me desculpe, por favor. Eu não queria que as coisas acontecessem assim.
Julian: Você foi embora! Precisamos conversar, eu não queria assustar você, amor.
Julian: Lanna, atende. Preciso saber se você está bem.
Senti o aperto no peito e fechei os olhos enquanto apertava a toalha no corpo, sentei-me na beirada da banheira e liguei para ele.
— Amor, desculpa...
— Julian, só pare. Não precisa pedir desculpas, você não fez nada de errado.
— Por que foi embora? Achei que poderíamos conversar sobre o que aconteceu. Eu só precisava... De um banho frio.
— Eu estava bem, ia te esperar sair e então não estava mais. Se eu continuasse aí, não íamos parar mais.
— Eu não faria nada que você não quisesse. Não precisa fugir de mim.
— Não fugi de você, Julian. E é exatamente isso, eu iria querer tudo, mas não é o momento. Não estou pronta. Não há nada de errado com você, sou eu...
— Não há nada de errado com você também. Não diga isso. Olha, — Pude ouvir ele respirar fundo — Talvez nós tenhamos ido com muita pressa e não precisamos.
— É, acho que podemos ir com calma, eu só não... Podemos esquecer isso um pouco e conversamos melhor depois, ok?
— Sim, claro. É melhor descansar. Você tem treino e uma grande luta sexta feira.
— Sim, é verdade. — Revirei os olhos ao lembrar que lutaria com Brienne. — Nos vemos amanhã.
— Ok, boa noite amor, eu... — Julian ficou mudo por alguns segundos e então coçou a garganta. — Eu vejo você amanhã.
— Boa noite, amor.
Sorri ao ouvir a risada dele antes de encerrar a chamada. Me vesti e fui direto para cama só para deitar e encarar o teto.
— Lanna? ― Pietro chamou.
— O quê?
— Vocês transaram?
Rapidamente me sentei encarando meu amigo que retribuía com olhos arregalados e irritadiços.
— O quê? Pietro você está louco?
— Eu reparei como você chegou; você tem chupões no pescoço e agora está suspirando encarando o teto. O que houve entre vocês?
— Você acha que pode se intrometer nas minhas intimidades desse jeito?
— Eu não acredito que ele fez isso! Não acredito que vocês...
— Não diga mais uma palavra se não quiser que eu quebre sua cara!
Nos encaramos fixamente por longos segundos até ele suspirar e baixar a cabeça.
— Estou preocupado com você.
— Está passando dos limites, eu sei muito bem o que faço com Julian, e se nós transamos ou não, não é da sua conta!
— Lanna. Não acha que podem estar indo rápido demais?
— E você achar isso te dá o direito de se intrometer?
— Não, Lanna, porra. Estou tentando cuidar de você, dá pra entender? Vou continuar fazendo isso enquanto eu não confiar em Julian, você gostando ou não. Então me desculpe se estou me intrometendo demais em sua vida. Mas não dá para dizer que não foi avisada.
— Avisada do que?
— Que ele pode estar com você agora por que você é novidade? Que você é linda demais para ser enganada e usada por ele? Não sei, podem ser muitas coisas!
Levantei fechando os punhos e me afastei indo para o sofá de nossa antessala. Ele estava falando igualzinho meu pai. Não respondi quando ele me chamou e o ignorei quando ele se sentou a minha frente me encarando.
— Lanna, desculpe. Eu só estou tentando te proteger.
— Já passou pela sua cabeça que você quer me proteger demais? Como pode dizer essas coisas para mim, me proteger, se tudo o que disse para mim, é o que você faz com as garotas que conhece? É a mesma coisa que está fazendo com Karina!
— Não é nada disso!
O encarei com uma sobrancelha arqueada. Ele passou a mão no rosto todo exasperado.
— Não é culpa sua eu não gostar dele...
— Você bem que pagava um pau antes de conhecê-lo.
— Exatamente. Eu não o conhecia. E depois disso passei a não gostar. Não consigo confiar, não depois de tudo que aconteceu.
— Mas quem decide como viver a minha própria vida sou eu, Pietro.
— Eu sei, Lanna, só me desculpa, tá legal? Não vou deixar de me preocupar e querer cuidar de você. Mas posso não me intrometer mais dessa forma.
— Eu entendo você, Pietro. Entendo de verdade. Mas está tudo bem, eu estou bem. Estou bem com ele.
Pietro assentiu e ficou olhando para as mãos com nervosismo.
— Não estou brincando com Karina. Tem algo em nós, sabe? Não sei explicar, mas ela é diferente. Não estou brincando.
— Eu sei. — disse após suspirar profundamente. — Você está diferente, parece algo promissor. Desculpe sugerir que...
— Esquece isso, por favor, vamos esquecer essa discussão idiota.
— Err, vamos.
Sorri e nos aproximamos na mesma hora para um abraço apertado.
— É melhor irmos dormir, levantamos cedo amanhã também.
— Vai lá, eu vou ligar em casa antes de me deitar.
Ele me deixou um beijo antes de voltar para sua cama enquanto eu discava o número de casa, meu pai demorou a atender.
— Alô? — Pude ouvir a voz rouca e embriagada do pai.
— Pai, sou eu. Está tudo bem por aí?
— Está tudo bem. Onde você está?
— No hotel. Resolvi ligar antes de dormir, posso falar com a mamãe? Ela está acordada?
— Se estivesse em casa, você saberia, mas não...
— Mas não estou pai, estou a menos de duas horas apenas, e daqui a pouco a semana acaba e estarei em casa, então eu posso, por favor, falar com a minha mãe?
— Menina impertinente, egoísta, ingrata... Lilian!
Ignorei os xingamentos para não me aborrecer, mas a voz da minha mãe iluminou tudo isso.
— Minha menina, que saudade de você. Como está indo?
— Duas vitórias. Difíceis, mas eu consegui.
— Estou tão orgulhosa. Traga essa medalha para casa. — Minha mãe deu uma série de tosses antes de voltar a falar. — Desculpe. Como está a equipe?
— Estamos todos indo bem, só uma baixa na equipe. Mas eu quero saber de você. Como está indo nesses dias? Rita está em casa o tempo todo, certo?
— Está tudo bem, querida. Não precisa se preocupar. Rita está fazendo o trabalho com perfeição.
Respirei fundo e balancei a cabeça de olhos fechados mesmo que minha mãe não pudesse ver.
— Eu sei quando está mentindo, mamãe. O que aconteceu?
— Querida, quando você chegar nós conversamos sobre tudo, não quero te sobrecarregar.
— Agora eu vou ficar imaginando coisas! O que aconteceu mãe?
Pietro entrou na minha frente gesticulando a pergunta do momento. Estava tudo bem? O que tinha acontecido?
— Alguns efeitos colaterais dos remédios, nada novo. Você realmente não precisa se preocupar, eu quero você bem e focada para ganhar sua próxima luta.
— Estarei em casa no domingo à noite. Rita vai te ajudar com esses efeitos colaterais certo?
— Querida, eu espero que não esteja comendo nada agora, mas são só vômitos após a refeição. Estamos mudando a dieta para alimentos menos sólidos. Eu vou ficar bem.
Alimentos menos sólidos na situação da minha mãe podia muito bem significar dieta por sonda, o que era ruim de todas as formas se os nutrientes não ajudariam em nada. Seu estado nunca iria melhorar, apenas piorar. Sufoquei o soluço ao pensar naquilo.
— A qualquer momento eu volto para casa, estou falando sério.
— Eu estou bem, meu amor. Amo você.
— Também amo você mãe.  Te vejo em breve.
— Ganhe a próxima luta querida, estarei com você.
Sorri e acalmei Pietro após encerrar a ligação. Estava tudo bem. Então por que algo dizia que não estava?
No dia seguinte eu estava me encontrando com a equipe no ginásio, Martin estava passando alguns exercícios antes das pessoas chegarem e assistirem o evento. Julian ainda não havia chegado. Não conversamos muito pela manhã, ele só me deu bom dia e fez uma ligação para seu irmão se afastando. Eu sabia que algo de ruim estava acontecido, mas ninguém saberia me dizer o que, e Julian não estava compartilhando tudo comigo. Ele não apareceu quando minha luta foi anunciada, mas eu tinha coisas melhores para me preocupar.
Brienne estava me encarando do outro lado do ringue. Eu tinha assistido algumas de suas lutas durante a semana e era difícil não notar a mudança no comportamento dela dentro do ringue, não que ela fosse uma lutadora ruim. Eu podia jurar que ela estava sorrindo para mim daquele jeito maldoso, então eu fiz o mesmo esperando que ela avançasse. Seus golpes realmente estavam ainda melhores, mas eu a superava em agilidade então foi fácil desviar, o que a deixou ainda mais insistente, então Brienne avançou sem me dar espaço para atacar. Me afastei e girei pela lona procurando alguma forma de poder atacar.
O momento surgiu e a golpeei nas costelas com um chute e montei nela em seguida que se fechou em uma concha. Desci meu punho tentando abrir sua guarda, mas ela foi mais rápida em inverter nossas posições. Ela sentou em minha barriga e levantei os braços para proteger meu rosto enquanto sentia seus socos me atingirem sem descanso. Com mais golpes e o fim do round o juiz nos separou dando um tempo para falarmos com as equipes. Martin rapidamente levou uma toalha molhada e água para mim examinando meu rosto.
— Você está bem? O que houve ali?
— Não sei, ela nunca lutou assim.
— Eu não achei que vocês um dia seriam adversárias assim, mas precisa ter mais foco, Lanna. É a última luta.
— Quem é aquela? — Perguntei olhando a mulher morena que analisava Brienne e parecia dar ordens enquanto a loira assentia.
— Audrey, é a treinadora de Brienne.
Franzi o cenho e coloquei o protetor bucal novamente quando a buzina soou. Eu havia esquecido de perguntar ou procurar por Julian, eu não o tinha ouvido na narração ou visto ele pelo telão, mas eu estava concentrada na luta então poderia ter perdido isso.
— Foco, você vai vencer essa luta e ir para as estaduais. E o CF.
Assenti e deixei meu mestre apertar minhas luvas rapidamente antes de voltar ao ringue. Brienne reagiu com pressa tentando me acertar, mas me defendi bem assim como nos outros. Avancei com um cruzado já a puxando para uma joelhada, ela tentou escapar me puxando para o chão onde tentei realizar uma chave de braço, mas ela conseguiu espaço para escapar e me prender num quase mata leão, eu dificultaria ao máximo que ela concluísse o golpe.
Enquanto tentava passar meu braço por seu aperto meus olhos se focaram na silhueta fora do ringue. Julian estava com o celular na mão e os braços abertos parecendo exaltado enquanto falava com uma mulher que eu não pude identificar pois seu rosto estava fora da minha visão.
— Ta vendo a mesma coisa que eu, não tá? — Brienne falou, abafado pelo protetor. — Seu príncipe encantado parece estar resolvendo alguma coisa importante. Ele te falou que estávamos resolvendo assuntos sérios de manhã?
Não queria deixar aquilo me afetar e tentei escapar mais uma vez, mas ela apertou ainda mais segurando minhas pernas com as suas. Estávamos as duas ofegantes querendo apenas uma coisa. Vitória. E ao que parecia Julian também. Energizada pela raiva consegui escapar e levantamos ainda bem próximas, contra-ataquei Brienne girando o corpo e acertando um chute nela que caiu sem reação.
Fiquei com a guarda ofegante observando minha ex-colega de equipe no chão enquanto a examinavam. Eu a tinha nocauteado. Mais um para minha conta. Fui anunciada como campeã do torneio e assim que me recuperei com um pouco de água e gelo as pessoas estavam ao meu redor. Como era a última luta feminina do campeonato, a equipe da rádio me encontrou, assim como alguns fotógrafos da liga seguidos por Julian. Ele sorriu para mim, mas só fiz o encarar e engolir seco, precisava de algumas respostas, e ele me daria. Mais tarde.
— Foi uma grande Vitória, e uma trajetória impressionante até aqui Lanna. Esse ano tivemos lutadoras com muito a oferecer, mais focadas e você chegou na final, com uma vitória por nocaute. Com essa oportunidade da rádio você terá muitos fãs, como podemos te chamar daqui pra frente? — A entrevistadora falou rápido demais, arrancando-me uma risada nervosa.
— Bem, eu me preparei muito para isso, especialmente este ano, então eu não sairia daqui sem a vitória para continuar nos estaduais — Sorri novamente e passei a mão no ombro com nervosismo. — E a galera pode me conhecer por Lanna Thunder, é um bom começo.
— Oh, A Garota Trovão. Ótimo recado. — Ri surpresa pela dedução da mulher e assenti em resposta. — Eu particularmente gostei muito! Espero nos ver em breve Lanna.
Me despedi dela e pulei nos braços da minha equipe que comemoravam. Pietro também foi campeão na ala masculina, mesmo tendo que lutar com Bruce. O único momento que eu fiquei perto de Julian novamente foi quando nos entregaram medalhas e algumas graduações para que o evento fosse ainda maior com Julian entregando as faixas para os lutadores. Então ele só tocou meu braço e se afastou.
— Eu tenho muito o que agradecer por vocês serem uma equipe tão maravilhosa. Chegamos ao final de mais um campeonato, com algumas baixas, sim, — Martin disse erguendo seu coquetel de frutas para seus alunos, olhou para Eddie que assentiu dando de ombros. — Mas chegamos bem no final, com todos alcançando seus lugares.
Estávamos todos no restaurante do hotel agora. Eddie tinha torcido o tornozelo ao dar um chute lateral mal planejado em sua primeira luta. Mas eu tinha a impressão de que Martin não falava só dele. Estávamos todos ali, exceto Brienne. Querendo ou não, depois de três anos sempre juntos sentiam falta dela. Não eu.
— Voltaremos para casa com mais algumas medalhas e mais motivos para se orgulhar. Não quero ver ninguém desistindo de nada aqui e sei que podem chegar onde quiserem. É só persistirem pessoal. Agora podem beber essa merda!
A equipe toda gritou e riu por Martin falar daquele modo. Viramos nossas própria bebidas sem álcool, é claro, e comemoramos um pouco com abraços. Pietro se aproximou minutos depois colocando seu casaco.
— Podemos ir?
Olhei ao redor do restaurante procurando por Julian, mas ele não estava presente. Não tinha estado presente o dia todo e nem na comemoração da equipe que ele ajudou a treinar por meses, algo estava muito errado.
— Sim, vamos, não podemos nos atrasar. ― Sorri para Pietro seguindo para fora do hotel.
Karina tinha uma apresentação aquela noite e iríamos assisti-la. Saímos do hotel e Pietro dirigiu até o centro de esportes onde aconteceria a apresentação. Assistimos uma apresentação antes de Karina entrar. Não era solo, e Karina e seu parceiro começaram a dança separados. Ao som de Too Good At Goodbyes, eles começaram os movimentos sincronizadas deslizando no gelo, Observei tudo com fascinação, assim como Pietro, todos os movimentos e voltas feitos com perfeição e tantos giros, me perguntei como eles conseguiam voltar a patinar sem ficarem tontos e ainda rodopiarem no ar após tudo. Mas eram profissionais, os melhores da categoria pelo que Karina nos contou. Ela era a melhor tanto no dueto quanto em solo, e uma das três de seu país que tinha a carreira assim, era muito compromisso para manter aquilo tudo, pensei, assim como manter a faculdade e as lutas em conciliação. Karina não conseguiu, teve que fazer uma escolha.
— Mas no final não importou.  — Karina disse na noite passada. — As duas opções me fariam feliz, eu escolhi apenas a que me faria mais feliz. Você pode fazer sua faculdade depois, ou escolher um curso que pode fazer a distância. Faculdade não é algo que deve te prender, já não é há um bom tempo, Lanna. Então se quer lutar, lute.
Pensei muito naquilo. Eu só estava na faculdade pelo combinado com minha mãe, mas desde que eu me dedicasse por completo na luta e me tornasse boa para conseguir me realizar estava bem. Só era difícil conciliar tudo. E se entrasse para o Control Fight (CF), o projeto de Julian, estaria com o tempo mais apertado ainda.
Os aplausos e assovios quando a apresentação terminou me chamaram de volta para a realidade. Pietro sorriu todo contente pelo que tinha visto. Assistimos as outras apresentações assim como a solo de Karina, que mais uma vez encantou a todos, e arrancou risadas com seus gestos pela música Señorita. Meu celular vibrou indicando uma ligação. Julian.
— Oi.
— Oi, onde você está? — Ele perguntou e ao fundo pude ouvir barulhos de carros e buzinas.
— No centro de esportes com Pietro, Karina está se apresentando.
— Ah, claro, eu esqueci que vocês iam. Posso passar aí para te pegar? Não nos falamos muito hoje.
— Você sumiu. ― Acusei enquanto as pessoas gritavam por mais uma apresentação. — Não nos falamos muito hoje porque você sumiu. Eu não quero ser a namorada grudenta, mas achei que nos veríamos e iríamos conversar hoje de manhã.
— Eu sei amor. Algumas coisas aconteceram e precisavam da minha atenção, não te avisei ou expliquei por que mal mexi no meu celular e eu não queria atrapalhar seu treino.
— Algumas coisas precisavam da sua atenção, como Brienne? Você estava com ela hoje de manhã?
— O quê?
— Ela me falou. E eu não acho que foi só provocação, por que ela iria continuar dizendo essas coisas sabendo que poderia ser desmentida com facilidade?
Eu já estava fora das arquibancadas, saindo do ginásio. Tomei uma lufada de ar e falei uma última vez com Julian.
— Não sei o que aconteceu hoje, eu tento te dar espaço para resolver suas coisas porque sei que sua vida é corrida, mas eu não quero mentiras entre nós.
— Não há mentiras, amor.
— Você estava com ela hoje de manhã, então?
— Ela foi ao meu quarto hoje, sim. — Ele demorou, mas contou. — Eu tive que resolver algumas coisas hoje pela manhã e começo da tarde que não podiam ser adiadas.
— O que ela foi fazer no seu quarto?
— Lanna, nós podemos conversar sobre isso pessoalmente? Não foi nada demais, eu juro, mas eu acho que estamos começando uma briga e não é o que eu quero para nós.
— Eu também não quero brigar, mas odeio que você esconda isso de mim.
— Não vou esconder mais nada, só não quero brigar com você. Posso te pegar aí?
— Estou te esperando do lado de fora.
— Chego em cinco minutos.
Mandei mensagens para Pietro informando que estava de saída. Ele me pediu para deixar o quarto livre aquela noite o que só me fez revirar os olhos. Exatos cincos minutos depois de encerrar a ligação, Julian chegou, ele não precisava, mas saiu do carro e veio até mim, puxando-me para perto e me beijando, vorazmente com sua mão em minha nuca mantendo minha cabeça no lugar enquanto me tinha em seus braços.
— Eu senti muita saudade hoje, e realmente não quero brigas, por nada.
— Eu posso dizer o mesmo, Julian. Parece que temos que trabalhar mais o assunto confiança.
Ele assentiu e beijou minha testa com carinho, abriu a porta do carro para mim e seguimos para o hotel.

Thunder - Lutar é Preciso [LIVRO 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora