#21 - No Caminho Certo

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#Lanna

Peguei a garrafa de água que Pietro estendeu para mim quando nos juntamos em círculo no centro da academia para ouvir Martin. O treino havia sido agitado, não por minha volta, mas pelo aparecimento do meu pai na academia e um possível confronto entre ele e Julian, e eu estava curiosa demais para saber o que haviam dito um ao outro.
— Esta semana encerraremos com chave de ouro, entraremos em uma nova fase segunda-feira. Lanna, Pietro, Bruce e Kyle estarão juntos conosco nos Estaduais e ainda estarão treinando com Julian, Austin e Cole numa bela produção. Será puxado, diferente e irá pedir muito deles, mas eles lutaram para estarem lá, literalmente. — Todos deram risadinhas. — Isso significa que qualquer um pode chegar lá, quero ver cada um de vocês crescerem muito mais, ganhando nomes, reconhecimento, eu sei que vocês podem!  Por hoje encerraremos por aqui, mudando nossas rotinas, serão treinos todos os dias, quem não puder vir de noite, venha de dia, no horário que puderem, mas foquem num objetivo pessoal. Posso contar com vocês?
— Sim, mestre! — Todos falamos em uníssono terminando com aplausos.
— Estão dispensados.
Aos poucos pegamos nossas coisas e fomos saindo, após um abraço apertado em Pietro e Martin, saí com Julian, sorrindo enquanto ele pegava minha mochila e jogava sobre o ombro assim como seu paletó.
— É estranho ver você vestido assim. — disse entrando no carro após ele abrir a porta.
— Eu concordo, não vejo a hora de tirar isso e tomar um banho. O que você quer comer?
— Eu não sei. Comida tailandesa?
Julian fez uma caretinha, mas riu assentindo já puxando o celular para fazer o pedido.
— Vamos para casa Phillip. — disse ao motorista.
— Boa noite Phillip.
— Boa noite senhorita Bower.
Sorri acanhada e me aproximei de Julian, ele passou o braço por meus ombros e ficou acariciando uma mecha solta do meu cabelo enquanto detalhava o pedido. Não demorou muito para que chegássemos, Phillip retirou a mala de Julian e subiu atrás de nós. Não deixei de notar que o porteiro de costume já não estava em seu lugar habitual e em nenhum outro. Quando perguntei a Julian ele apenas suspirou e balançou a cabeça.
— O síndico teve um veredito após a votação dos moradores depois de minha queixa, ele já estava pisando na bola há um tempo, então foi demitido.
Apenas ergui as sobrancelhas e assenti levemente, bem, se havia tido uma votação e o porteiro já havia pisado na bola, quem eu era para julgar? Julian abriu a porta para mim após sairmos do elevador em seu andar e se virou para Phillip pegando sua mala.
— Pode aguardar o entregador? Após ele trazer a comida vocês estão dispensados, vou sair com o carro, mas dirijo sozinho. Nos encontramos amanhã cedo.
— Sim, senhor. Boa noite. — Phillip se despediu olhando para nós.
Julian fechou a porta atrás de si e deixou sua mala num canto antes de se juntar a mim na sala de estar. Ele me abraçou por trás e me ergueu do chão me fazendo gritar em surpresa, sob meus pés novamente ele me virou e aninhou meu rosto em suas mãos levando os lábios aos meus. Eu não podia descrever o prazer que sentia por estar em seus braços e beijar sua boca, a saudade que senti era imensa e me castigava mentalmente por tê-lo afastado acreditando por pelo menos um pouco no que sua ex disse a mim naquela mesma sala. Com esses pensamentos interrompi o beijo e me afastei um pouco o olhando nos olhos, sorrindo, tocando sua barba rala.
— Senti saudade.
— Eu também, amor.  — Julian acariciou meu rosto levemente.
Ele me levou até o sofá e sentou comigo entre suas pernas massageando meus ombros.
— Como foi hoje? — Perguntou.
— Corrido, mas produtivo. Estou mais interessada em falar sobre você e meu pai. O que conversaram?
Julian suspirou e me virei para encara-lo.
— Falei para ele sobre minhas intenções com você e até onde iria pra ficar contigo e ver você bem. Da pra perceber que ele não é muito fã da ideia, disse que quer o seu melhor e não quer que eu parta seu coração, não quer que eu a machuque.
— Ele disse?  — Julian assentiu.
— Disse também que eu deveria tomar cuidado com a sua imagem, pelo que fazemos, e o que pode acontecer com tanta exposição. Senti como ele se preocupa com você Lanna.
Desviei o olhar pensando sobre aquilo, Julian segurou minha mão e beijou meu ombro.
— Eu vou cuidar de você. Não vou deixar nada mais ficar entre nós ou nos atrapalhar. O importante é estarmos juntos, certo?
Emocionada toquei seu rosto e me inclinei para beija-lo. Julian me puxou para mais perto e fez com que eu sentasse sobre ele enquanto se recostava no sofá espaçoso, suas mãos deslizando pelo meu corpo. Não imaginei que poderia estar tão feliz quanto agora em um bom tempo, mas Julian me causava isso, e eu não o perderia. Me afastando o olhei nos olhos respirando fundo para começar a falar o que tinha planejado.
— Sinto muito por ter te afastado todas aquelas vezes e agora nessa última. Senti meu mundo desmoronar em tão pouco tempo. Eu só não enxergava tudo de bom que estava na minha frente, não sabia como aproveitar as coisas boas em minha vida, todas elas sempre foram arrancadas de mim.
— Nada, vai me fazer te esquecer ou parar de lutar por você amor. Eu te quis no primeiro momento que te vi, e te quero ainda mais agora.
— Eu também, não vou deixar nada mais entre nós. Eu só quero você Julian, quero você em minha vida, porque me faz feliz, e eu acho que não sei mais como viver sem você. — Disse ofegante.
— Eu jamais vou deixar você, Lanna. Jamais. Eu amo você.
— Eu... Eu também amo você, Julian.
Ficamos nos olhando, absorvendo as palavras. Aos poucos Julian foi abrindo um sorriso e acariciou meu rosto.
— Lanna, eu... Amor...
— Não seja bobo. Sabemos que isso era só questão de tempo.
Mesmo assim ele riu e me puxou para perto comemorando comigo nos braços enquanto eu me deliciava com sua risada.
— Eu prometo te fazer muito feliz.
— Você já faz. — disse baixinho o olhando docemente. — Eu amo você.
Julian sorriu e me beijou mais uma vez antes de ser interrompido pelo interfone. A comida havia chegado. Enquanto ele pegava pratos e o necessário para jantarmos. Após o jantar sentamos de frente ao sofá assistindo a reprise de um filme enquanto comíamos a sobremesa. Sentada entre as pernas de Julian enquanto ele me abraçava e apoiava o queixo em meu ombro. Vez ou outra afundando o rosto em meu pescoço para sentir meu cheiro.
— Você tem que parar com isso, não tomei um banho depois do treino.
— Não importa, você continua cheirando bem pra mim. Eu senti saudades.
— Eu também. — Me virei para ele. — Quando você viaja novamente?
— Não por agora. A partir de semana que vem estarei com os rapazes trabalhando no projeto, há questões de marketing e algumas entrevistas as quais vocês terão que participar também, mas estarei por aqui até tomarmos grandes proporções e sairmos daqui.
— Como assim?  — Perguntei confusa.
— Logo mais as viagens começarão. A cidade central já foi escolhida.
— Você pode estar falando comigo sobre isso agora?
Julian me olhou como se tivesse dado conta somente naquele momento, ele passou a mão em meus braços e beijou minha testa.
— Não deveria. Não quis te assustar, tudo será explicado melhor antes de assinarem o contrato. Eu me empolguei um pouco.
— Não imaginei tantas viagens.
— Não serão tantas, não precisa se preocupar.
Assenti mordendo o lábio. Terminamos a sobremesa e juntos limpamos as coisas. Estávamos em um bom momento e foi bom deixar as coisas claras. Tudo seria diferente dali para frente.
— Eu preciso ir, está ficando tarde.
— Seu pai disse que te esperaria acordado. — Julian deu uma risadinha beijando minha testa. — Só vou pegar uma blusa e te levo em casa.
— Obrigada.
Julian não demorou muito a voltar, vestia um moletom preto e estendeu outro para mim alegando estar frio. A vesti sem reclamar, a roupa continha o cheiro de Julian e eu duvidava que um dia iria devolver a peça. Quando o carro parou em frente à minha casa, Julian apertou minha mão e levou aos lábios dando um pequeno beijo.
— Eu estarei na academia amanhã, dá pra aguentar. — disse com risadinhas.
— Até lá eu morro de saudade.
Sorri com Julian todo carinhoso, toquei seu rosto e me inclinei para beija-lo, o abracei apertado e me arrepiei com a barba arranhando meu pescoço.
— Tenho que ir. Boa noite, te amo.
— Eu nunca vou me cansar de ouvir isso, Lanna. Também amo você.
#2 semanas depois.
Tentei manter o protetor bucal enquanto minhas mãos estavam ocupadas. Minhas costas pressionadas contra a grade do ringue em que estava. A outra lutadora era pesada e já estava me sufocando. Era quase o fim do segundo round e eu não estava confiante de que passaria dali. Os estaduais era um sonho que eu tinha de poder participar e agora em minha segunda luta estava deixando tudo escapar. Não conseguia pensar e montar uma estratégia ou escapar do golpe de Rhuana, minha adversária. Ela perdeu um pouco o equilíbrio o que facilitou para eu poder sair e voltar ao centro do ringue, manter a guarda e esperar para atacar novamente. A ameaça de um chute foi o suficiente para que eu conseguisse manter a luta até o sino tocar e ir ao banco, derramando água no rosto, bebendo o que podia e ouvindo o que Martin falava, Julian também estava ali, passando-me a toalha e ajudando.
— Lanna! Você está bem? 
Pisquei e o olhei para meu mestre que queria minha atenção.
— Estou, eu... Só preciso pensar, ela é muito rápida.
— Você pode ser mais. O tempo todo ela está te levando ao chão ou te prendendo na grade. Você é boa com os golpes, não permita que ela se aproxime demais e aproveite seu campo esquerdo, é onde ela deixa mais vulnerável.
Assenti e coloquei o protetor novamente, Julian me olhou nos olhos e beijou minha testa. Não precisava que ele me dissesse nada. Só precisava acabar com aquela luta e ir ver meu amigo, a luta de Pietro seria logo em seguida. Martin havia se dividido em muitos para poder acompanhar todos de sua equipe.
Voltando ao centro, assim que o juiz liberou, andei em círculo observando Rhuana. Um pouco mais alta e mais magra que eu, ela realmente não favorecia seu lado esquerdo, seu ombro estava mais curvado para frente e seu pé não levantava do chão. Ataquei com um Jeb, direto e enfim um chute frontal fazendo com que Rhuana fosse direto para a grade. Não deixei espaço para que ela revidasse. Aproveitando as aberturas entre as defesas dela, me vi tendo que me defender outra vez dando passos para trás, mas agora já sabia como seguir. Na primeira oportunidade levei Rhuana ao chão e lhe dei uma chave de braço. Movimentos rápidos e precisos que fizeram Rhuana bater no chão pedindo pelo fim.
Eu havia conseguido, aquela era a luta a qual me classificava como uma das quais iam para as finais e no caso, campeonato nacional. Estava eufórica demais para sequer conseguir imaginar o que estava por vir, provei o meu melhor e agora muitas portas se abririam, mas agora estaria enfrentando as melhores das melhores também, conquistar um lugar como esse seria mais que incrível. Os prazos coincidiram com os mesmos das lutas do projeto de luta que eu participava, dali há três meses minha vida estaria mudada para sempre, apesar de já ter começado.
Ao final daquele dia todos nos encontramos num restaurante, cheguei depois pois havia ido jantar com meu pai. Nossa relação havia mudado para melhor, algo que eu não poderia explicar. Só queria que minha mãe estivesse ali para ver isso, ou que sempre tivesse sido assim. Meu pai se provara outro homem. Continuava suas consultas com Maia e reuniões do AA e estava evoluindo, não falava mais comigo de mal humor e buscava saber mais de mim. Seu apoio foi sem igual, indo ver meus treinos diários e me ajudando na alimentação ou financeiramente. Havia acompanhado todas as lutas, sempre um dos primeiros a chegar.
Havíamos viajado juntos para São Francisco, local onde as lutas dos Estaduais estavam acontecendo, havia sido uma locomoção grande, mas que valera a pena, dividimos o quarto do hotel e o jantar fora para comemorar minha vitória, não havia um clima pesado mais e eu até consegui fazer meu pai rir algumas vezes, porém a tristeza permanecia ali, a saudade de sua esposa era evidente, ele tentava esconder, mas era impossível.
— Vamos comigo, assim você vê e se despede de todos. Depois vou com você até o aeroporto, pai.
Disse quando arrumávamos a mala, ele precisava pegar um voo de volta para Seattle dali há três horas pois havia conseguido apenas dois dias de folga e deveria ser o suficiente para me ver lutar, estava muito agradecida por isso.
— Não, eu não tenho mais idade para isso. E o voo será cansativo, vou ficar e descansar um pouco.
— Então vou ficar com você.
— Não, Lanna. Vá comemorar com seus amigos, você merece. Só preciso descansar, sério.
Ficamos nos encarando por mais um instante, até eu assentir e ir me arrumar. Mandei mensagem para Julian poder ir me buscar. Quando chegamos ao restaurante, todos já estavam com um copo de alguma bebida na mão. Não havia só a equipe de Martin ali, outros lutadores também frequentavam o local, inclusive Rhuana que acenou de longe com um sorriso leve para mim e um mais sorridente ainda para Julian que a cumprimentou com um balançar de cabeça. Pietro estava enroscado com Karina numa mesa. Esses estavam se encontrando frequentemente e caminhando para algo cada vez mais sério. O que me deixava muito feliz pelo meu amigo.

Thunder - Lutar é Preciso [LIVRO 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora