13. O terceiro verso dos ossos da sereia

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Naquele verão, em que eu tinha 19 anos…

Aqueles momentos que iam e vinham como uma tempestade…

Os doces que ela continuamente atirava em mim… e minhas próprias munições incertas…

Cada uma era um pequeno soldado que lutou pelo mundo.






Manhã. Quatro de outubro. Monte Seoraksan. Meus pés pararam assim que reconheci aquelas árvores. Minha mão tremeu enquanto eu apontava para onde Lisa e eu achamos o corpo do cachorro naquele dia. Ali. Parecia ter passado uma eternidade desde que eu estive naquele lugar, mas… aquela sensação de déjà vu não saía do meu peito.

Prendi a respiração e meu irmão apertou meus ombros ficando de frente para mim.

— Você fica aqui. Eu vou dar uma olhada. — Yohan falou e eu acenei com a cabeça, fazendo ele soltar um suspiro antes de seguir com passos lentos e eu ficar lá paralisada observando suas costas enquanto ele adentrava pelas árvores até o local do túmulo do Pochi.

Lisa.

Justamente como Lisa disse, uma tempestade chegou. É por isso que agora, provavelmente Lisa se transformou novamente em sereia, e se encontrou com as suas amigas do mar da Coreia e todas estão nadando em um mar bem longe daqui.

Sim… Lisa dizia que gostava do mar da África…

Me permiti dar um sorriso triste antes do choque de realidade me acertar mais uma vez.

Seria bom se isso fosse verdade…

Seria muito bom se toda essa história fosse verdadeira…

Cerrei os punhos com os lábios trêmulos.

Eu queria que Yohan chegasse com Lisa nos braços, falando que se machucou quando veio visitar o Pochi, por isso não conseguiu sair daqui. Sim… Eu vim te buscar, Lisa… Eu vim por você…

— Jennie… — Yohan me chamou cortando meus pensamentos, me fazendo limpar uma lágrima teimosa do meu rosto.

Foi quando ergui meu rosto para o encarar e eu vi… uma tristeza avassaladora na expressão dele. Uma tristeza que só presenciei no rosto do meu irmão quando ele veio me contar que o nosso pai havia morrido, há dez anos atrás.

Não. Não. Não.

— Vamos voltar. — Ele falou desviando o rosto. — Uma garota foi cortada aos pedaços. — Meu cérebro não conseguia processar aquelas palavras que saíam da sua boca e por um momento eu achei que estava ouvindo errado. Não, aquilo só podia ser um erro. — Isto… estava em cima do corpo. — Ele me ergueu uma folha de papel ensanguentada.

"Adeus, Lalisa"

A mesma letra torta… a mesma caligrafia...

Não. Aquilo era mentira. Tudo mentira.

Por que o pai da Lisa estava mentindo? Por que Lisa estava mentindo pra mim? POR QUE YOHAN ESTAVA MENTINDO PARA MIM?

— Lisa… — Sussurrei andando até o túmulo do Pochi. Lisa estava lá. Ela estava me esperando. Nós vamos fugir juntas.

Yohan me segurou por trás tapando meus olhos com uma mão enquanto segurava meu braço com a outra.

— É melhor você não olhar. — Ele falou baixo e eu senti sua voz embargada, como se tivesse a ponto de chorar. — Ela é uma garota muito bonita com cabelos dourados e olhos grandes… — Ele continuou e a imagem de Lisa veio na minha mente com todos os momentos em que eu apreciei sua beleza. Desde o primeiro dia em que a vi. As lágrimas caíram descontroladamente. — Mas… neste momento… ela parece horrível.

Entre Balas de Açúcar e Histórias de Uma Sereia. - Jenlisa Onde histórias criam vida. Descubra agora